terça-feira, 25 de setembro de 2012

NA ROTA DA HISTÓRIA: A PONTE DO MOSQUEIRO

 

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Crônica da cidade (25/07/1967)

Autor: Nilo Franco

Na tarde bonita, dentro da beleza sem medida que está Mosqueiro, eu subia calmamente da praia maravilhosa do Farol, àquela hora esplendendo como se fosse um recanto gostoso do Arpoador. Subia na direção da sede soberba do Netuno Iate Clube, quando um “psiu” cordial me fez parar. Era a tarde da última sexta-feira e o chamado me vinha do velho e querido companheiro e amigo Dr. Augusto Meira Filho. Eu passava diante de sua casa, no começo da estrada do Diamante, bem em frente ao Netuno. Meira Filho queria conversar comigo. Conversar e mostrar coisas.

Por coincidência, eu escrevera naquele mesmo dia sobre a ponte do Mosqueiro, e era exatamente sobre a ponte que me queria falar o amigo Meira. Fez-me sentar e, ali, cercado da esposa e dos filhos queridos, abriu, diante de meus olhos, uma planta grande, um metro e tanto, quase dois de comprida por uns setenta centímetros de altura. Era a planta do que vai ser a ponte do Mosqueiro. Vi detalhe por detalhe, o confrade e amigo explicando tudo, falando sobre minha crônica, dizendo-me dos planos para que aqui tudo seja breve, esplêndida realidade. E falava, falava sem parar, incontido no seu entusiasmo, no seu grande e glorioso entusiasmo pelo empreendimento. Um entusiasmo assim como o que ele pôs na construção da estrada, já agora e graças, sobretudo, a esse entusiasmo, tornada uma bela realidade.

São mil trezentos e tantos metros de ponte, a planta vinda do escritório Noronha, do Rio de Janeiro, um dos mais autorizados realmente de todo o país. E Augusto Meira Filho me pôs a par dos detalhes de como vai ser construída a obra.

-- Este – diz ele – é o resultado do estudo a que você alude na crônica de hoje.

E conta-me que um grupo de entusiastas, cujos nomes vai desfilando para o meu entusiasmo, também estudou, cuidadosamente, a coisa. Analisou as dificuldades do Governo na hora presente, mediu a impossibilidade de o Governo tomar a si a tarefa neste instante, embora não se tratasse de empreendimento dispensável, mas, antes, de obra realmente indispensável e urgente, de grande benefício público.

Feito tudo isso, debatido assim o assunto, encomendados e trazidos do Rio o projeto, as plantas todas e o orçamento da obra, o grupo saiu para a tarefa de estudar como custeá-la.

Tudo pronto, custará a ponte três bilhões de cruzeiros antigos. Então, o grupo concluiu que esses três bilhões haveriam de ser obtidos através da contribuição popular. Seriam vendidas três mil ações a um milhão de cruzeiros cada. O comprador pagará esse milhão suavemente. Se dispuser de um capital maior, pagará em vinte prestações mensais de 50 mil cruzeiros. Se não, fará esse pagamento em quarenta prestações mensais de 25 mil cruzeiros. Em troca, considerando o trabalho de pioneirismo realizado, o portador da ação deverá ter trânsito livre na ponte, sem pagar pedágio, toda a vida. E estuda-se uma outra compensação, já que não precisa que o comprador tenha carro para se beneficiar do empreendimento. Assim, uma coisa como dividendos, a cada fim de ano, dos lucros do empreendimento, coisa que terá de ser autorizada, naturalmente, pelo Legislativo estadual.

O fato é que a ponte nada custará ao Governo e, pronta, ao Governo será entregue, para exploração, resguardados os direitos dos que contribuíram para essa realização.

Meira me conta que já conversou muita gente para adquirir ações e da parte de todos com quem falou encontrou a melhor receptividade. A colocação das ações vai ser rápida, senti isso, falando, depois, a diversas pessoas na Ilha, todas pressurosas em contribuir para tão grande empreendimento e ansiando por vê-lo já tornado realidade.

E justo, bem justo é que assim aconteça. A ponte é uma necessidade imperiosa, a obra mais bela e mais suntuosa que se terá realizado, para alegria e orgulho da população. Uma obra que perpetuará a lembrança de quantos para ela contribuírem.

Foi pena que não pude ficar para o lançamento oficial da ideia, ocorrido domingo à tarde, na sede do Netuno. Meira reclamara minha presença ali. Ia convocar a nossa bela Sônia Ohana, para dar ao acontecimento o prestígio da Beleza da mulher paraense.

-- Tenho certeza – disse – que a nossa Sônia estará conosco, comandando o grande empreendimento!

Eu tenho, também, a mesma certeza. Apenas, não pude responder presente ao acontecimento. Precisava estar àquela mesma hora, já aqui na cidade, como de fato fiz. Mas, estou com o amigo Meira, estou com todos os que vão tomar a ombros a tarefa de construir a ponte.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 455 e 456.

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