sexta-feira, 26 de abril de 2013

CANTANDO A ILHA: ILHA DE MOSQUEIRO


Autor: Gedson Lidório
 
Uma ilha linda, a mais linda ilha, ilha rainha
Ilha de praias grandes, de Chapéu Virado,
Ilha de camarões, de peixinho ornamentado,
Ilha do tralhoto, dos siris presos nas ocas,
De marés altas e baixas, de raízes suspensas,
Ilha das águas barrentas, das esperanças imensas,
Ilha de água do rio, que tem tudo da ilha do mar,
Que tem mais ainda, água doce, praia linda,
Ondas que bravias nas pedras vêm quebrar!
Ilha de povo bom, do homem irmão,
Ilha do Mosqueiro, o tiro bem certeiro,
Que arrematou meu coração!


Senhor Deus, eu quero agradecer, pelo povo desta ilha,
Pelo pobre, pelo irmão.
Senhor Deus, eu quero te pedir, dê ao pescador queimado,
Tua Palavra Santa, mais conhecimento.
Que possa aquele povo, compreender bastante e novo,
O que é Salvação;
Pois se me tocastes, não o foi tanto por causa do turista rico
Que pelo dinheiro já está consolado...
Me fizestes ver o casebre mal coberto,
O fogão em céu aberto, o chibé mal acabado...
Rostos quase sem esperança, de mulheres, da criança,
Do pescador solitário, que busca seu galardão,
No heróico enfrentar das ondas,
Navegando pra lá de lá, tirando d’água o pão de cada dia,
Que untado com a manteiga do açaí,                                                

Engana um pouco a fome que se adia!


Não! Fizestes q
ue meus olhos de pastor,
Enxergassem o suor, a lágrima, a falta,
O grito de quem tem dor,
A roupa suja e rasgada, o móvel todo quebrado,
O barco, o remo, o motor velho que ronca, a rede bem trançada!
A alma singrando esquecida, em vis correntes amarrada,
Sem garantias de vida, sem vela,                                                    
sem vento, sem  força, sem rumo,
sem paz no coração,
É alma perdida, tomando a morte por vida,
Tomando o abismo por glória,                                                           
Navegando na escuridão!
                                                                                                                       
Senhor, como o dia aqui tem um céu azul,                                    
Que nuvens pude contemplar,                                                          
Que ondas lindas, que praia!!
Oh! Que ilha dos peixes grandes, dos botos, da arraia.
Que cheiro sublime de natureza virgem,
Que linda visão que me causa vertigem,
Que pássaros que esvoaçam, que gralham, que mergulham,
Que ruas de mansões, que cais imenso, que escadas...
Que grandes mangueiras, espalhadas altaneiras,
Que plantas, os musgos, as flores da lama,
O parasita que enrama e é tudo beleza!
Oh, Deus, que natureza!

Lá onde meus olhos não foram, a floresta se emaranha,
Após as águas da baía, numa doce e bela folia,
Animais, pássaros, peixes, de toda sorte e matiz,
Brincam de serem livres, brincam de ser feliz!!
E nos bosques que ainda existem,
Nesta ilha, e nos matos que pude ver,
Vi a aranha terrestre, cuidando da flor silvestre,
Que é para ninguém mexer!
Vi vermes no chão, o macaquinho brincalhão,
O tronco da árvore assassinada,
Na beira da estrada caída
Se fazendo em cinzas, se esvaindo em nada!

Escurecendo... vi a ponte, se erguendo iluminada,
Para traz deixo a cidade,
Saio da ilha abençoada,
Volto para meu formigueiro...
Adeus ilha paraíso, adeus povo bom,
Adeus ilha do Mosqueiro!
                                            
                                            (Mosqueiro, julho de 1986)

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