quarta-feira, 25 de abril de 2012

NA ROTA DO TURISMO: ITAPEUAPANEMA

 

Subindo o rio Pratiquara, o seu tributário Caruaru e entrando pelo igarapé Itapeuapanema, chegamos à tranquila povoação divulgada pela mídia no final da década de 1970, por ter recebido, segundo seus moradores, a visita perturbadora do OVNI denominado, na época, “Chupa-chupa”.

O nome do lugar, geralmente usado de forma abreviada (Tapiapanema), é de origem indígena (ita: pedra + peua: grande + panema: azar), significando “pedra grande azarada”.

Nessa povoação, que fica no interior da ilha do Mosqueiro, vive uma comunidade tradicional, tendo a pesca e a agricultura de subsistência como atividades econômicas e a Festividade de Santa Maria – no final de maio e início de junho – como seu evento religioso e profano mais importante.

No domingo passado, estivemos em Itapeuapanema para assistir à abertura do Campeonato de Futebol da localidade, que reúne vários times da área ribeirinha, e aproveitamos para captar algumas imagens:

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PESQUISE NESTE BLOG: Chupa-Chupa no Itapiapanema

sábado, 21 de abril de 2012

JANELAS DO TEMPO: CINE GUAJARINO

Autor: Wolney de Vasconcelos Dias

clip_image002 Ao fundo, da metade para cima, à direita, uma das poucas imagens da fachada do Cine Guajarino, que durou de 1912 até 1976, segundo Pedro Veriano, no livro Cinema no tucupi (Secult, 1999, p. 40).

 

 

“O primeiro cinema de Mosqueiro era localizado no Mercado Municipal. Não chegamos a conhecê-lo, ali. Quando isso aconteceu, já funcionava em prédio próprio, construído a mando de Artur Pires Teixeira, a quem, aliás, muito deve Mosqueiro. Morava ele no Porto Artur, local assim denominado por ter sido pioneiro em construir, ali, sua chácara. De carruagem, com uma parelha de cavalos bem tratados, com faróis laterais e cocheiro, visitavam, ele e sua família, algumas vezes, a Vila e o cinema.

A vendedora de ingressos era dona Alice: simpática, cabelos grisalhos, muito atuante. O porteiro era o seu marido, o Sr. Valdomiro, que vendia frutas no mercado, onde tinha um aparador. Eles acompanharam por muitos anos toda a trajetória do Cine Guajarino. De início, o cinema era mudo, animado apenas pelo conjunto musical do Paizinho, que tocava seu violino, ou, quando o filme era triste, roncando sobre o rabecão -- apelido que dávamos ao contrabaixo. O conjunto ia assistindo ao filme e, conforme a cena, atacava com o repertório. Quando se tratava de uma cena amorosa, ouvia-se a tão decantada valsa:

“Tão mimosa, graciosa e angelical,

Nasceu em meu jardim uma linda flor,

Naquela noite santa de Natal,

No momento em que juramos eterno amor.

No entanto, você a tudo esqueceu,

Trocando meu coração por outro ser.

E flor, ao ver então sua ingratidão,

Murchou e se desfolhou até morrer.”

Pode acontecer não estar correta a letra; todavia, é assim que nos ocorre no momento.

O Cine Guajarino foi inaugurado em 1931, segundo constava na sua placa de inauguração. Nessa época, tínhamos apenas 7 anos. Marido e mulher tomaram conta do cinema anos a fio. Foi quando tivemos consciência de que no cinema o seu operador era o Sabá, antes havendo sido o Sr. Alvarez (pai dos nossos amigos Alfredo, Francisco e Oderfla). E Sabá, já em nosso pleno entendimento, era homem de sete instrumentos. Curioso, consertava relógios e tantos outros aparelhos. Juntou-se a Margarida, que fora empregada de nossos avós.

Eu fazia a pintura das tabuletas do cinema. Esmerava-me da melhor maneira, e minha paixão por cinema era tão grande que passei a ajudar o Sabá no seu serviço, enrolando os carretéis das fitas e aprendendo a ser operador. Esse pessoal compunha o quadro vivo do cinema de nossa geração.

A coqueluche da época eram os seriados que passavam aos sábados. A rapaziada fazia de tudo para não perdê-los. Para arranjar dinheiro, tudo era válido, até mesmo tirar ovo de galinha choca, quando se descobria. Dizia-se que o camaleão os havia comido, todos. Nós tivemos sorte por o Comandante Ernesto ter passe gratuito para quatro pessoas, dado pelo Sr. Artur Pires Teixeira.

Os seriados mais famosos foram Os perigos de Paulina, Sertão desaparecido, Trem ciclone, com o formidável John Wayne, e A visão fatal, com o terrível Bela Lugosi. Deste seriado temos gratas recordações, pois, pela primeira vez, vimos a televisão: o chefe da gangue dava suas ordens através do video e logo desaparecia. Quando vimos isso, todos gritaram: -- É mentira!

Como poderia ser possível transmitir a imagem através de distâncias? Felizmente hoje estamos vivendo essa realidade e tantas outras. Espantava-nos o seriado de Flash Gordon, com Buster Grabe, do planeta Ming, e as viagens espaciais. Se vivermos mais alguns anos, quem sabe se até não faremos uma?... Na marcha do progresso, nada é impossível!

Nesse tempo, o cinema mudo estava superado, pois a novidade despontava com o sonoro, mais tarde o colorido. O cinema continuava a ser a única opção de lazer na Vila. Havia duas matinês aos domingos.

Nesse tempo, o ruim mesmo era não saber escolher a namorada. Teria que ser uma que não tivesse muitos irmãos, senão saía cara a brincadeira, pois todos iam, diziam seus pais, para vigiar a irmã. Foi bem marcante essa passagem do Cinema Guajarino em nossa vida”

                                                  ***

O AUTOR: Wolney de Vasconcelos Dias (1924-2012), irmão de Joana Maria de Vasconcelos Dias e tio do Prof. Alcir Rodrigues, foi Agente Distrital de Icoaraci e Prefeito de Primavera e Capitão-Poço. Viveu sua infância e juventude no Mosqueiro e aqui quis ser sepultado. Seu amor pela Ilha era tão grande a ponto de querer que suas cinzas fossem lançadas na praia do Areião, recanto que o viu crescer. Wolney Dias escreveu suas memórias abordando sua vida no Mosqueiro, nas décadas de 1930-40-50, crendo que vivenciava uma vida no Paraíso Terreal, como denominava a Ilha.

FONTE: http://moskowilha.blogspot.com.br/2012/04/cine-guajarino-o-cinema-de-mosqueiro.html#links

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Mosqueiro já teve Cinema

sexta-feira, 20 de abril de 2012

NA ROTA DA HISTÓRIA: A ADMINISTRAÇÃO DA ILHA



Desde a época de Freguesia, em que Igreja e Governo Imperial traçavam os destinos da Província do Grão-Pará, a ilha do Mosqueiro vem dependendo das decisões administrativas emanadas de Belém. No princípio, os Presidentes da Província e, depois, os Intendentes Municipais, já nos tempos de Vila e de Distrito, promoviam ações diretas visando ao desenvolvimento do lugar.
Com a riqueza proveniente do ouro branco das seringueiras amazônicas, a Capital do Pará, no final do século XIX e início do XX, conheceu o progresso em seu processo de urbanização e o desenvolvimento artístico-cultural aos moldes europeus. É nesse período que a Ilha recebe a visita dos estrangeiros, vindos para a reconstrução de Belém, os quais aqui difundiram o lazer de sol e praia nos fins-de-semana, tão comum nos países da Europa. Não demorou muito para que a elite belenense adotasse tal costume e começasse a construir belíssimos casarões de praia, cuja arquitetura revela a mistura de estilos de além-mar com características da região. Esse interesse singular motivou os governantes a promoverem melhorias na Ilha, sempre em função dos nossos primeiros turistas ou “veranistas”, como eram chamados.
Sem dúvida, entre os primeiros Intendentes Municipais de Belém, dois nomes se destacam pelos relevantes serviços prestados à Ilha: Alcindo Cacela e seu sucessor Abelardo Leão Conduru. O primeiro protegeu os barrancos da Vila, construindo as escadarias da praia do Bispo, os acessos rampados e um muro de arrimo, que resiste até hoje ao ímpeto das marés; o segundo fundou o bairro do Farol (inspirado no ideal de Zacharias Mártyres), saneando e urbanizando uma área de várzea que assustava a todos pela alta incidência de malária. Outro Intendente Municipal, também admirador e frequentador assíduo da Ilha como os dois citados, merece ser lembrado pelos mosqueirenses: Cypriano Santos, cujo nome batizou a Praça Matriz, pois ali, o administrador de Belém decidiu comemorar o Primeiro Centenário da Adesão do Pará à Independência, no dia 15 de agosto de 1923.
O historiador Augusto Meira Filho, em seu livro Mosqueiro Ilhas e Vilas, assim fala dos primeiros anos do Distrito: “O Mosqueiro, como Distrito da Capital, há muitos anos vem sendo dirigido por um Agente Municipal, de nomeação do Prefeito de Belém. Antes de 1930, essas designações partiam dos Intendentes Municipais e sempre houve interesse político em se fixar na direção da ínsula pessoas gradas vinculadas às condições político-partidárias de cada época. Tempo houve, por exemplo, nas primeiras décadas deste século (séc. XX), que o domínio do partidarismo político no Mosqueiro se evidenciou pelo prestígio de um representante altamente credenciado do Partido Republicano do Pará, na pessoa do Coronel Lourenço Lucidoro Ferreira da Motta. Sua residência centralizava a vida social do Chapéu Virado e dali mesmo dirigia os destinos de seu partido, na função de Presidente da Comissão Executiva do Partido Republicano, no Mosqueiro. Já comentamos em outro tópico desta contribuição sobre a sua bela residência, mais tarde em outras mãos e que acabaria sendo demolida há pouco tempo, para dar margem à edificação do atual Edifício de Apartamentos “Lilian-Lúcia”. Fora o famoso “coronel Loló Motta” figura simpática e ativa, amante do Mosqueiro e muito fez pelo Chapéu Virado de seu tempo.”
Por outro ângulo, o escritor Cândido Marinho Rocha, em seu romance Ilha Capital Vila, retratando os idos de 1931, assim focaliza os primeiros tempos do Distrito: “A população dividia-se em duas partes distintas: os regionais e os veranistas. Aqueles residindo e vivendo na Ilha, de profissão pescadores, carregadores, açougueiros, merceeiros, um que outro operário, além de funcionários municipais. A Sub-Prefeitura era sempre administrada pelo afilhado político do Prefeito de Belém, o Comissário de Polícia era frequentemente um oficial reformado da Brigada Militar do Estado, o vigário nem sempre era um líder, mas quase sempre operoso, engenhoso, ensinando primeiras letras, fazendo teatrinho. A Igreja era pobre, pobre era a paróquia. Que mais podia o padre fazer? Dividia-se alegremente entre as duas espécies da população da Ilha, sem hostilizar a qualquer delas, recebendo dádivas dos veranistas e procurando salvar as almas dos regionais. Veranista é sempre gente de alma já perdida, pensava o pároco. E por isso caprichava na alma dos insulares.”
Com autoridade de subprefeito no início, os Agentes Municipais, a partir de 1930, foram: Carlos Bentes (1930-1942), José Pedro (1942-1943), José Soares da Silva (1943-1945), José Pedro (1945-1947), José Caraciollo ( 1947-1948), José Raimundo Gomes Filho (1948), João Braga (1949), Elmiro Pereira (1950-1951), Cândido Messias (1951-1953), Luiz Xavier de Sousa (1953), João Lopes Braga (1953-1956), Eimar Tavares (1956), Antonio Gomes da Silva (1956), Cândido Messias (1956-1957), Carlos Gomes da Cunha (1957), João Araújo Correia (1958), Carlos Gomes da Cunha (1958-1959), Augusto Nogueira (1959), Álvaro José de Almeida (1960), Duil Ferreira Costa (1960), João Augusto de Oliveira (1960), Carlos Arruda (1960-1961), Almenacés de Oliveira (1961-1962), José Maria dos Santos Raiol (1962), Agnaldo Santos (1962-1964), Luiz Sousa Bentes (1964-1965), Mário Azevedo (1965-1966), Osvaldo Medrado (1966), Carlos Santos (1966), Olívio Chaves (1966-1970), Paulo Pontes e Sousa (1970-1971), Heronildes Gomes Moura (1971-1974), Jacy Gonzaga da Igreja (1974-1984), Raimundo Jorge Aflalo Pereira (1984-1985), José Olívio de Figueiredo Câmara (1985-1987), Carlos Gomes Araújo (1987-1989), Arnaldo Silva Pinheiro 1989-1990), Edson José Levy Gomes (1990-1993), Cléa Patrícia Fernandes e Silva (1993), Maria Diva Palheta Bittencourt (1994-1996), Edson José Levy Gomes (1996), Paulo Sérgio Miranda Uchoa (1997-2000), Getúlio Waldisaney B. Trindade (2000-2004), Pedro Hamilton Nery (2005), Maria da Glória M. de Albuquerque ( 2005-2008), Ivan Santos (2008-2012), Edinei Calixto (2013), Gilberto Nascimento (2013...).
A Agência Distrital do Mosqueiro, que já foi Subprefeitura, perdeu tal status ao ser transformada em Distrito Administrativo no início do atual milênio, ficando a administração da Ilha irremediavelmente presa ao orçamento e decisões das Secretarias Municipais de Belém. Em outras palavras, atualmente a figura do Agente Municipal é meramente política, pois o cargo não lhe dá poder de decisão, bem diferente, por exemplo, da época de um Jacy Gonzaga da Igreja, gestor que chegou a ser considerado o melhor prefeito do Norte-Nordeste, despertando a admiração do povo e a inveja de alguns políticos.
E por falar na administração da Ilha naquela época, conheçamos um relato do historiador Augusto Meira Filho em seu livro Mosqueiro Ilhas e Vilas:
“Dos últimos tempos, podemos destacar a gestão do Engº. Heronildes Moura que, em seu programa de Obras, desenvolveu um trabalho de profundidade, dando ao Mosqueiro melhoramentos dignos de especial menção. Além dos serviços de rotina, sempre ativados e perfeitos, esse ilustre administrador efetuou o trabalho de arrimo na praia do “Porto-Arthur”, salvando, ao mesmo tempo, a beleza do litoral e a rodovia perimetral que ali se situa. Igual empreendimento diz respeito às obras do arrimo da praia do Murubira, cuja conclusão já foi efetuada na gestão Igreja. Na gestão deste último Agente Municipal do Mosqueiro, o Engº. Jacy Gonzaga da Igreja, a Ilha tem estado sob a permanente vigilância de seu gestor. Realizando plano de obras de rotina, paralelamente, efetua obras de profundidade, como o preparo definitivo da praia do Murubira e a próxima que irá resolver velho problema da praia do Ariramba. Esses logradouros são da maior importância na vida do balneário. Também, neste período, sob a responsabilidade do DMER-BL foi construída nova ponte sobre o igarapé do Cajueiro, obra vultosa necessária, imprescindível à circulação litorânea dos veículos que chegam e saem da Ilha para Belém e vice-versa. Mosqueiro tem recebido melhoramentos em todos os setores de sua vida administrativa e social. Melhoram as instalações na Vila, abrem-se novas artérias nos bairros do Chapéu-Virado, do Murubira, no Ariramba, em Carananduba, no Sucurijuquara e avenidas marginais às praias unem, agora, Maraú, Paraíso, Caraoara ou Caruara e as que se seguem na direção da Baía do Sol. Mosqueiro, hoje, dispõe, na Vila, de um belo Hospital (Unidade Mista Hospitalar), construção da gestão Fernando Guilhon (Estado) e Octávio Cascaes (Município) e a assistência médica nos Postos de Saúde de Carananduba e Baía do Sol, com presença diária de médicos e enfermeiros. Ainda na mesma administração, ganhou a Vila sua Estação Rodoviária e apresta-se para receber a segunda fase do Mercado Público, diversas escolas e centros de recreio para escolares. Inaugurou seu Camping nas proximidades do Chapéu-Virado e prepara-se para receber um grande investimento, na região do Natal do Murubira, as notáveis instalações da “Associação dos Servidores Civis do Brasil” (que inicia suas atividades conforme programação já estabelecida). Para esse importante empreendimento, foi lançada a sua pedra fundamental em 29 de outubro de 1977.
Também as avenidas Beira-Mar do Farol e Chapéu Virado receberam completa remodelação, seguidas pelas de Porto Arthur e do Murubira.
Depois do advento da rodovia Belém-Mosqueiro, a Ilha ganhou as instalações telefônicas da Telepará, os serviços de abastecimento d’água da Cosampa nas praias e na Vila, pelo SESP uma pré-urbanização interna nos termos da Lei nº 6.362 de 3 de maio de 1967, que estabeleceu normas técnicas, para construções e urbanização na Ilha do Mosqueiro e que vem sendo respeitada pelo poder público e pelos interessados, construtores e proprietários, na Ilha.
As praças antigas e tradicionais têm recebido permanente conservação e preservação e as vias de circulação de viaturas em toda a faixa de transporte no seu interior vêm sendo constantemente melhoradas, alargadas, pavimentadas e tornadas em condições especiais de uso e funcionamento.
A pavimentação asfáltica no Mosqueiro teve seu início na gestão do Prefeito Moura Carvalho, em 1963. A iniciativa deve-se ao Secretário de Obras, Engº. Carepa que determinou e orientou a execução desses serviços, entregando-os, nesse tempo, aos técnicos do DMER-BL Sílvio Aflalo e José Machado. Desde então, o velho sistema de empiçarramento simples seria substituído pela pintura de asfalto, impermeabilizando as pistas e permitindo um razoável tratamento superficial de quase todas as principais artérias do Mosqueiro. Hoje, tais serviços alcançam a maioria da rede de tráfego da Ilha, tendo muitas ruas, avenidas e estradas suplementares já recebido o tratamento em “sand-asphalt”, proporcionando uma solução ideal ao programa de pavimentação no Mosqueiro. Foi depois daquele feito de 1963, com o asfalto-pintura da Vila ao Porto-Arthur, que a rodovia BL-17 (parte na Ilha da Belém-Mosqueiro) receberia, igualmente, o mesmo tipo de melhoramento, só mais tarde substituído pelo atual, de primeira classe e efetuado para atender aos reclamos finais das obras da Ponte que definiu, em caráter permanente, os destinos da comunicabilidade rodoviária entre a Capital e a grande Ilha Balneária do Mosqueiro, obra majestosa inaugurada em janeiro de 1976 pelo Presidente Ernesto Geisel.
O preparo das diversas modalidades de pavimentação no Mosqueiro obedeceu a Planos intensivos do DMER-BL que, em última análise, é que dirige e comanda o futuro da Ilha. Hoje, o Mosqueiro é uma dependência administrativa e técnica do Organismo Rodoviário Municipal. Seu próprio Agente Municipal é o Chefe de uma Divisão referente àquelas áreas subordinadas diretamente à chefia geral do Departamento Municipal de Estradas de Rodagem. No território do Mosqueiro reside a maior faixa rodoviária do município de Belém. Dadas essas razões, muito natural e lógico que as velhas dependências políticas do Mosqueiro passassem à supervisão do DMER-BL que não só planifica e executa como também dirige os destinos do maior balneário paraense...”
Esse relato de Augusto Meira Filho é um retrato perfeito do Mosqueiro há quase quatro décadas. Nos anos que se seguiram, a população da Ilha cresceu aproximadamente seis vezes e a ocupação de seu território foi gigantesca e desordenada, às vezes motivada pela especulação imobiliária ou por uma pseudo reforma agrária, jamais vista no país. É óbvio que os problemas iriam aumentar consideravelmente. Não entendemos, portanto, o modelo de administração atual, pois a Ilha é vista como um bairro de Belém, um bairro distante constituído de outros bairros e separado por outros municípios: ilha geográfica, ilha administrativa, que não é Comarca da Capital! Daí o descrédito do povo!
Restam-nos as palavras de Meira, esse eterno apaixonado pela Ilha:
“As lutas são tanto maiores quanto as fazemos vibrar em nosso entusiasmo de pioneiros, exatamente, quando o povo começa a acreditar no governo, no empreendimento público, vendo-o crescer a olhos vistos. Quanto de nossa crença foi desgastado naqueles momentos de indagação e de esperança! Mas a vitória aí está patente e irreversível.”

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 104, 105, 106 e 109.
FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALANGOLA EDITORA. Belém-Pa, 1973- p. 32.
FONTE: Arquivo pessoal de Manoel Brígido dos Santos
Pesquisa de campo

segunda-feira, 16 de abril de 2012

JANELAS DO TEMPO: O PORTA-LARGA

Autor: Cândido Marinho Rocha

“Manuel Porta-Larga era um tranquilo lusitano, proprietário, há muitos anos, do pequeno Bar com Restaurante, localizado em loja de uma só porta, bastante larga. Pelo que tornou-se o conhecido e estimado Senhor Manuel Porta-Larga. O estabelecimento era o que de mais calmo havia na Vila. Bem localizado, à praça Matriz, procurado por pessoas de categoria, notadamente senhoras e senhores idosos, alguns dos quais encomendavam refeições, que Manuel mandava fazer pela mulher, exímia cozinheira. Fora, entre o balcão e a porta da rua, duas bancas de ferro, nunca ocupadas por beberrões ruidosos. Tudo ali era calmo em torno de Manuel Porta-Larga. Era tão cientificamente calmo que nunca ou quase nunca sorria, para não exibir emoções. Perguntado certa vez por que não ria, respondeu:

-- Jesus Cristo não ria.

Outro detalhe: não vendia fiado. Quem não gostasse, que lá não fosse. O movimento por isso era reduzido. Poucos clientes lhe serviam. Uns porque eram barulhentos, outros porque eram caloteiros, outros porque vinham em magotes, além dos que não pagavam com dinheiro trocado. Nem de conversa Manuel Porta-Larga era amigo. Bom Dia, Boa Tarde, Boa Noite estamos conversados. Seu comércio fechava rigorosamente às 20 horas. A ninguém mais atendia após o encerramento do serviço. Nem ao rei nem à rainha. Sentava-se à porta, mulher ao lado, nos silêncios, compreensões. Passavam pessoas. Boa-noite, seu Manuel. Respostas: Huuum, huuuuumm.

Era muito pobre por tudo isso. Felicidade colocava par na sua vidavida. A riqueza seria para ele aflição e ruína. Nada lhe faltava. Casa, comida, mulher, roupa lavada, ares mosqueirenses, respeito, crédito. Mas, paradoxalmente só comprava a vista. Hoje, se pretendesse utilizar o serviço do crediário, seria impossível. Não dispunha de qualquer fonte de informações quanto à regularidade de pagamento dos seus compromissos, pois só os tinha com a própria mulher. Porta-Larga aos sessenta anos de idade era um lago cercado de silêncio por todos os lados.”

“Manuel era um homem de estatura mediana, magro, rosto octogonal, braços longos, pernas curtas, livre de bigode e barba, dentes amarelos, cabelos ralos, raros. Era feio.”

“Manuel Porta-Larga era assim parecido com uma esfinge de carne sem ser viva. Era assim como um estado intermediário entre cadavérico e comatoso.”

(FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALANGOLA EDITORA. Belém-Pa, 1973- pp. 167, 168 e 169)

domingo, 15 de abril de 2012

CANTANDO A ILHA: NIHIL

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

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PRAÇA CIPRIANO SANTOS, CHAMADA DE MATRIZ, DÉCADA DE 1960. Fonte: PENTEADO, Antonio Rocha. Belém – estudo de Geografia Urbana. Belém: UFPA, 1968, p. 385, v 1.

A vítrea garrafa, em vez da cachaça,

Vomitou-me umas doses de remorso.

Mesmo assim as bebi – só de pirraça!

Ao meu redor, meditam em seu ócio,

 

Soturnas sombras nesta bela praça.

Pessimistamente, descansam meus ossos

Doídos, carcomidos pela traça

Do álcool e do fumo. São destroços

 

De minh’alma, da verdade entediada.

Estas mangueiras, estes companheiros,

Esta cachaça, esta lua no céu

 

(Pairando triste nesta madrugada),

São fiéis testemunhos derradeiros

Do fim da linha diluída em fel…

 

 

PS: Na última postagem feita por mim, fiz referência direta à praça Cipriano Santos. Neste momento, o poema diretamente ligado a esta praça serve, também, de pretexto para eu postar essa imagem dela, na década de sessenta. Salvo engano, é inédita na Internet. Devemos agradecer ao autor do livro, Antonio Rocha Penteado. Obrigado mesmo!

FONTE: http://moskowilha.blogspot.com.br/2012/03/nihil.html#links

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: O MORCEGO GIGANTE

 

Herança de nossos ancestrais morobiras? Manifestações do espírito amazônico latente em cada pedaço de mata, igarapé, rio ou beirada de praia? Produtos do imaginário criativo de nossos ribeirinhos? Quem sabe dizer? O certo é que as histórias fantásticas da ilha do Mosqueiro sempre existiram e existirão sempre, pois – assim parece – aqui se encontra um misterioso portal entre a ficção e a realidade.

Já o grande escritor Cândido Marinho Rocha, em seu romance Ilha Capital Vila, ao contar a história do jovem adormecido nos idos de 1931, assim dissera: “A vila porejava versões, as mais incríveis. Mundiado, para todos os efeitos, estava ele, o jovem adormecido. Mundrunga havia sido colada ao rapaz. Mas, quem teria sido? Mãe de qualquer menina lá dos confins de Carananduba? Trabalho de Pajé pago por moça prejudicada? Bebida encantada? Boto ou entidade das praias? Teria sido alguma cobra grande encantada que virava princesa e o assustara? Ou carreira de medo de alguém ultrajado pelo jovem adormecido? Matinta Pereira ou porca de duas cabeças que apareciam no Largo da Matriz a desoras?”.

Wilson Amanajás, em seu livro Mosqueiro, afirma que “... existem contos sobre a casa das visagens, a Ilha dos Pretos Matintapereira, Cachorro-Fantasma, a Luzerna da Estrada, a Porca Lobisomem, o Encantamento do Boto e as Almas do Outro Mundo.”

Até o emérito pesquisador e historiador Eduardo Brandão, sem dúvida um apaixonado pela Ilha, rendera-se ao fascínio desse mundo encantado, produzindo poética obra literária ricamente ilustrada.

Quanto a mim, só posso repetir o que disse em meu livro sobre o assunto:

“Parece que os entes misteriosos e os seres sobrenaturais que vagavam dentro da noite ficaram presos no passado.

Entretanto, esses espíritos errantes ainda existem. Espreitando por trás das seculares rochas das praias, rondando os antigos casarões, emergindo dos rios e igarapés, movendo-se por entre as árvores, surgem inesperadamente diante do olhar estupefato daqueles que, na solidão, ousam penetrar em seus domínios, tentando descobrir os mistérios da Ilha.”

E foi no mês de março que, ao visitarmos o blog MOSQUEIRENSE de José Carlos Oliveira, encontramos a surpreendente matéria assinada por Sérgio Franco e postada por JKCAMPOS sobre o morcego gigante capturado nas matas da Ilha.

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Falso ET era na verdade um morcego gigante

 

“Foi capturado na madrugada desta quarta-feira o famoso ET que assustou moradores de Mosqueiro e Colares na década de 70. Trata-se de uma espécie rara de morcegos gigantes da Indonésia, que fora do habitat natural desenvolveu-se mais do que os da sua espécie. Com essa descoberta, cai por terra a estória contada pelos moradores dessas ilhas, que disseram terem sido visitados por ETs que chupavam o sangue dos mesmos e também dos animais que criavam.

Sergio Franco

Postado por JKCAMPOS ”

FONTE: http://mosqueirense.blogspot.com.br/2012/03/morcego-capturado-em-mosqueiro-qual-sua.html

Mais surpreendente que a foto foi a comparação feita do tal morcego com o famoso Chupa-Chupa dos anos 70. Acredito que, por mais ingênuos que fossem os habitantes das ilhas, naquela época, jamais confundiriam esse animal com OVNIs ou seres extraterrestres, mesmo porque existem relatos com descrições nada semelhantes.

Melhor comparação faríamos com a ignota figura descrita no “causo” relatado neste blog, em antiga postagem, com o título O homem que foi malinado pela Matinta:

“Quando a minha mãe olhou para cima viu que com a lua estava claro, mas a vista dela escureceu; ela viu algo que tinha asas compridas, cabelos brancos na cara, com altura mais ou menos de dois metros, uma calça encardida, a blusa velha e unhas grandes. A minha mãe a descreveu como um anjo, mas um anjo do mal que ia voando lentamente e passou por cima da minha casa.”

PESQUISE NESTE BLOG:

Chupa-Chupa no Itapiapanema

Chupa-Chupa na Baía do Sol

O homem que foi malinado pela Matinta

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: O JOVEM ADORMECIDO

 

Autor: Cândido Marinho Rocha

 

“No outro dia pela manhã, quando Rosamor chegou, o jovem não estava mais adormecido. Muito pálido, ainda na cama, começava a olhar ao redor, nitidamente assustado. Temendo algo que não estava ali. À tarde, Anacibe reanimou-se, bebeu caldo quente, sentou, conversou generalidades. Perguntou quanto tempo estivera adormecido, mas não acreditou senão quando olhou e viu a folhinha. Estava marcando quarta-feira e o “negócio” acontecera no sábado à noite.

-- Sim, senhor meu Deus, do que escapei!

E, alto, para todos ouvirem:

-- Quem me curou?

-- O Mário da Sétima Rua.

-- É verdade. E eu, que tanto depreciava dele.

-- Você não se lembra que ele curou também Mainha?

-- Mas Mainha estava doente, tinha febre. Eu estava morto.

-- Você sentiu-se morto?

-- Sim, mãe, morto, com um medo sem fim de voltar à vida.

-- Eu vi você dormitando, apenas soluçando, choramingando, pálido e sem ânimo. Seu pai disse que era peraltice e malandrice. Peralvilhices. E que não acreditava na sua doença. Tinha razão?

-- Tinha, eu não estive doente. Estive com medo, mãe, um pavor pânico.

-- Qual foi o motivo, meu filho?

Anacibe ficou calado. Mas em seguida disse:

-- Vou contar tudo. Foi assim:

No “sereno” da festa da Rosamor, vi uma bela morena que me olhava com ternura. Ora, eu estava mesmo procurando uma nova aventura. Como sabes, conheço todas as moças do Mosqueiro, mas aquela eu nunca vira. Estava bem vestidinha e cheirava a priprioca. Cheguei perto dela e dei boa noite. Ela respondeu nas faceirices, dengosamente. Vi que era possível a aventura. Fiquei ali ao lado, conversando. Perguntei se ia à festa? Disse que não. Que já ia pra casa. É longe? Indaguei. Não é perto nem longe. Quer ir comigo? Sim, foi sua alegre resposta. E seguimos de mãos dadas, pelo escuro das ruas. No meio do caminho, quis beijá-la.

-- Não, repetiu, na rua não. Vamos pra casa.

Fiquei intrigado, mas segui adiante. Depois de mais alguns passos, tentei de novo a abordagem.

-- Não, repetiu, na rua não. Em casa é melhor.

Está ouvindo, mãe?

-- Já estávamos na Quinta Rua, cada vez mais escuro e deserto e assim mesmo confiava na acolhida em casa da moça. E enlaçados já, caminhávamos.

Nessa altura, o jovem ficou silencioso por bastante tempo. Narração interrompida, a mãe também silenciosa. O moço em visões.

-- Deixe, filho, descanse. Depois você continua.

-- Não, tenho de acabar. Preciso dizer a alguém o que me aconteceu.

E assim falou:

-- Ao chegarmos à Sexta Rua, casas já sumindo, só capinzal e chão acidentado, quis recuar, mas a moça não concordou.

-- Já estamos pertinho, falou, voz macia e meiga. Vamos em frente.

-- Para não parecer medroso, aceitei o convite e continuei. Foi quando me pareceu que eu seria assaltado, maltratado e roubado. E disse a ela: “Olha, não deves fazer com que eu seja assaltado pelos teus companheiros porque estou armado e será pior para eles todos”. Ela parou, sorriu e me abraçou dizendo querido, querido, querido. Pelo que amoleci e fui adiante. Ao chegarmos na Sétima Rua, em cuja esquina fica o cemitério, as circunstâncias me pareceram normais, sem possibilidades de encontros perniciosos pois tudo era calma e silêncio. A noite escura, as estrelas belíssimas lá em cima. O sereno caía, havia umidade, um certo friozinho nas mãos. Um braço meu no grande oblíquo da garota, outro no grande peitoral. Uma felicidade generalizada nos nervos. Tudo era paz, promessas de amor. Sorria já do meu espanto impróprio. Ela mantinha suas mãos ocupadas também: uma no meu grande dorsal outra no bíceps. Era tudo uma serenidade.

-- Assim, mãe, continuou o moço, ia eu sendo levado quase sem saber para onde. Já nem pensava mais na casa dela, nem nada. Nada de pensamentos sujos. Tudo para mim era então limpo e romântico. Após estarmos um instante parados, abraçados, é que notei. Estávamos encostados ao portão do cemitério que, como sabes, permanece sempre aberto.

Então ela falou assim: “Entra, querido, entra, vem comigo, aqui é minha casa. Vês aquela pedra branca, ali é o meu leito. Vem comigo, querido”. E me segurava as duas mãos e me puxava para dentro daquela escuridão terrível. Pensei a princípio que fosse uma brincadeira, mas nada pude articular. Recusei-me a segui-la. Foi quando se desfez numa gargalhada e eu então compreendi que devia ser um fantasma. Apavorado, safei-me das suas mãos e corri até perder o fôlego. Não sei onde caí morto de medo e de cansaço. Foi assim que me encontraram, mãe?

-- Sim, filho. Você estava meio morto mesmo.”

(FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALANGOLA EDITORA. Belém-Pa, 1973- pp. 95, 96 e 97)

MOSQUEIRANDO: Conforme narrativa do autor, o fato se passa na noite de São João de 1931, época em que o bairro do Maracajá praticamente não existia, mas falava-se no Umarizal, nos limites do atual cemitério. Sendo assim, há um engano na localização do cenário, pois o referido cemitério fica situado entre a Quinta e Sexta Ruas e não na esquina da Sétima.