quinta-feira, 9 de maio de 2013

NA ROTA DA HISTÓRIA: O INTERVENTOR, O PARÁ E A ILHA NOS ANOS 30

Autor: Cândido Marinho Rocha

O ano de 1931 anunciava para o Estado do Pará uma alegre compreensão do povo no sentido de admitir as intenções do não muito jovem tenente Interventor, chegado nas asas da revolução, figura literária perfeita porque desceu em Belém de um avião no dia 11 de novembro de 1930, em companhia de Landry Sales, José Américo de Almeida e Juarez Távora.

O povo recebeu o tenente, paraense da gema, portador da auréola de herói de outras campanhas, com entusiasmo incomum. A esperança era então uma flor sem perfume, mas era bela porque era uma flor.

Instalado no Palácio Lauro Sodré, comprometeu-se o Interventor Federal a recuperar a confiança do povo nos governantes, através do uso de uma constante manifestação da Verdade, expressa corajosamente e representada por fatos e atos governamentais. O povo não estava acostumado a saber de tudo, muito pouco lhe chegava aos ouvidos, em cochichos, muito menos o que se passava lá por cima.

Assim, começou a simpatizar com aquele desaforado soldado, que dizia, de repente, como a coisa era realmente. E dizia em linguagem popular, às vezes usando gíria, expressões comuns, corriqueiras, humorísticas, sarcásticas e violentas.

Ria-se a multidão da forma como o Interventor expunha, em seus discursos, ângulos da administração e da maneira como prometia fazer voltar tudo à normalidade administrativa.

Seus gestos incisivos, sua voz rouca, sua constante comunicação com a gente humilde, como crianças, velhos, doentes, asilados criaram-lhe uma atmosfera de geral simpatia.

Acreditavam todos na sua sinceridade, nos seus propósitos, embora nem sempre concordassem com as medidas que tomava.

Eram-lhe as palavras repassadas de indignação e desprezo pelo passado descuidado e teimoso em que insistiam os oligarcas, que aproveitavam muitas vezes pais, filhos, irmãos, primos, cunhados, sobrinhos, compadres e homens de papel para os acompanhar nos postos principais da vida pública. A cada gesto, a cada discurso do Interventor, respondiam palmas notadamente dos humildes. Apesar das lutas surdas que se instalam em tais ocasiões, tudo corria bem. A esperança marchava à frente dos acontecimentos.

Ainda hoje, ouvem-se os tambores da sua ascensão e o crocitar da sua queda.

Decorria o ano de 1931.

Mais ou menos a mesma esperança acompanhava o povo em geral pelos demais Estados da Federação. O Governo Provisório começava a disseminar uma série de Decretos de conteúdo realmente revolucionário, que visavam a modificar a estrutura social, política e econômica do país e isto representava uma enorme esperança. Havia crise de autoridade antes da Revolução, certa predominância de alguns círculos mais inteligentes, que exploravam sorridentemente os menos capazes.

Não foi, todavia, exatamente para a salvação do humilde e do explorado que se ergueram os chefes, mas, isso sim, para evitar que se prolongasse por mais tempo a política nacional do “café com leite”, isto é, de Minas-São Paulo-Minas, substituindo-a pela do “churrasco-café com açúcar e leite”.

O Pará, onde se dispensaria de pensar em modificações, pois estava de certa forma satisfeito com o seu governante, recebeu os novos homens do lenço vermelho como portadores de mais alta responsabilidade na condução dos negócios públicos.

Os novos governantes utilizavam-se suficientemente da palavra “trabalhador” em lugar de se referirem simplesmente ao homem. Este, em largo e antigo estado de pobreza, largo, antigo e fundo, alegrava-se.

E criou fileiras em torno da nova ordem.

A aristocracia política periclitava. Dava-se lugar à popularização, através das classes. Foi um instante perigoso para o destino do país, transposto por mera coincidência, oriunda de fatos internacionais que colaboraram no sentido de evitar que a terra se tornasse tumultuada. O povo, na ignorância dos acontecimentos políticos internacionais, orientado erradamente no sentido de que “nada temos a ver com os outros”, deixava os dias decorrerem confiantes na operosidade administrativa daqueles felizes anos seguintes à vitória da Revolução.

Os prefeitos, nomeados pelo Interventor, seguiam-lhe de perto a linha de trabalho, procurando melhorar o Orçamento para ampliar frentes novas de operação.

Um prefeito de Belém, de nome Abelardo Leão Conduru, velho veranista mosqueirense, que apreciava passar os fins de semana, a semana santa, os feriados ligados, os dias de carnaval, na calma da Ilha do Mosqueiro, começou a oferecer-lhe melhores atenções. Além do administrador da comuna de Belém, outros revolucionários como Eurico Romariz, Fenelon Perdigão, João Botelho e Lameira Bittencourt também apreciavam as tranquilas praias e remansada vida que a Ilha proporcionava aos veranistas.

A Ilha naqueles tempos quase que se resumia à Vila, onde casas nobres floresciam como as dos senhores Frazão, Comandante Solano, Souza Filho, Inácio Nogueira, Prisco dos Santos, Batista Moreira, Alcindo Cacela, Ó de Almeida e outras menores.

À Praia do Chapéu Virado ia-se em bondinhos puxados a burros, a cavalo ou acionando as próprias pernas.

FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALÂNGOLA EDITORA. Belém-Pa. 1973- pp. 18, 19, 20 e 21.

MOSQUEIRANDO:

O Interventor Federal é o ex-governador do Pará, General Magalhães Barata, mito da política paraense, que, na foto, está sentado ao centro.

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FONTE: MONTEIRO, Benedicto. História do Pará – Editora Amazônia – 2005 – p. 177.

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Um comentário:

  1. “Sem o senso moral, a audácia é a alavanca das grandes aventuras. “ Rui Barbosa
    “O ensino, como a justiça, como a administração, prospera e vive muito mais realmente da verdade e moralidade, com que se pratica, do que das grandes inovações e belas reformas que se lhe consagrem. “ Obs.: Plataforma de 1910. Rui Barbosa
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    "A Democracia é tão livre mas também tão ingênua, que permite aos "pseudos-democratas" acabarem completamente com ela, pelo populismo, autoritarismo ou totalitarismo implantando ditaduras e tiranias! " Autor desconhecido....
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    Senhor, o presente trabalho merece ser divulgado, tenho vsito outros sobre a revoluçaõ de 30, com edição recente, 2011, 2012, 2013, pena que o Congresso Nacional se esqueceu da Ditadrua Vargas, na Comissão da "verdade"....
    "...Os novos governantes utilizavam-se suficientemente da palavra “trabalhador” em lugar de se referirem simplesmente ao homem ... " TRABALHADOR, as esquerdas modernas falam em " POOOOOOOVO "..... sempre em nome dele, mas o eu vemos????? O socialismo, como o comunismo, que na prática é a mesma coisa, NA TEORIA SÃO MARAVILHOSOS.... nfelizmente, quando isntaldos, os cehfes , a direção, a classe previlegiada, a que defeno o POVO, vive nuna boa, e o POVO, "protegido" por essa classe, na pior..... A ESQUERDA CAVIAR... como é bom ser comunista ou socialista no Brasil.... tem até cOMUNISTA QUE É CATÓLICO, É ESPIRITA, ÉR MACUMBEIRO, poooooooode???????
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    ESQUERDAS:
    " Fizeram nos crer que a vitima conta menos que o delinqüente. Que a autoridade estava morta, que boas maneiras havia terminado. Que não havia nada sagrado, nada admirável.” Nicolas Sarkozy
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    “ Deixaram sem poder as forças da ordem e criaram a farsa: “ abriu-se uma fossa entre a polícia e a juventude”. Os vândalos são bons e a polícia é má, como se a sociedade fosse sempre culpada e o delinqüente, inocente.” Nicolas Sarkozy
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    ” Viver sem obrigações e gozar sem trabalhar.” Quiseram terminar com a escola de excelência e do civismo. Assassinaram os escrúpulos e a ética. Uma esquerda hipócrita que permite indenizações milionárias aos grandes executivos e o triunfo do predador sobre o empregador. Está esquerda está na política, nos meios de comunicação e na economia. Ela tomou gosto do poder. A crise da cultura do trabalho é uma crise moral. “Nicolas Sarkozy
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    “ Assinam petições quando se expulsa um invasor de moradia, mas não aceitam que o mesmo se instale em sua casa. Essa esquerda que desde 1968 renunciou ao mérito e o esforço, que atiça o ódio contra a família, contra a sociedade e contra a República. Nicolas Sarkozy
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    “ Defendem os serviços públicos, mas jamais usam o transporte coletivo. Amam tanto a escola pública, e seus filhos estudam em colégios privados. Dizem adorar a periferia e jamais vivem nela.” Nicolas Sarkozy
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    “ A idéia de que tudo é igual: o verdadeira e o falso, o belo e o feio, que aluno vale tanto quanto o mestre, que não se pode dar notas para não traumatizar o mau estudante.” Nicolas Sarkozy
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    “ Não vamos perpetuar a mercantilização de um mundo onde não há lugar para a cultura: desde 1968 não se podia falar de moral.” Nicolas Sarkozy
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