quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O EVENTO: A ILHA E O FIM DO MUNDO

O dia 21 de dezembro de 2012 está próximo. É a data em que o Calendário Maia, iniciado há 5.200 anos, chegará ao fim. Será o APOCALIPSE? O Fim do Mundo provocado por tempestades solares causadas pela inversão dos polos da Terra e enfraquecimento do escudo do campo magnético?

“A teoria dos físicos modernos em relação às previsões astronômicas feitas através do calendário dos Maias afirma que a Terra passará por um fenômeno chamado de "deslocamento dos polos". Esse fenômeno irá mudar completamente a posição dos polos terrestres num curto espaço de tempo, dias ou talvez algumas horas. Forte, provável que esse fenômeno possa causar um desastre a nível planetário, todos os continentes seriam sacudidos por fortes terremotos, violentos TSUNAMIS inundariam todas as cidades costeiras... Nesse caso, seria a ultima catástrofe jamais registrada antes em toda a nossa história. Mesmo que essa teoria pareça pura ficção, ela realmente possui um fundamento cientifico comprovado. Até mesmo o físico Albert Einstein evocou esse fenômeno no inicio dos anos 50.”

(FONTE: https://sites.google.com/site/21dezembro2012/)

“A notícia, que tem toda a atenção da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, juntamente com a NASA e deixa cientistas de todo o mundo bastante preocupados, é a de que a Terra (e todo o Sistema Solar) começa a atravessar o centro absoluto da Galáxia, também chamada de fenda escura ("dark rift") da Via Láctea,cujo auge será mesmo em torno do dia 21.12.2012.  A fenda é escura porque está cheia de lixo espacial, que consiste desde pedras e pedregulhos, até mesmo asteroides e alguns objetos do tamanho de planetas. Este "racha escuro" é o plano galáctico gravitacional da Via Láctea e esconde as armadilhas desse lixo espacial.”

clip_image002

“Na foto da Via Láctea acima, o astrofísico Alexei Dmitriev diz que as sondas espaciais Voyager-1 e Voyager-2 revelam que o nosso Sol, bem como todo o nosso Sistema Solar, está agora entrando em uma nuvem de energia interestelar poderosíssima. Opher, um investigador da NASA e especialista em heliofísica (estudo do Sol) da Universidade George Mason, diz que esta nuvem de energia interestelar é turbulenta e seus efeitos já estão visíveis nas tempestades solares recordes dos últimos meses.”

“Esta nuvem interestelar de energia elétrica também é absorvida pela Terra e os cientistas descobriram que isso resulta em mais tremores de terra e alterações climáticas desastrosas. Ou seja, tudo o que estamos assistindo ultimamente, mas, como o fenômeno ainda está apenas em fase de aproximação, a tendência por enquanto é só de piorar.”

(FONTE: http://filosofiaimortal.blogspot.com.br/2012_11_01_archive.html)

Na epístola ao rei Henrique II, Nostradamus escreveu:

“Haverá um eclipse solar mais escuro e sombrio do que todos desde a criação do mundo… tanto que parecerá que a gravidade da Terra perdeu o seu movimento natural e que o planeta mergulha no abismo da escuridão perpétua.”

FONTE: http://2012revelacao.weebly.com/nostradamus.html

Ou o Fim do Mundo será provocado pela colisão com NIBIRU, um hipotético, errante e fantasmagórico planeta?

“Os russos não escondem que o chamado Planeta X ou Nibiru como outras abordagens da Terra e suas consequências podem ser catastróficos. No céu, há um novo objeto, uma mancha avermelhada antes só observada por astrônomos, mas depois de maio de 2012 pode ser visto a olho nu.
Esse seria o escuro planeta Nibiru. A probabilidade da existência desse planeta em nosso sistema solar, apenas reconhecido pela NASA em 1982, vem desde os sumérios, 5000 anos atrás. Eles o chamavam de "disco alado" e argumentam que o aparecimento de Nibiru no céu é uma ameaça, causando problemas. “
(FONTE: http://celiosiqueira.blogspot.com.br/2012/06/nibiru-2012-o-planeta-x-esta-vindo-para.html)

Este vídeo mostra o que resultaria de tal desastre:

 

“As revelações apocalípticas de João, presentes na Bíblia católica, afirmam que o fim dos tempos ou o julgamento final está próximo! Porém, não se sabe com precisão quando o fim dos dias vai acontecer. Não existem datas precisas afirmando o momento exato em que o mundo irá realmente acabar, indicando o dia, o mês e o ano. Existem muitos sinais e passagens talvez difíceis de serem interpretadas corretamente.”

FONTE: https://sites.google.com/site/21dezembro2012/

 

Ou não será o Fim do Mundo, mas o dia em que, finalmente, as civilizações extraterrestres se revelarão à Humanidade, iniciando uma Nova Era? Você tem apenas alguns dias para refletir sobre o assunto. Tudo pode acontecer, inclusive... nada! Mas, enquanto você pensa em catástrofes e na existência de vida em outros lugares do Universo, vamos falar da visita que turistas interplanetários (ou seriam exploradores?) fizeram à Amazônia em 1977, com destaque para os avistamentos de OVNIs na Baía do Sol. Assista à entrevista do Coronel Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda sobre a chamada Operação Prato e tire suas próprias conclusões:

 

Se esses turistas espaciais virão à ilha do Mosqueiro ou o Mundo acabará no dia 21 de dezembro não sabemos dizer. O certo é que a Ilha se prepara para receber muitos visitantes durante o réveillon. Antes disso, no segundo domingo do vindouro mês, acontecerá o Círio do Mosqueiro e, com certeza, o povo mosqueirense estará rezando à sua Padroeira, Nossa Senhora do Ó, pedindo-lhe que o mundo não acabe ainda e que, em 2013, seja iniciada uma Nova Era na administração municipal, capaz de proporcionar ao Distrito maior desenvolvimento e qualidade de vida.

PARA CONHECER MAIS DADOS PROFÉTICOS E CIENTÍFICOS SOBRE 2012 E O FIM DO MUNDO, CONSULTE OS SITES CITADOS.

domingo, 25 de novembro de 2012

NA ROTA DO TURISMO: UMA ILHA NO MARAHU

 

Localizada em frente à praia do Marahu, em Mosqueiro, uma pequena ilha rochosa destaca-se na paisagem, tornando-se mais bela e atraente ao alvorecer e ao pôr-do-sol. Afinal, é ali que o rio Pará forma a baía do Sol, onde o astro-rei nasce e morre todos os dias e, nos tempos longínquos, recebia o culto dos tupinambás, em agradecimento pela fartura de peixes, de caças e de frutas que a Natureza lhes oferecia. A ilha das Guaribas, como é conhecida, sempre foi um lugar misterioso para quem, ao longo do tempo, a observa a distância ou dela se aproxima movido pela curiosidade. Assista ao vídeo enviado por sandro89566 em 29/10/2010 e, para conhecer o mistério que envolve a ilha, leia, neste blog, a lenda “As Guaribas”.

PESQUISE NESTE BLOG:

“AS GUARIBAS”

:http://mosqueirando.blogspot.com.br/2011/09/mosqueiro-lendas-e-misterios-as.html

sábado, 24 de novembro de 2012

EVENTO RELIGIOSO: CÍRIO DE CARANANDUBA

 

O Círio de Carananduba, na Ilha do Mosqueiro, Distrito de Belém, homenageia Nossa Senhora da Conceição, cujo templo foi inaugurado no dia 10 de janeiro de 1914. Com o crescimento populacional da Ilha, em 2008 foi criada a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, que partilha com a Paróquia de Nossa Senhora do Ó a Missão de Evangelizar da Igreja Católica. O Círio acontecerá amanhã, dia 25, e, hoje à noite, será realizada a Trasladação da Imagem da Santa Padroeira.

clip_image002

“O Círio da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, na Ilha de Mosqueiro, também realizará procissão mariana. A romaria sai da Comunidade Santa Rita de Cássia, no Carananduba, logo após a realização de uma celebração eucarística. Já os amantes de músicas animadas católicas poderão conferir os hits da banda Trio Cristo Dance. Este ano, a festa tem como tema: “Com Maria enraizada na fé em Cristo” e busca, dentre outras coisas, motivar jovens e adultos para a construção do novo templo religioso da comunidade católica.

A programação encerra no dia dedicado à padroeira, 8 de dezembro, com o Santo Ofício, às 7 horas, seguido de missa. Às 12 horas, haverá uma novena de bênção da Imaculada Conceição. A celebração solene será às 19 horas.”

clip_image004

Padre Francisco das Chagas convida para o Círio de Nossa Senhora da Conceição

FONTE: http://paulinasbelem.blogspot.com.br/p/arquidiocese-de-belem.html

FONTE DA IMAGEM: http://www.igreja-catolica.com/nossa-senhora/nossa-senhora-da-conceicao/imagem-de-nossa-senhora-da-conceicao.php

PESQUISE NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2012/03/na-rota-da-historia-cirio-da-conceicao.html

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A FICÇÃO E A ILHA: A LENDA

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

        Puc puc puc puc...

        O barco-motor ia assim deslizando e decepando ao meio o piso líquido à sua frente.

        Era já a Curva da Cobra. Era já noite alta. Ar sereno. Estrelas salpicando o céu. Maré seca.

       O túnel formado pelas ribanceiras e árvores da margem, tão compridas que se esticavam como querendo tocar o céu, ia a pouco sendo vencido pela embarcação. Nem um leve temor parecia assustá-los, apesar das histórias que se contam sobre o local...

        Motor já desligado, barco empurrado por varas. Foi escolhido onde ancorar. Lugar bonito. Muitos açaizeiros. A gente nem é capaz de lembrar mais como era quando os palmiteiros mutilaram os açaizais uns dez anos... sei lá, talvez onze.

         ─ Por que aqui? ─ perguntou Simão.

         ─ Muito seco pra acolá, respondeu Pedro quase gritando lá da proa. ─ Dá não. Melhor ficar aqui té enchente.

         Era preciso dormir um pouco. A cachaça ajudava. Bebida, fumo, todos dormiram depois. Mas não muito. Tempo não dava.

         Logo amanheceu. Cabeça da maré vinha vindo. Não fosse a pressa, podia se admirar o céu e as nuvens, as siriubeiras e as aves, ou mesmo os sararás na lama.

         Um pouco de café com farinha. Torradas velhas, água amarela do rio pra beber. Às vezes, João queria deixar essa vida. No entanto, estava acostumado. E havia ainda a necessidade que tinha do trabalho. E, quem sabe no fundo, não gostasse de viver assim. Mas é uma vida tão dura... O peixe às vezes farto, às vezes escasso. As redes ora boas ora rebentando... o barco fazendo água, precisando de calafeto. A saudade das namoradas que quase não teve, a família que estava distante, de quem não tinha notícia um tempão. A pobreza de tudo, de quando em vez, deixava-o assim.

          ─ Vamos, João, chega de folga.

          ─ Calma, Pedro, já vou.

         Era assim sempre: estando concentrado, pensando-pensando nas coisas... o trabalho, sempre o trabalho acima de tudo.

       Subiram mais um pouco o igarapé. Lá na estância descarregaram os esteios que tinham transportado como biscate. Serviço brabo sem luvas. Acapu tem muitas ferpas. Sem falar no peso. Mão do carregador sofre, ombro mais ainda. 
         Serviço findo, conversa fiada depois da água gelada. Tudo neles era suor e mau odor, sentados os três ali na beira em cima daquelas raízes grossas e lamacentas. Maré já vazava. Carecia não demorar além do tempo.

          ─ Quanto vamo pegar?

          ─ Uns 20 mil, acho...

          ─ Mesmo que seja só 10, eu já faço muita coisa com minha parte.

        Seu Armino aproximou-se. Disse, estendendo a mão para Pedro:

          ─ Tome, pegue o dinheiro de vocês.

          Era dinheiro razoável.

          Tinha festa naquela noite. Muitos iam ao terreiro do tio Oragão. Os três também.

          João, dos três, é o mais atarracado. É branco. O sol bronzeara um pouco. É o mais novo. Sonhador, mas a ideia de mudar de vida já quase lhe fugia da memória, desesperançoso, apesar da pouca idade... triste. Já quase não fala com ninguém. Os dois outros estranharam no início, mas se acostumaram com seu jeito.

          Simão é mediano de altura. Mulato, pouco magro. O que não quer dizer fraco, o contrário disso. É otimista. A gente pode dizer que ele gosta da vida que leva. Trabalha com barco uns oito anos.

          Pedro é alto e forte. O mais velho. Talvez por causa disso é respeitado por todos. Não só os dois: todos. Também é calmo e observador. Experiente, tem sempre muitas histórias para contar.

           A gente pode dizer que são um trio. Se entendem.

          Pararam no porto do Leônidas. Beberam. Muita branquinha depois, banho de rio. Água lamacenta, poluída por muitos sanitários. Pessoas expulsas, no processo capitalista selvagem, deixam o chão seco para (sobre) viver na beira do igarapé. Mas isso pouco importa. Bebido, ninguém dá bola. Esfrega-se o corpo com sabão em barra, como se essa água levasse o sabão depois e não deixasse sujeira no lugar do suor pixelento. Não é lucro. Mas não ligavam.

          Aprontaram-se para a festa. Desceram do barco, pegaram uma canoa até a beira, mas a lama era muita. Arregaçaram as calças, sapatos nas mãos. Lama, lama, lama.

         Engataram, saindo do porto, no primeiro boteco, emporcalhados. A gente não sabe se era para se lavarem ou para tomar mais pinga.

         Depois, movidos como que por instinto, passaram na casa do mestre Garinaldo, fazedor de montarias.

          ─ Discupe as hora, Mestre, é...

         ─ Ora, que discupe que nada, Pedro. Entre. Entre vocês também.

          ─ Seu Naldo... ─ disse um.

          ─ Seu Naldo... ─ disse o outro.

          Tímidos, os dois foram entrando.

           ─ Clarinda, venha ver quem taqui! ─ gritou o Mestre.

           Mestre Naldo, como gostava de ser chamado, gostava muito de Pedro. Pedro tinha sido criado ali, com Mestre Naldo. Sua profissão, quem lhe ensinou o principal? O Mestre, ele, homem bom e sério, agora velho e meio decrépito.

           ─ Pedro, seu filho dumégua! Agora é que aparece? 

           Era Clarinda, que estava ali na sua frente vinda de detrás da cortina rasgada, com um camisolão ruço, já meio rasgado.

           Ela e Pedro abraçaram-se. Depois de trocarem algumas palavras, ela, virando-se para os dois, disse:

           ─ Vocês estão bem?

           ─ Sim ─ respondeu um.

           ─ Sim ─ respondeu o outro.

           ─ Vamo tomá uma branquinha? ─ foi o convite do Mestre.

           Muita dose depois, já bem tarde, todos se foram. Todos, menos o Mestre. Até Clarinda foi.

          Dentro da sede, confusões, empurra-empurra, bofetões. Hesitaram um pouco, depois entraram, mais levados pelas pernas e por Clarinda que por suas próprias vontades. Pesados, quase nem saíam do canto onde estavam.

          Ali por dentro era assim: confusão formada, porrada em seguida. Muita gente, uma panela de pressão. Dos quatro, só Clarinda sóbria, os outros já piruetavam em torno de si, orbitando. Pedro a custo dançava com Clarinda ali, num cantinho, bem pertinho-pertinho da cerca e da árvore de limão caiana. Se é que aquilo era dança mesmo, já que Pedro não dança nada. Os dois outros bebiam perto do banheiro, precavidos

          Muita cerveja mais tarde, todos, até mesmo Clarinda, que   tinha bebido alguns copos de cerveja, praticamente estavam de pé por milagre, a gente acha. Nunca beberam tanto. Beberam os calos da mão e os ferimentos do ombro, beberam quase todinho o dinheiro, dinheiro ensopado de suor oleoso e fedorento.

          Do outro lado, gente dançava merengue ouvindo xote, brega em ritmo de carimbó. Só os menos bêbados dançavam como a música pedia. E misturava-se de tudo: mambo, axé music, regae, funk, house... Dava tudo um caldo só, que só indivíduos fora do estado normal poderiam tolerar e, ainda mais, gostar. 
        Pulos, rodopios, piruetas, quedas, encontrões... tudo em favor do desabafo estressado de quem já não é esperançoso de mudança ─ pelo menos para melhor ─ na vida. Salários miseráveis (isto os que têm emprego!), dívidas, ignorância, sofrimento: tudo emana pelos poros, em suores fedidos e misturados... “Bebida e festa é enganote po célebro discansá!”, como dizem alguns. 
        Num repente, do outro lado veio um mundo de gente se socando. Um buraco se abriu ali no meio. Gente em fuga é desesperada! Caem, chocam-se, derrubam cercas e gente. Assim aconteceu com Pedro e Clarinda, machucando-se no pé de limão caiana. Simão viu aquilo. Enquanto os dois se levantavam lentamente (Clarinda, que gostava m e s m o de Pedro, sorria muito; aliás, gargalhava), Simão, com o olho vermelho que nem de saracura, descontroladamente correu e engarrafou a cara de um sujeito.

        O quebra-pau do outro lado se finava. Uns correram de lá esperançosos de poder participar de tão amena questão. E o que viram? Viram um homem de cara ensanguentada, caído, e outro, com um gargalo, bem defronte dele, em pé, trêmulo.

        Num susto, pipoca tudo. Mulheres correndo, berrando estridentes. Homens fazendo covardemente pior. Simão, cercado de mãos com paus, pedras e garrafas. João acode com estacadas. Pedro, levantando-se, exibe um facão. Tudo confuso, incompreensível. Barulhos e gritos. Sangue. Um estampido. Tudo para momentaneamente. Clarinda, que correu para Pedro, cai. Já não fala, já não respira. Desespero de Pedro, que fura mais dois. Dois outros estampidos: Simão. Pobre e estúpido Simão! Pobre Clarinda!

        Horas depois, nas matas das várzeas, os sararás saem das tocas, os pássaros em revoadas sobem e descem das copadas árvores, lembrando confetes jogados na passarela do carnaval. Garças cautelosas saboreiam camarões. As arirambas ariscas já fazem o mesmo, se bem que usando outras técnicas. Os urubus sobrevoam a floresta, todos indo na mesma direção. 
           Mas nenhum dos três observava. O barco estava ainda lá, próximo dos barrancos de tabatinga. A gente deve pensar que os três, ou melhor, os quatro, contando com Clarinda, já passaram desta para uma pior? Será? Vamos ver...

           É madrugada ainda. É perto da festa, ou daquilo que foi uma festa. Várias pessoas correndo incentivadas por uma sirene de polícia.

          Muitos viram o sol nascer pelos balancins (na delegacia, lógico). Muitos. Mas nenhum viu aquela bela cena na várzea. E Pedro e João? Foram presos? Não. Não foram. Os dois estavam ali na várzea, porém dormindo, quase um sobre o outro, ao pé de uma corticeira. Escaparam da polícia entrando num córrego e adentrando as matas dos igarapés, cambaleando, mas já um pouco recuperados pelo choque.

           Esbaforidos, tropeçavam nos gravetos e se arranhavam nos galhos e espinhos das picadas que levavam igarapé adentro.

           ─ Pedro, Pedro... PEEEDRO!

           ─ Quié?!

           ─ Pedro, eles estão mortos?

           ─ Sim!

           ─ Mas será...

           ─ Droga, cala a boca e corre!

           Muito tropeção e queda depois, enfim Pedro desaba no chão, feito árvore de madeira nobre decepada pela motosserra.

           ─ Pedro! Pedro! Quitá acontecendo?

          Um dos dois últimos tiros o atingiu. Bem na barriga. João rasgou a camisa, amarrando-lhe o abdômen para estancar o sangue. Arrastou-o até o tronco de uma árvore alta e, também desmaiou de sono e cansaço.

          Muita hora dormida depois, só João acorda. Pedro, não podia mais. João chorou muito. Pensou ter sido tudo um sonho, mas acordou e... chorou, chorou muito.

          Os urubus voltavam. Já era boca da noite, e a gente pode encontrar João todo ferido e enlameado, próximo ao barco. Escondia-se entre umas touceiras numa das margens do igarapé. Não sabia bem que fazer. Dúvidas multiplicavam-se e chocavam-se em sua consciência. Ia à polícia? Seria preso? E os corpos de Simão e Clarinda, já foram sepultados? Ou foram levados para o IML? Pedro, pobre Pedro! Dormiria sempre ali, ao pé da corticeira e sob a lama que lhe sepultava, o único e verdadeiro amigo?

          João não conhecia muita gente não. Quem o ajudaria? Ele pensava, pensava, não arranjava solução. Situação sem remédio, pensava. Será que estavam procurando por ele? Vigiando o barco? Ali esperaria. Ficaria alerta. 
          Muita ferrada de inseto depois, resolveu nadar até o barco, silencioso, como um tralhoto, tal a habilidade que a gente pode imaginar. Antes de subir, esfregões que tiram lama e mostram lesões, arranhões, cortes. Menos intranquilo, ia subindo no barco, quando notou um sacudir diferente, como se tivesse alguém andando dentro da cabina.

          Acautelou-se. Subiu devagar. Sabendo que o outro já sabia dele a bordo, foi direto à porta da cabina, com a lata, que servia de panela, na mão. Pensou: “Ô vai ô racha!” Abriu. Levou uma pernamancada que atingiu em cheio a lata. João empurrou seu agressor, que na queda perdeu a pernamanca. Engalfinharam-se os dois, caíram em cima do motor, chocaram-se contra as paredes. Luta dura e estranha no escuro. Mas João, que tal qual um bom soldado conhece seu território mesmo no breu da noite, apanhou do chão, que é ao mesmo tempo casco, uma pedra de tijolo, usada em par no fogo, para sustentar panela quando se faz comida nos “tesos”.

          “Prac”, foi o som do choque no crânio do agressor.

          Cansado, assustado, João descansou. Mas pouco. Logo ouve:

           ─ Merreco, Merreco! Quitá acontecendo?

           Ouve aquilo várias vezes e de diferentes bocas.

          Os gritos vinham da margem oposta de onde João veio. Os traque-traque dos gravetos quebrados faziam crer que havia pelo menos uma meia-dúzia de gente.

         Corre, arriba a âncora. Liga o motor. Ouve tiros. Manobra, quase encalha. Consegue, enfim, seguir adiante. Ainda tentam correr na lama da beira. Tentativa inútil: pedras cortantes, mangueiros, espinheiros. Obstáculos de mais. Desistem.

          João acende a lamparina. Está menos tenso. É quando olha o chão. Não vê ninguém. Súbito sente uma, duas facadas. Nas costas. Dor, horrível dor! Vira-se. Um homem de cara ensanguentada é o que vê. Cambaleando, exibe na mão uma faca pingando sangue.

            ─ Ah! Diacho! Tu vai junto! ─ grita contorcendo-se e arriando no chão. 
            Só que antes lhe atira a lamparina na cara, que logo o fogo devorará, não só a cara feia mas todo o corpo; aliás, os dois corpos, o barco também, que lentamente vai decepando ao meio a superfície do rio, ardendo em chamas, até ficar preso às raízes dos mangueiros, que são enormes ali na Curva da Cobra.

          Um imenso par de olhos vermelhos testemunha a cena-tragédia, a gente não pode dizer se plácida ou sinistramente.

         A gente lastima muitíssimo, porque João não leu a manchete que saiu na primeira página dum jornal, à tarde: “Gangue agride e mata casal numa festa nesta madrugada”.

 

FONTE:http://www.komedi.com.br/escrita/leitura.asp?Texto_ID=9251

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MEIO AMBIENTE: MOSQUEIRO E A GESTÃO HÍDRICA NO ESTUÁRIO AMAZÔNICO

Autor: Pedro Leão

clip_image002

 

A água é o bem essencial à manutenção da vida na terra e responsável por garantir inúmeras atividades importantes na sociedade como a irrigação na agricultura, atividades industriais, o uso doméstico, a pesca, a geração de energia elétrica, o lazer e o turismo, além de ser o principal fator indutor da sustentabilidade no planeta.

A água doce representa apenas 2,5% de toda a água disponível no planeta, sendo que, desse percentual, menos de 1% encontra-se nos rios, disponível para uso.

O Brasil possui grandes reservas de água doce, superficiais e subterrâneas, sendo que a Região Amazônica detém cerca de 70 a 80% daquelas e possui 7% da população do país.

No marco da grande crise ambiental de nossos tempos, urge soluções para a problemática do uso e gestão dos recursos hídricos, já que a mesma coloca em risco a disponibilidade da água potável parta as futuras gerações.

Com o acelerado crescimento populacional e ampliação de atividades na vida do homem, cresce o consumo de água, mas também o seu desperdício, aliado à poluição crescente dos cursos d’água, na área rural e nas áreas dos rios e igarapés urbanos, seja na área continental ou costeira.

Face às perversas consequências advindas dos inadequados usos, da escassez em muitas áreas e da demanda crescente pela água, as comunidades, empresas, instituições científicas, ONGs, parlamentares, entidades judiciárias e governos vêm aplicando e aperfeiçoando, conforme mecanismos técnicos e legais, a sustentabilidade do uso da água, ao estabelecer os seus domínios e efetivar a gestão dos recursos hídricos nas regiões e estados brasileiros.

Sendo a Região Amazônica a maior em disponibilidade hídrica do país, onde o estado do Pará participa com 1.134,7 Km2/ano, o Rio Pará é o segundo rio do sistema da foz do Amazonas, formado pela confluência de um ramo do Amazonas com o rio Tocantins.

A nível legal, o Estado do Pará, pela da Lei 6.381/2001, através da Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA, instituiu e vem implementando seu Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e, além de implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos, coordena a gestão integrada dos recursos hídricos no estado.         

Afora os inúmeros conflitos entre diversos grupos sociais e setores de interesses pelo uso e controle das águas na Amazônia, como os pescadores e garimpeiros ou entre comunidades indígenas e governo na disputa das áreas de grande potencial hidroelétrico, o seu uso desregrado e inadequado tem levado a que especialistas da região alertem sobre essa problemática. Estudo realizado através do projeto MEGAM/2002, afirma que:

“A hidrografia da região Amazônica é riquíssima. É nesta região que se encontra a maior bacia hidrográfica do planeta, formada pelo rio  Amazonas e seus afluentes. No entanto, apesar da grande abundância de  água que drena a região, a qualidade do ecossistema aquático está  seriamente comprometida pela quantidade de substâncias químicas, lixo e  efluentes domésticos e industriais, que são lançados em rios, lagos e  igarapés, sem nenhum tratamento ou controle de preservação. Tanto em  áreas urbanas quanto rurais, este problema torna-se cada vez mais  impactante para a saúde ambiental do sistema hídrico devido, principalmente, à falta de infraestrutura sanitária, cujos dejetos escoam  diretamente para os cursos d'água e solos e, no caso das áreas rurais, de onde  a população retira o alimento e a água para beber e banhar-se.

Desse modo, as populações que habitam estas áreas insalubres  correm sérios riscos de contrair doenças hídricas, como a cólera, febre  tifoide e leptospirose, constituindo-se em grave problema de saúde pública. “

O rio Pará banha a Ilha de Mosqueiro, distrito de Belém e principal balneário da Região Metropolitana de Belém, incluído na trilha internacional de turismo.

Responsável por drenar uma área de 0,7 X 106 Km2 e possuir uma vazão estimada em 104 m3/s, o rio Pará tem importância precípua para esta faixa de terra insular, pertencente ao município de Belém, já que banha 16 das 19 praias de água doce com ondas de rios, referências no turismo de veraneio.

Ao localizar-se no estuário Amazônico, a Ilha de Mosqueiro, nas últimas décadas, vem sofrendo influência e recebendo impactos sócio-culturais e históricos de todas as ordens, e em ritmo acelerado, no seu espaço de ocupação e produção que se integra e se combina à dinâmica do processo de desenvolvimento regional excludente, mas marcado no último período pela ação de diversos atores sociais, pelo controle, uso e gestão de seus recursos naturais. Dessa forma, os estudos e ações de gestão nesta comunidade tornam-se inadiáveis no sentido de se  garantir à população, além da  potabilidade da água e acessibilidade ao seu uso, a ampliação da rede de esgotamento sanitário.

Apesar de possuir em sua zona balneária um sucateado sistema de esgotamento sanitário com 51.500 metros de rede coletora, a Ilha de Mosqueiro vem sendo espaço de toda sorte de agressão ao seu meio ambiente, como extração ilegal de areia e outros minerais, desmatamento, poluição de suas águas através de lixo, de esgotos a céu aberto, de sanitários e fossas à beira dos rios e dos materiais sólidos oriundos de seus assoreamentos.

Esses problemas instalados em um balneário colocam em dúvida a qualidade de água utilizada para o banho nas praias e da utilizada no consumo por parte da população ribeirinha.

As águas do rio Pará são utilizadas na pesca artesanal local ou por pescadores de muitos outros municípios desta região do estado, inclusive aqueles oriundos da ilha do Marajó. O rio Pará é estratégico, por garantir, através do canal do navio, condições de navegação e transportes aquaviários ao Porto de Belém, possibilitando o comércio da metrópole da Amazônia com muitos outros centros comerciais no Brasil e no Mundo. É através dele que é realizada parte do abastecimento de derivados de petróleo para Belém e muitas outras regiões do  estado.

Apesar de fazer parte da composição do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, os Comitês de Bacias Hidrográficas não existem ainda no estado. Portanto, o rio Pará ainda não conta com estes instrumentos-base da gestão participativa e integrada da água, que têm papel deliberativo e são compostos por representantes do Poder Público, da sociedade civil e de usuários da água.

Posted 19th May by Pedrosleao@yahoo.com.br

FONTE: http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2012/05/mosqueiro-e-gestao-hidrica-no-estuario.html

sábado, 17 de novembro de 2012

CANTANDO A ILHA: EXALTAÇAO A MOSQUEIRO

 

 

Autor: Waldemar (MAZOLA)

Mosqueiro ponta de oceano

Quando penso em ti

Jamais me engano

Mosqueiro linha de horizonte

Tu és bela como um monte

Para vista deslumbrar

Mosqueiro foz do Amazonas

Tu és da casa uma dona

Que se dedica pro lar

Mosqueiro tuas praias belas e mansas

Tu és dos veranistas uma herança

Onde os velhos e as crianças

Todos passam por lá

Mosqueiro tens beleza natural

Teu refúgio é sem igual

Para mim que sou de lá.

FONTE: http://www.walalmeida.com.br/index.php/poemas-e-versos.html

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: MOLECAGENS DO PASSADO 8

O Caso do Edifício Manoel Pinto da Silva

Narrativa de Joseph e Alexandre Farah (entrevista concedida a Coely Silva)

JOSEPH: Bom, é o seguinte, essa bandalheira já foi da época da eletrônica. Estavam passando as férias no nosso solar, como dizia o historiador Augusto Meira Filho, várias famílias, inclusive os Valle Paiva. Então o meu primo, o comandante Juarez Rego, que é casado com a Lúcia Paiva trouxe de Letícia dois aparelhos walk-takie, isso mais ou menos em 1957.

ALEXANDRE: Então é o seguinte: essa nossa prima, a Lucinha, é uma criatura igual aos Farahzinhos, como hoje a minha filha Ana Cristina. Então foi a Lucinha que bolou tudo. Nessa época tinha a tradicional festa do veraneio e foi na casa do senador Antonio Martins Júnior. Então nós viemos para o caramanchão e encontramos o Bené Mutran, Moacir Cordeiro, Biraci Salgado, Paulo Barata, rapazes do esquema, que iam para a festa.

JOSEPH: Então nós pedimos para eles pra levarem o rádio e nos ajudar a aprontar a brincadeira. Então o Bené, que era um dos rapazes mais cobiçados, mais acreditados, pererê, ficou com o rádio na mão. E só fomos pra praia, em frente a casa, quando nós entramos em cadeia.

ALEXANDRE: A festa estava animada, apertamos o botão e entramos fazendo uma dupla de radialistas: “E atenção, atenção, esta é a Rádio Clube do Pará, a voz que fala e canta para a Planície, e, atenção, informamos em primeira mão: conforme boletim expedido pela Secretaria Municipal de Obras, liberado na tarde de hoje, por determinação de Sua Excelência o Prefeito de Belém, foi confirmada e constatada uma séria rachadura entre os blocos A e B do majestoso Edifício Manoel Pinto da Silva.” Aí o Zé entrou: “E atenção mais uma vez, vamos noticiar a todos os nossos ouvintes que faremos uma pausa em nossas transmissões para informar diretamente do local, onde já se encontra uma enorme multidão. Aguarde que voltaremos a informar.” Foi um enorme rebuliço. Coincidiu do Sr. Rodolfo Chermont estar sentado com a dona Cora na porta e com um rádio enorme e pegou tudo aquilo, aumentou o volume.

JOSEPH: Porque tinham pessoas nessa festa que moravam no edifício, aí ficaram apavoradas, porque o Alexandre também tinha dito que o prédio ameaçava cair.

ALEXANDRE: E continuamos a notícia: “E atenção, atenção, e pá e pererê, estamos agora na Praça da República, no palco dos acontecimentos. É uma multidão de flagelados, meu Deus do Céu, precisa um cordão de isolamento, a polícia não toma providências, gente chorando e tal.” Entrevistamos até uma empregada doméstica. E o Zé entrava: “E atenção, vem chegando ao local para prestar solidariedade humana e cristã Sua Reverendíssima Dom Mário de Miranda Villas Boas, arcebispo metropolitano.” E nós fomos dando todos aqueles enfoques, entrevistamos o governador Moura Carvalho: “Realmente é uma situação deveras constrangedora, catastrófica e... e pá, pá, pá”. Aí parou o som, acabou a festa e aqueles grupos formados em torno do seu Chermont, o Bené trouxe o resto do pessoal.

JOSEPH: Aquela família Waldemar Franco dizia: “E as minhas propriedades, como é que fica?” As casas ficavam onde é agora aquela área do “Garrafão”.

ALEXANDRE: O pessoal correu, queria fretar avião para voltar a Belém. Tinha muitas famílias que estavam na festa que moravam lá no edifício. E nós continuamos a entrevistar as pessoas: “Por favor, minha senhora, como é o seu nome?” “É Maria de Jesus Ferreira.” “Dona Maria, o que que a senhora é?” “Eu sou empregada doméstica.” “E o que que a senhora acha disso tudo?” “Ah, eu não sei o que dizer não, isso é uma situação horrorosa...” E a gente imitava bem as vozes das pessoas entrevistadas. E a gente continuava: “E atenção, atenção, pedimos às pessoas que recuem até o Cine Olímpia, que há ameaças do prédio ruir.” Por fim, nós jogamos o Manoel Pinto no chão. E descrevemos: “e é um monte, toneladas de ferros retorcidos, tijolos”, pô! “foi um horror, uma catástrofe geral!” E continuamos a entrevistar o Moura Carvalho, dizendo que ia agasalhar o pessoal. E como criou um problema constrangedor aqui, inclusive senhoras desmaiando, nós tínhamos uma brincadeira, que era tradicional de todos, que, quando um errava, dizia: “Não faz mal, não faz mal, isso é muito natural!” E toda a comunidade conhecia este jinglezinho. Então, nós resolvemos amenizar e, na própria rádio, entrevistando o proprietário do edifício. “Chamamos” o Sr. Manoel Pinto da Silva: “Nós gostaríamos de saber, afinal o senhor é o maior prejudicado, como é que está o seu estado de ânimo, dê aqui uma entrevista para a Rádio Clube.” E ele: “Isso não tem muita importância, não faz mal, não faz mal, isso é muito natural!” Aí eu e o Zé cantamos juntos e os caras sacaram que era uma puta sacanagem. Aí tu já viu, era coroa querendo arregaçar a manga: “...esse moleque sacana!” No outro dia, a gente ficou por perto de casa, e tal pra não ser pego de surpresa.

FONTE: Silva Coely. Especial de Férias de O Estado do Pará, de julho de 1978.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

TROCA DE OPINIÕES: MARKETING PARA MOSQUEIRO

Autor: Beto Messias

clip_image002

VERÃO NA ILHA (FOTO: GERLEI)

A definição mais compacta de marketing é a de se identificar desejos e necessidades procurando atendê-los com produtos ou serviços, gerando satisfação e lucro para todas as partes envolvidas no processo.

A ilha de Mosqueiro acomoda em uma mesma área geográfica várias amostras de diferentes estratificações sociais, culturais, etárias e econômicas agrupadas em três categorias de públicos (moradores, visitantes ocasionais e frequentadores de finais de semana e feriados). São pessoas que muitas das vezes possuem as mesmas necessidades, mas com opiniões bem diferentes sobre determinados temas.

Será que uma socialite pensa a mesma coisa que uma jovem grávida de 3.º filho, moradora de uma invasão, sobre saúde, quando ambas procuram um posto médico na Ilha? Ou o empresário que precisa estar à noite, no aeroporto, para mais uma viagem de negócios tem o mesmo conceito de transporte que o empregado que madruga para pegar o ônibus lotado diariamente para o seu emprego?

E quando o filho do patrão promove balada na casa de praia dos pais e o filho do caseiro se treme nas festas de aparelhagem? Ambos acham o que sobre diversão? Mas o que faz o homem e a mulher, jovens ou não, pobres e ricos, gostarem tanto de Mosqueiro?

O marketing, utilizando-se de uma ferramenta chamada pesquisa, identifica e mapeia todos esses públicos e suas preferências, planeja ações estratégicas para atendê-los e escolhe os meios de comunicação mais apropriados para a divulgação e informação, sabendo quem é e o que querem. Assim ficaria muito mais fácil dar lucro para Mosqueiro e satisfazer o cliente, no caso o cidadão, morador ou visitante da Ilha.

FONTE: ESPAÇO DO LEITOR. Diário do Pará, 12/11/2012.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: ILHA DO AMOR

Autor: Cândido Marinho Rocha

O primeiro semestre – saíra de surpresas na Ilha – deu maré cheia naquele sábado de chuva. Inesperado aguaceiro em pleno Setembro, banhos nas almas e na terra. Mais do que o sol as chuvas mosqueirenses montam as molas ocultas no instinto sexual. A chuva, bela como sempre, cristais líquidos limpando o ar, a baía recebendo-a, praias úmidas de areias endurecidas como seios jovens, moitas verdes pingando, sol escondido, nuvens escuras, povo deitado, remanchos. Dia manso, longo e gostoso, piramutaba na panela, pirão de farinha d’água com pimenta malagueta ao lado, caldo do tucupi, jambu bastante, batida de limão, antecipada chuva linda mordendo os nervos da gente – tudo excita, eleva pensamentos de amor, sentidos disparam, em delícias ociosas. Lá se iam, na enxurrada, as inibições. Crianças nascendo mais, nove meses depois, aumento da população infantil. População escolar indefinida, desamparada. Meninos e mocinhas crescendo sem noções de higiene e sem defesas. Só as igrejas ainda abençoavam certas infâncias. Abençoadas chuvas genesíacas no litoral e no centro da Ilha. Lá dentro, na Campina Seca, no Porto da Roça, no Marangueira, no Maracajá, no Mari-Mari, onde Maria Bibiana Rayol mandava com Didaco e Joaquim Antonio Rayol; na Baía do Sol, cujo turuna chamava-se Manoel Nicolau Fôro, no sítio S. Pedro, onde o capitão era Pedro Antonio Amador; por todo o interior perfumado da Ilha dos pomares, naquelas terras úmidas e cobertas de acariciantes folhagens, como que num convite permanente à fecundação – por todos os lados – nos dias chuvosos, a Ilha mais ainda cercada de amor.

Os fidalgos barões nativos, Caetano, Marcelino, Amador, Manoel Jovino, Francelino, Rayol, Nicolau, muitos dos quais descendentes dos valentes cabanos, dignos responsáveis pela floração, por toda a Ilha, dos belos e olorosos pomares, dos guapos rapazes e deliciosas morenas, não resistiam às pressões psicológicas das chuvas, não regateavam conjunções.

No riozinho Maracajá, José Jardim e Manoel Veríssimo, imersos, costumam “passar a chuva” olhando o tempo, sempre tomando “cana”. Alfredo Urubu e Preto Borges, mais moderados, mais mulherengos, nunca perdiam chuvadas sem boa costela. Maria Capela*, quando chovia, punha-se a gritar pelo filho Brasilino, que ficava valentão e agressivo, desafiando até o agente de polícia, especialmente quando a autoridade se apresentava na pessoa do marceneiro Varela.

FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALÂNGOLA EDITORA. Belém-Pa. 1973- pp. 149 e 150).

*OBS.: Informações tivemos de que o nome verdadeiro seria MARIA CANELA.

PESQUISE NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2012/01/janelas-do-tempo-brasilino-um-heroi-do.html

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

MEIO AMBIENTE: S. O. S. CAJUEIRO!

Autor: Pedro Leão

clip_image001

clip_image002 

 

Com uma população em torno de 1000 habitantes, sendo que desta mais de 400 são pescadores artesanais, dentre os muitos problemas com que a comunidade do Cajueiro se depara, releva-se o da poluição na comunidade, tanto na área habitada com construções desordenadas de casas em alvenarias, madeiras, algumas palafitas, sobre a área da várzea, como no Rio Cajueiro, estratégico para tornar aquela comunidade um dos referenciais na atividade da pesca na Ilha de Mosqueiro.

Se na comunidade o sistema de abastecimento d’água é precário, a mesma não possui coleta de lixo doméstico e outros resíduos sólidos, pelo sistema porta a porta. Parte da produção é jogada embaixo das casas e das precárias estivas em madeiras que, com o fluxo das marés, acabam criando uma potencial área de contaminação do rio e de outros ambientes.

Devido à pesca, moradores comercializam pescados nos jiraus na beira do rio e todos os resíduos, descartes, aparas e resto de evisceração são atirados no rio, poluindo e contaminando o mesmo, que é utilizado para a lavagem do pescado e a captura de espécies como o camarão regional (Macrobrachium amazonicum). Não há o aproveitamento integral do pescado.

Outro aspecto da poluição do Cajueiro está na área de falta de saneamento básico: refere-se à ausência de esgotamento sanitário na comunidade e as poucas fossas sépticas encontradas em solo de várzea acabam por contaminar biologicamente as águas do rio, com fezes e outros contaminantes de cozinha e banheiros.

Por último, a poluição do rio vem sendo agravada com o seu assoreamento, devido à retirada de parte da cobertura vegetal, pela avassaladora ação da retirada de materiais minerais próximo ao rio, pelos chamados covões, pelos assentamentos humanos nas áreas de terra nas proximidades.

Assim, neste ambiente desconhecido por muitos “mosqueirenses” ou pelos milhares de visitantes dessa ilha balneária com suas 19 praias de água doce, habitam e sobrevivem aqueles que contraditoriamente produzem este ambiente adverso às Boas Práticas de Alimentação, à sanidade ambiental e à qualidade de vida, prejudicadas na construção da sustentabilidade ambiental.

Estamos diante da preocupante situação ambiental por que passa a comunidade do Cajueiro, face aos processos poluentes ali desenvolvidos, sobretudo na área de moradia e, também, no principal referencial para a atividade pesqueira local: o Rio Cajueiro. Assim, as formas de poluição acabam prejudicando não só as pescarias, como também a navegabilidade do rio e a qualidade de vida dessa comunidade pertencente à ilha de Mosqueiro, principal balneário de Belém do Pará.

Assim, são necessárias medidas urgentes, através de políticas públicas pela administração local e municipal em parceria com o Estado e a União, que venham mitigar o atual estado socioambiental na comunidade, dentro de uma perspectiva de controle e gestão ambiental, onde o principal parceiro para a realização das ações nesse sentido seja a comunidade, detentora de um rico patrimônio cultural e ambiental, lastreados no Conhecimento Ecológico Tradicional (CET).

FONTE: http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2012/05/sos-cajueiro.html

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

NA ROTA DO TURISMO: O ECOTURISMO NA ILHA

                       III ENCONTRO DA ANPPAS

                           23 A 26 DE MAIO DE 2006

                                  BRASÍLIA - DF
O natural e o Humano na Trilha do Ecoturismo: notas sobre a Ilha de Mosqueiro, Belém/PA

 

Maria Augusta Freitas Costa - Universidade Federal do Pará

Maria Goretti da Costa Tavares – Universidade Federal do Pará
Resumo

Este trabalho tem por objetivo analisar a inserção da Trilha Ecológica Olhos D’Água, localizada na Ilha de Mosqueiro, um distrito de Belém do Pará, na rede global do turismo (arquitetada pelas agências promotoras do turismo e eventos, pelos hotéis, restaurantes, pelas redes de infraestrutura, pelos fluxos de informação e de demanda.) de forma a entender a relação dos empreendedores do turismo ecológico com o espaço vivido (TUAN, 1980) e com as atividades econômicas da população das três comunidades existentes no raio de ação da trilha, almejando identificar se esse empreendimento do “turismo verde” consiste em um locus de singularidade, diversidade sócio-ambiental, geração de emprego e renda, de preservação ambiental e de participação da população tradicional local (DIEGUES, 1996), ou seja, de desenvolvimento sócio-espacial (SOUZA, 2002).

Introdução

A Trilha Olhos D’água, que faz parte dos movimentos turísticos da ilha desde 1998, quando, como foi relatado anteriormente, ainda era denominada “I Trilha Ecológica de Mosqueiro”, abarca uma área que compreende solo de terra firme do tipo areno-argiloso cuja composição arbórea é predominantemente de mata de capoeira que resguarda espécies vegetais da floresta primitiva (FUNDAÇÃO... 2002). Localizada no entorno do Parque Ambiental de Mosqueiro com quem compartilha semelhanças físicas e onde estão assentadas seis comunidades, Castanhal do Mari-Mari, Caruaru, Espírito Santo, Itapiapanema, Tucumandeua, Tabatinga, essa trilha capta peculiaridades sociais e ambientais das duas primeiras comunidades e conta com um ponto de apoio na comunidade do Espírito Santo (um restaurante).

Essas comunidades, como seus moradores as autodenominam, de acordo com a Universidade Federal do Pará (2002, p.20), têm seus fundamentos nos trabalhos pastorais da igreja católica que agregam a população em função de um santo ou santa. Nesse sentido então configurando uma falsa convivência comunitária, pois o “comunitário” nessas espacialidades não ultrapassa as festividades religiosas (OP. CIT.).

No mundo atual onde uma das características é o imperativo da fluidez para a circulação, os espaços habitados por comunidades tradicionais embora não mais primitivas e autossuficientes, configuram testemunhos históricos de um passado faustoso e tradicional, ou seja, aqueles em que foi possível uma preservação “natural”, anterior à relevância social ecológica e, deste modo, mantendo maiores porções da natureza em seu meio geográfico pouco impactado pelas técnicas. A área que circunda a trilha Olhos D’água pode ser considerada um testemunho histórico desse passado onde a forte presença de corpos d’água formados pelos rios Tamanduá, Murubira, Pratiquara, Caruaru, Itapiapanema e Mari-Mari, além de furos e igarapés, cunharam a nomenclatura das comunidades. Cuja presença desses corpos hídricos propiciaram uma composição paisagística marcada pelas características de várzea com presença de palmeiras, floresta de várzea de maré com predominância de espécies de mangue e/ou de lianas, floresta secundária aluvial de terra firme e floresta de terra firme com cipó (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, 2002, p.8).

A natureza do/no turismo ecológico da trilha Olhos D’água

Esses testemunhos históricos forjam a base para implementação de um projeto ecoturístico como o projeto da Trilha Olhos D’Água que, apesar de delimitar-se em um antigo caminho de 3688m de extensão em solo de terra firme utilizado pelos moradores das comunidades de Castanhal do Mari-Mari e Caruaru para interligá-las; propicia a observação da exuberância dos ecossistemas fluvial e costeiro dos corpos d’água encontrados nessa região do setor sudoeste da ilha de Mosqueiro, pois, o acesso à Trilha é realizado por meio fluvial em um percurso que dura em torno de quarenta minutos do trapiche existente na Vila de Mosqueiro até o Castanhal do Mari-Mari. Sendo o retorno à Vila de Mosqueiro também realizado via fluvial até outro porto – o porto Pelé, no rio Murubira, quando é possível visualizar as placas delimitadoras do Parque Ambiental de Mosqueiro e a paisagem de várzea ali encontrada No próprio percurso em terra firme entre as duas comunidades vislumbram-se as peculiaridades naturais provenientes da relação terra/água, pois vários furos e igarapés drenam essas comunidades sendo encontrados, em vários pontos dessa Trilha, olhos d’água derivando daí o nome da Trilha.

Entretanto, a dificuldade de proporcionar a visualização desses olhos d’água aos visitantes originou uma especulação em torno de uma possível troca de nomes, o que não ocorreu. Essa Trilha, criada pela Companhia de Turismo de Belém – BELEMTUR, teve sua implementação efetivada em 1998 tendo a Agência Distrital de Mosqueiro – ADMO, como parceira. Em 2002 a Trilha Olhos D’Água passou pela intervenção de um projeto de revitalização que, de acordo com a ex-Fundação de Parques e Áreas Verdes de Belém - atual Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA - (FUNVERDE/BELEMTUR, 2002, S/I), culminou com “o levantamento do inventário faunístico e florístico da área, a sinalização interpretativa da trilha e o envolvimento mais participativo das comunidades, que poderão fazer da trilha uma importante fonte de recursos”. Desde novembro de 2003 a Prefeitura de Belém – PMB, através da BELEMTUR, vem elaborando um plano de reestruturação da gestão da Trilha Olhos D’Água cujo objetivo principal é transferir o controle dessa para as comunidades envolvidas por seu percurso. Essa ação conjunta da PMB/BELEMTUR a priore denotadora de autonomia às comunidades alocadas ao longo da trilha, necessária segundo Souza (2002) ao efetivo desenvolvimento sócio-espacial, é vista com temeridade por todas as pessoas envolvidas com a Trilha nas três comunidades:

Não deveria fazer isso não. Ela (a BELEMTUR) deveria fazer como experiência, antes do mês de julho pra ver como a comunidade se sairia.Moradora da comunidade Caruaru – 31 anos dez. 2003 (grifos nossos) 1

Os novos secretários acham que a comunidade tem que administrar a trilha que estava dando prejuízo para a BELEMTUR, porque ela mais fazia cortesias para as secretárias e o próprio pacote não pagava o custo... mas a trilha tem condições de dar lucro, eu faço a minha trilha e tenho lucro. [...] Eu acredito que a trilha (Olhos D’Água) em mais um ano não vai haver. [...] a BELEMTUR se preocupa com a capacitação para receber os turistas, mas não para o desmatamento. Morador da comunidade Espírito Santo – 35 anos, dez. 2003 (grifos nossos) 2

A temeridade dos moradores dessas comunidades, que se encontram distribuídos em três Micros Áreas distintas: a Micro Área 12, a 13 e a 14 (onde estão, respectivamente, Espírito Santo, Caruaru, Castanhal do Mari-Mari) de acordo com os relatórios do Programa Família Saudável da Secretária de Saúde – PMB; é fundamentada nas práticas vivenciadas nas comunidades. Apesar da PMB, da ADMO e da BELEMTUR garantirem que a transição será realizada com treinamento técnico e o devido preparo dos moradores, essas ações realizadas quando da implementação da Trilha Olhos D’água ao que parece foram pontuais e ineficientes, pois em agosto de 2003, após a festividade de Santa Rosa na comunidade do Castanhal do Mari-Mari, toda a área da sede da festa, suas adjacências e o campo de futebol dessa comunidade encontravam-se cobertos por copos, papéis e garrafas; os resíduos sólidos da festa3.

Indício, também, da ineficiência desses treinamentos técnicos é a constante deteriorização da sinalização da trilha pelos moradores do Caruaru e Castanhal do Mari-Mari, bem como das espécies florísticas e faunísticas, que em dezembro de 2003, após três meses de inoperância das atividades da Trilha, quando da mudança do diretor da BELEMTUR, sofreu um de seus maiores impactos – a queima de uma área de aproximadamente 40m2 na comunidade do Caruaru4. Essas evidências induzem ao questionamento da perpetuação ao longo do tempo, dos trabalhos técnicos e das políticas de educação ambiental que a PMB e a BELEMTUR dizem ter realizado com as comunidades durante a implementação da Trilha e, por conseguinte, aos que serão realizados por essas instituições durante a transição e efetiva transferência da gestão dessa trilha às comunidades.

A intervenção do projeto de revitalização da Trilha Olhos D’água realizado em 2002 pela atual Secretaria de Meio Ambiente do Município de Belém, que a classifica como uma trilha de percurso programado onde as interpretações e explicações sobre fauna e flora são realizadas por um guia que “é a alma de uma boa trilha” (FUNDAÇÃO... 2002, p. 23), pouco contribuiu como objetivava para o envolvimento mais participativo das comunidades ou à sensibilização dessas ao ecoturismo, nem a noção básica sobre esse ramo do turismo ou mesmo sobre o próprio turismo foi engendrado à população local pelo projeto de 2002. Em pesquisa realizada recentemente sobre o entendimento dos moradores das três comunidades envolvidas pela trilha apenas cinco (5) pessoas responderam saber o que é o ecoturismo em um universo de vinte e seis (26) famílias entrevistadas. Esse número diminui para três (3) pessoas se consideramos que as respostas de duas dessas pessoas em nada se relacionavam com essa atividade turística.

Tais fatores indicam que a preocupação de alguns moradores das comunidades é totalmente procedente e reforça a fala do morador da comunidade do Espírito Santo quando diz que a BELEMTUR não se preocupa em preparar a população, por exemplo, sobre os desmatamentos, cujas ocorrências foram intensificadas pelos moradores colocados à margem da participação da trilha, aprofundando os conflitos internos a cada comunidade e entre essas, como substrato, ampliando, como indica a Universidade Federal do Pará (2002, pp. 23, 24):

[...] os aspectos menos propiciadores de ações coletivas [...] O aspecto comunitário que o observador espera encontrar, oriundo das auto-denominadas “comunidades” é ao contrário, uma falsa convivência comunitária. Essas “comunidades”, por terem fundamento no trabalho pastoral da Igreja Católica, agregam os moradores em função da devoção a um santo ou santa. [...] Nas demais esferas da vida social, que não a religiosidade, tudo se resolve individualmente [...].

O potencial de integração dos valores naturais e culturais indutores da constituição das “paisagens notáveis”, característica essencial na configuração dos chamados “espaços de reserva de valor”, como os espaços destinados à prática do ecoturismo, acaba sendo enfraquecido pelos impactos ao espaço físico da Trilha Olhos D’Água, dificultando a continuidade das visitações a essa. Quanto menos valorizado pelo trabalho humano o meio ecológico maior a vantagem para um empreendimento voltado ao turismo ecológico, isso porque, em grande parte, como aponta Santos (1985, p.27 e 1999, p.32), “o meio ecológico já é meio modificado e cada vez mais é meio técnico” – tecnosfera.

A inserção das comunidades do Castanhal do Mari-Mari, do Caruaru e do Espírito Santo na esfera da atividade turística, muito embora nessa última de forma muito pontual, caracterizada apenas pela localização do restaurante que fornece as refeições aos turistas, provocou não só o agravamento das tênues relações coletivas dessas como das relações sociedade-natureza. Os aproximadamente 40m2 de floresta devastados intencionalmente pelo fogo na comunidade do Caruaru como represália às práticas turísticas da Trilha Olhos D’Água, muito provavelmente, atingiram espécies vegetais originárias de mata primitiva como a Andiroba (Carapa guianesis Aubi), árvore de grande porte que chega a atingir 30m de altura; a Castanha do Brasil (Bertholletia excelsa Humb e Bonpi); o Cupuaçu (Theobrama grandiflorum (Wilid. Ex. Spreng) Schum), uma espécie cujo fruto é muito apreciado. Esses exemplos florísticos, apenas algumas espécies das muitas encontradas em toda área de abrangência da trilha, compreende inúmeras possibilidades de uso pelas populações tradicionais da Amazônia como fornecedoras de madeira, fruto e remédio.

Se considerarmos a fauna que constituía habitat nessa parte de mata como o Jacana-preto (Jacana jacana), o Socozinho (Butoriades striatus), o Camaleão (Iguana iguana); a Cotia (Nasura nasura), a Preguiça de bentinho (Bradypus tridactylus), o tatu (Dasypus sp) e tantos outros que foram inventariados no Parque Ambiental de Mosqueiro e que pela similitude física desse com a trilha podem ser encontrados também nessa; o abalo ambiental provocado torna-se ainda maior.

A matéria natural enquanto recurso turístico projeta-se ao atendimento de uma delicada relação de produção, pois o turismo ao ensejar suas formas dominantes de privatização e mercantilização da natureza exige transformações na paisagem que a adeqüe aos anseios de uma demanda específica. Ao considerarmos o espaço da produção do turismo ecológico nas comunidades do Caruaru, Mari-Mari e Espírito Santo observa-se que essas adequações vêm agravando fatores e provocando a diluição de suas características exuberantes e singulares, sendo seu meio ecológico constantemente alvo de imprudências, negligências e imperícias do poder público municipal, dos técnicos da BELEMTUR e da população local, como relata uma moradora da comunidade de Caruaru5: “a própria floresta, nós estamos sentindo porque um senhor descampou um pouco a trilha para fazer carvão”. Segundo Cardoso (2000, p. 104):

[...] A preocupação pelas condições de vida dos moradores, bem como, a manutenção do equilíbrio e dos recursos naturais da ilha, são preteridos, em benefício dos interesses do poder sócio-econômico-político situado em Belém e que em última instância definem os destinos de Mosqueiro e de sua população. Os mosqueirenses percebem essa situação, em níveis mais imediatos: “tudo aqui é feito para o veranista, a gente não conta pra nada”.

A manutenção das condições de ordenamento do turismo descritas por Cardoso (IDEM) no desenvolvimento do circuito ecoturístico de Mosqueiro apresenta-se como substrato de uma tipologia do turismo que se focaliza essencialmente, como nos mostra Fenell (2002), na experiência e no aprendizado sobre a natureza, contribuindo para a conservação ou preservação destas. Portanto, o que se observa nos discursos do ecoturismo é a perpetuação da visão originária do termo natureza: “[...] Não há dúvida de que a cultura pode ser parte da experiência do ecoturismo; no entanto, a questão é que muito provavelmente ela é uma motivação secundária e não um dos fatores principais como no caso da natureza e dos recursos naturais” (OP. CIT. p. 53).

Procedendo dessa maneira o ecoturismo apresenta-se mais como fomentador de desequilíbrios que de sustentabilidade, pois desvirtua a complexidade embutida nesse objeto social que é a natureza, na visão de Coelho (1999) ao proceder assim, seus planejadores correm o risco de difundirem uma noção estreita desse termo, pois como afirma Diegues (1996) a natureza deixou de existir em seu estado puro. Nesse viés, verifica-se, por exemplo, que a área símbolo e principal marca desse tipo de turismo no mundo, a Amazônia, é habitada por várias populações indígenas, ribeirinhas, extrativistas, de pescadores, que possuem maneiras próprias de lidar com os objetos de seu meio, e estabelecem sistemas simbólicos próprios para o entendimento da natureza, como ocorre no entorno da trilha Olhos D’água.

Segmentos e redes: relativizando o natural e o humano na trilha do ecoturismo

Evidentemente, como nos mostra Santos: “O que aparece aos nossos olhos como natureza não é mais a natureza primeira, já é uma natureza segunda... Isso é fácil de constatar numa cidade ou numa zona agrícola e é menos perceptível em certas áreas onde as modificações impostas pelo homem são menos visíveis”. (1996, p.172). Então, preponderantemente engendra-se a necessidade de repensar a inserção de áreas florestais no circuito produtivo do turismo, pois os eventos do ecoturismo não podem mais se destinar simplesmente a criação, como diz Diegues (1996, p. 73), de espaços de “adoração da natureza” despojados da presença humana, principalmente os espaços baseados no modelo Norte Americano de “Unidade de conservação", se é que os defensores do ecoturismo pretendem seguir sua predisposição à seguridade.

Contudo, mesmo quando apresentam esse redirecionamento e apesar da variação de escala, os empreendimentos associados a esse tipo de turismo apresentam impactos sócio-ambientais ou distorções na distribuição de seus benefícios que os tornam suscetíveis a certos questionamentos e relativizações como atividade sustentável, a exemplo do agravamento de conflitos locais na área da trilha Olhos D’água com sua implementação. Em parte, esses impactos ou distorções são gerados porque enquanto um bem do meio técnico-científico-informacional os espaço do ecoturismo são ordenados por redes. As redes surgem como a nova arquitetura das conexões que dão suporte às relações avançadas da produção e do mercado, uma vez que é ela que dimensiona a organização geográfica das sociedades (SANTOS, 1985; 1999).

Portanto, quem controla as redes, determina o padrão geográfico das estruturas, imprimido-lhe como mostra Tavares (1999) a constituição de nódulos privilegiados dentro dessa rede, ou seja, como define Santos (1994) os espaços do mandar e os espaços do fazer. É por isso que os espaços do ecoturismo expressam cada vez mais um meio ecológico urbanizado, uma vez sendo controlados pelas redes de turismo mundial. Tais espaços acabam pelos fluxos de demanda e financeiro que a ele estão arrolados sobre o signo do preservacionismo configurando-se como nódulos privilegiados dessas redes, isso porque, segundo Santos (1999, p. 221): “As redes são técnicas, mas também são sociais [...] Animadas por fluxos, que dominam o seu imaginário, as redes não prescindem de fixos–que constituem suas bases técnicas - mesmo quando esses fixos são pontos. Assim, as redes são estáveis e, ao mesmo tempo dinâmicas [...]”.

O projeto ecoturístico implementado nessa porção do oeste mosqueirense desde sua criação arquiteta-se enquanto rede, visto que de início selecionou uma “paisagem virtuosa” onde foram destacados vários pontos para observação e apreciação da “natureza” pelos visitantes. Essa seletividade realizou-se de acordo com a intencionalidade de seus gestores (DIAS, 1995), especificamente - a BELEMTUR que controlando a rede controla a organização espacial da área. A seletividade fundada sobre a mobilidade crescente dos capitais, como indica Dias (op. cit.) é um marco na caracterização das redes, entretanto, são as relações entre fixos e fluxos que melhor as definem. Na trilha Olhos D’água essas relações são traçadas por um sistema de objeto e um sistema de ações edificado pela mediação das técnicas e racionalidades de uma rede global (ver organograma 01) articulada por um suporte infraestrutural de hotéis, agências de turismo, empresas de transporte e de marketing, restaurantes e bares, saneamento e circulação, etc.

A inserção da trilha ecológica Olhos D’água nessa rede global vincula-se à relação contraditória das redes dentro do processo de construção dos espaços do ecoturismo permitindo tanto a ampliação da consciência sobre a diversidade ambiental e cultural existente no mundo, através do contato com variado leque de culturas locais; quanto à saturação de imagens, criação e circulação inusitada de ícones para o consumo em grande escala: “a experiência individual direta com o ambiente de paisagem rústica e o nativo pitoresco”. É assim que as redes de comunicação informacional ganham primazia como rede de suporte do ecoturismo ensejando a produção e a comercialização do “verde”, e transformando-o, de acordo com Ribeiro, num “valor dos mais apreciados para a afirmação do individualismo contemporâneo já que, pretensamente, propicia um afastamento dos simulacros e das rotinas aos quais os indivíduos e suas redes sociais estão expostos no dia-dia(1991, p. 73). Nesse ínterim, parece que por um rastro de preservação histórica, cria-se um novo mito para o que La Blache denominou de problema de dosagem, referindo-se as possibilidades que o meio oferecia ao homem:

[....] Pelo contrário, à maioria de outros pensadores parte-se do homem para chegar ao homem; representa-se a Terra como “palco onde se desenrola a atividade do homem”, sem refletir que o mesmo palco tem vida. O problema consiste em dosear as influências sofridas pelo homem. (LA BLACHE, 1954, p.29)

A redescoberta das singularidades mediadas pelo meio proposta pelos novos estilos do turismo, mais personalizados e diferenciados, induzem a valorização crescente de “destinos mais primitivos, com infraestrutura mais rústica, original e integrada ao ambiente, aproveitando-se o material e as técnicas construtivas locais (LEONY, 1997, p. 54), parece ser o rastro dessa preservação histórica que imbuída da “necessidade pós-moderna” do retorno ao verde funda o novo mito, onde a dosagem da influência do meio sobre o homem tende a caracterizar-se como uma medida estática e a-histórica imposta pelos planejadores turísticos, culminando na sacralização do “ribeirinho”, da “população tradicional”.

Os empreendimentos ecoturísticos para possibilitarem o desenvolvimento local e a sustentabilidade dos ambientes devem renegar intervenções impositivas, a organização sócio-espacial das populações tradicionais não é um museu vivo, como nos lembra Figueiredo (1999, p. 87), onde se deva transformar qualquer curiosidade humana das comunidades visitadas em atração “circense” e atribuir-lhe um valor monetário, ou ainda, onde em nome do preservacionismo deva ser mantido estático, a-histórico; a cultura, nos diz Santos (1999, p. 269), é uma herança, mas também um reaprendizado das relações profundas entre o homem e o seu meio. Na Trilha Olhos D’água as peculiaridades da organização sócio-espacial local tem se realizado de maneira pouco integradora entre os moradores locais e os visitantes, inviabilizando o reaprendizado profundo de que trata Santos, um exemplo claro disso é a representação do fabrico da farinha de mandioca.

A inserção desse hábito popular ao circuito turístico tenta mediar o natural e o humano na trilha do ecoturismo em Mosqueiro, todavia, a simples representação do fabrico da farinha não é capaz de promover uma troca de experiências entre visitantes e visitados e de ambos com o meio ecológico, relação exacerbada pelos precursores do ecoturismo e pelos gestores da trilha olhos D’água, pois em muitos casos essa representação chega a ser tão artificial que a moradora da trilha que demonstra o fabrico chega a ficar constrangida diante de um grupo de turistas espanhóis ao ter que ir buscar farinha em sua casa para poder realizar a demonstração.

Nesse ínterim, a BELEMTUR imprime tanto um sistema de objetos quanto um sistema de ação que normatizam o espaço mosqueirense para atender os fluxos e refluxos do ecoturismo em escala mundial, como mostra o gráfico abaixo, não para uma apropriação efetiva desse espaço, mas para o consumo do conteúdo simbólico de suas paisagens.

A atividade ecoturística apropria-se não só do espaço físico, mas do conteúdo simbólico das paisagens, revestindo o espaço então de visões simbólicas, formadas por um projeto de construção imediata do mundo (BOURDIEU, 2003), como também, “por sonhos ou por arquitipos culturais sublimares (CONTI, 1997, p. 19). Ë, em grande parte, o simbolismo do “verde amazônico” o possibilitador da expressiva participação de visitantes estrangeiros à trilha Olhos D’água como mostra o gráfico acima. Para Santos (1999) esses fatores refletem a lógica precisa que a ordenação mundial impõe ao local e a maneira com que cada local lhe responde realçando “suas virtudes por meio dos seus símbolos herdados ou recentemente elaborados, de modo a utilizar a imagem do lugar como um imã” (OP. CIT., p.221). Na trilha Olhos D’água, em Mosqueiro, essa ordenação se expressa na composição de uma intensa rede como demonstra o organograma 01:

ORGANOGRAMA 01:
A REDE GLOBAL FORJADA A PARTIR/COM A TRILHA OLHOS D’ÁGUA EM 2004.
clip_image003

FONTE: Trabalho de Campo realizado em janeiro de 2004.

 

O organograma acima representa uma tentativa de ilustrar os fluxos e fixos que compõem os sistemas de objetos e de ações inscritos na rede do turismo ecológico na qual estão inseridos os aspectos naturais e humanos da trilha Olhos D’água, por meio desse é possível verificar em uma dada realidade aquilo que Santos (1999, p. 214) denominava de superposição de redes: “E onde as redes existem, elas não são uniformes. Num mesmo subespaço, há uma superposição de redes, que inclui redes principais e redes afluentes ou tributárias, constelações de pontos e traçados de linhas.” No organograma acima a rede principal do turismo ecológico vinculado a trilha mosqueirense está representada no centro pela linha azul, essa rede é acessada por inúmeros fluxos representados por outras linhas que, por sua vez, são articuladas pelas redes afluentes ou tributárias, onde hotéis, agências de viagens e de turismo, donos de bares, restaurantes etc. controlam e ordenam esses fluxos nas diversas escalas, desde a local até a mundial.

A intensidade das relações estabelecidas entre essas várias redes é diversa e pode ser percebida pela espessura com que as linhas se comunicam. Partindo desse pressuposto averigua-se que são os alemães os que mais procuram a ilha de Mosqueiro para desenvolver atividades vinculadas ao turismo ecológico, além deles, norte-americanos e franceses também compõem fluxos expressivos dentro da rede da trilha Olhos D’água, ao contrário dos brasileiros cujo fluxo mais relevante advém de São Paulo. Uma provável explicação para tal fato pode ser encontrada na existência, em grande parte, de refúgios naturais em todo o território nacional, e pela ainda primazia do turismo de sol e praia.

Entretanto, apesar da elevação dos fluxos destinados à trilha Olhos D’água, como os próprios moradores relatam, esses não se distinguem dos movimentos turísticos direcionados a outras porções da ilha que se restringem, como afirma Cardoso (2000), a um pequeno número de turistas “[...] que organizados em pacotes turísticos, estendem sua estadia em Belém, passando na ilha o tempo necessário para o City tour e às vezes para o almoço, não chegando a alcançar dez horas” (OP. CIT., p. 95). Contudo, esse curto intervalo de tempo de permanência dos turistas no local de recepção, na trilha ecológica de Mosqueiro, ao mesmo tempo em que é real a tendência a um prolongamento.

Como exemplo da tentativa de conciliação dos aspectos naturais e humanos dentro da trilha, além da casa de farinha (já mencionada em outra ocasião), através da qual se busca resguardar a singularidade da cultura amazônica; e da castanheira do Mari-Mari, uma espécie da flora local que dera nome a uma das comunidades abarcadas pela trilha. Esses nós privilegiados são interligados por fluxos representados no organograma pelas linhas azuis, cuja espessura indica a intensidade com que esses fluxos se relacionam com cada uma das três comunidades envolvidas pela trilha.

Numa abordagem sobre o espaço do ecoturismo é preciso, pois, relativizar a intensidade com que se denotam seus dois principais elementos: o natural e o humano, que analisados isoladamente repercutem coisificações. Essa relativização promoveria um redirecionamento do cunho excessivamente naturalista dos empreendimentos ecoturísticos, propiciando experiências autênticas e não programas, que funcionariam como importante forma de conscientização mediante a observação participativa dos turistas.

Na trilha Olhos D’água os indícios desse redirecionamento são quase inexistentes limitando-se a integração de um pequeno número de moradores locais em seu circuito, o que inviabiliza as experiências autênticas e por demais enriquecedoras. Essas experiências, de acordo com Rodrigues (2003), poderiam ser engendradas pela simples hospedagem nas residências locais que funcionaria como dinamizadora da população local integrando-a diretamente na atividade turística, como relata uma moradora local6:

Pode (as pessoas ao visitarem a trilha podem observar e conhecer o modo de vida existente na comunidade), se eles pararem meia hora para conversar com os moradores.Moradora da Comunidade do Castanhal do Mari-Mari, 30 anos de idade.

Entretanto, o turismo alternativo pautado no desenvolvimento conservacionista, ressingulador, identitário, participativo representaria, de acordo com Guattari apud Benevides (1997), um foco de “revoluções moleculares” orientadoras das práticas revolucionárias pós-socialismo real com base no local, tendo a questão da autonomia como central. Se a maioria da população não puder participar diretamente da gestão dos recursos sócio-espaciais, não ocorrerá um pleno desenvolvimento, esse segundo Souza (1997, p.18-19) é o:

Processo de superação de problemas e conquistas de condições propiciadoras de uma maior felicidade individual e coletiva, o desenvolvimento exige a consideração simultânea das diversas dimensões constituintes das relações sociais (cultura, economia, política) e, também, do espaço natural e social.

Em sua obra ‘Mudar a Cidade’ Souza (2002) apresenta a autonomia como mecanismo responsável por determinar o que ele chama de desenvolvimento sócio-espacial, ela estaria correlacionada a liberdade máxima dos indivíduos de planejar, executar e refletir criticamente sobre a sua situação e sobre as informações de que dispõe com igualdade de oportunidades, ou seja, a uma autonomia individual; e às instituições sociais que garantam justiça, liberdade e possibilidade do pensamento crítico, encarnadas e defendidas pela coletividade, ou seja, a uma autonomia coletiva. Isso determinaria o valor intrínseco e instrumental da autonomia denotando um caráter de qualidade de vida e justiça social aos indivíduos de uma sociedade. A liberdade dos indivíduos das populações tradicionais deliberaria sua autonomia para agir coletivamente, gerando mais justiça social, em outras palavras, maior oportunidade de participação direta desses nos processos decisórios relevantes à implementação das redes impostas pela demanda do ecoturismo.

Considerações finais

Fundamentalmente o turismo e o ecoturismo inclinar-se-ão a um desenvolvimento mais amplo quando proporcionarem um envolvimento real de todos os atores sociais nos processos de implementação de seus circuitos, Silveira (1997), ou seja, quando houver uma clara distinção entre a participação ampla em todos os estágios do processo de planejamento, implementação e controle de ações de desenvolvimento, e a simples manipulação de recursos humanos locais para a implementação de projetos, programas ou planos turísticos concebidos de fora e impostos à população de forma mais ou menos autoritária, Souza (2002). Entende-se, assim, que a participação local não se confunde com modelos que “informam” a população sobre as ações políticas, ou que essas imputem outros modelos ou propostas de desenvolvimento a sua localidade, por conseguinte, é a população local que deve selecionar que ou quais atividades quer para sua localidade e de que forma essas se espraiaram em seu território, consequentemente, a população da área de origem poderá decidir perder o dinheiro que o turista gasta no local se considerar que a atividade direciona o lugar à degradação ambiental e à prostituição, por exemplo.

O ecoturismo poderia contribuir para a tradição crítica dos movimentos de contestação radical à ordem estabelecida, Benevides (1997), contrapondo-se ao turismo de massa e a degradação socioambiental, imprimido os anseios dos grupos locais e contribuindo para minorar uma realidade marcada por heteronímia, disparidades e preconceitos, em vez de simplesmente se ajustar a ela, e nesse viés, de acordo com Souza (2002), apresentando-se sem ressalvas, como um fator de desenvolvimento sócio-espacial. Nesse contexto histórico e ideológico as propostas de ecoturismo, deixariam de ser ‘mitos modernos’ de ‘conservação do mundo’, que apregoam apenas retorno econômico (geração de emprego e renda) como forma de controle da degradação dos recursos naturais e, principalmente, de controle da/pela população local.

Referências bibliográficas

BENEVIDES, I. P. Para uma agenda de discussão do turismo como fator de desenvolvimento local. In: RODRIGUES, A. B. (Org.) Turismo e desenvolvimento local. São Paulo: Hucitec, 1997.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003.

CARDOSO, M. da P. A. Ilha do Mosqueiro: cenário de lutas amazônidas na trilha de sua sobrevivência. Belém: UFPA, CSE. Curso de Serviço Social, 2000.

COELHO, M. C. N. Reflexo sobre o ecoturismo na Amazônia. In: FIGUEIREDO, S. L. (Org.) O ecoturismo e a questão ambiental na Amazônia. Belém: UFPA/NAEA, 1999.

CONTI, J. B. A natureza nos caminhos do turismo. In: RODRIGUES, A. B. (Org.). Turismo e Ambiente: reflexões e propostas. São Paulo: Hucitec, 1997.

DIAS, L.C. Redes: emergência e organização. In: CASTRO, I. E. eti ali. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1995.

DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec, 1996.

FENELL, D. A. Ecoturismo: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2002.

FIGUEIREDO. S. L. Ecoturismo, festas e rituais na Amazônia. Belém: NAEA/UFPA, 1999.

FUNDAÇÃO PARQUES E ÁREAS VERDES DE BELÉM- FUNVERDE; COMPANHIA DE TURISMO DE BELÉM- BELEMTUR. Inventário Florístico da Trilha “Olhos D’água”: Comunidades do Caruaru e Castanhal do Mari-Mari, Distrito de Mosqueiro-Belém/PA. Belém, 2002.

LA BLACHE, V. de. Princípios de geografia humana. 2 ed. Lisboa: Cosmos, 1954.

LEONY, A. Circuito do diamante: uma abordagem do ecoturismo na Bahia. In: RODRIGUES, A. B. (Org.). Turismo e Ambiente: reflexões e propostas. São Paulo: Hucitec, 1997.

RIBEIRO, G. L. Ambientalismo e desenvolvimento sustentado: nova ideologia/utopia do desenvolvimento. In: Revista de Antropologia, USP, 34, 1991.

RODRIGUES, A. B. (Org.) Ecoturismo no Brasil: possibilidades e limites. São Paulo: Contexto, 2003.

SANTOS, M. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.

_______. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-informacional. São Paulo: Hucitec, 1994.

_______. Por uma geografia nova. 4 ed. São Paulo: Hucitec, 1996.

_______. A natureza do espaço: espaço e tempo; razão e emoção. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

SILVEIRA, M. A. T. da. Planejamento territorial e dinâmica local: bases para o turismo sustentável .In: RODRIGUES, A. B. Turismo e desenvolvimento local. São Paulo: Hucitec, 1997.

SOUZA, M. L. de. Como pode o turismo contribuir para o desenvolvimento local? In: RODRIGUES, A. B. (Org.) Turismo e desenvolvimento local. São Paulo: Hucitec, 1997.

________. Mudar a Cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand, 2002.

TAVARES, M. G. da C. A dinâmica da rede de distribuição de energia elétrica no Estado do Pará (1960 – 1996). Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. (Tese de Doutorado)

TUAN, Y. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo/Rio de janeiro: DIFEL, 1980.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Diagnóstico sócio-econômico e ambiental da Zona Rural do entorno do Parque Ambiental da Ilha de Mosqueiro. Belém: UFPA, 2002.

Notas

1 e 2.Informações obtidas em entrevistas realizadas, em Mosqueiro, em dezembro de 2003.

3. Informação obtida em trabalho de campo realizado, em Mosqueiro, em agosto de 2003.

4, 5 e 6. Informação obtida em trabalho de campo realizado, em Mosqueiro, em dezembro de 2003.