sexta-feira, 24 de agosto de 2012

JANELAS DO TEMPO: MOLECAGENS DO PASSADO 6

Farahzinhos: A Saga de Dois Garotos que Belém não Esqueceu

Autora: Coely Silva

Durante muitos anos,Joseph e Alexandre desmistificaram todos os pseudos valores de uma cidade provinciana, moralista e mal saída de uma época absolutamente imune às luzes de fora. Analisando bem o fenômeno Farahzinhos, chega-se à conclusão que, localizados neste contexto, Joseph e Alexandre nada mais foram do que dois garotos sadios, generosos e de cuca fresca, e que souberam assimilar como ninguém o espírito liberal do pai, o tunisiano Ben Fouad Ben Yskandar Ben Farrah, que no início da década de 20 aportava em Belém para ficar e adotaria o nome de Raymundo Farah.

Joseph e Alexandre, desse modo, realmente escandalizaram a sociedade belemita com suas façanhas e, apesar de serem “rapazes de família” como discriminadamente se dizia na época (e ainda se diz hoje), eles imprimiram às suas molecagens o espírito de aventureiros que nunca foram, apesar dos impulsos fugazes para novos ares.

De certo modo, os Farahzinhos, pelo espírito aberto e liberal, podem ser considerados cidadãos do mundo. E estofo internacional não lhes falta: pelo lado materno, eles descendem (vejam só!) das seguintes figuras: D. Afonso Henriques, o Conquistador, primeiro Rei de Portugal; D. Henrique II, Rei de Castela; D. Fruella II, Rei das Astúrias, Galiza e Leão; Carlos Magno; Wallia,, Rei Godo da Espanha. Ufa! É dose pra leão e uma porrada nos falsos “cabeças coroadas” de Belém. Tal o Brasão publicado que não deixa mentir e o livro “No Roteiro dos Azevedo e outras Famílias do Nordeste”, do Sebastião de Azevedo Bastos que os Farahzinhos caçaram e conseguiram – está com a Drª. Ambrosina de Azevedo Maia Sampaio, também descendente daquele ilustre tronco. Dona Maria de Lourdes Dantas Cavalcante Farah (que o velho Farah chamava gostosamente de “Lórdes”), mãe dos gêmeos Farahzinhos, era uma paraibana de boa cepa, que contrabalançava com homéricas surras nos gêmeos a excessiva complacência e generosidade do velho, para quem e sempre “meninas son inocentes”. E Joseph e Alexandre prestam um tributo sem igual ao velho, personagem quase que central desta entrevista (os dois lagrimaram falando do pai, eu vi!). Mas não o poupam: é hilariante e despida de falsa proteção à imagem paterna a denúncia que fazem de que o velho Farah comprava à Igreja indulgências aos montes, para “garantir o lugar da família no céu”. Quantos não fizeram isso e escondem.

E é uma experiência nova entrevistar Joseph e Alexandre, ouvir eles relatarem suas aventuras, curiosamente na terceira pessoa, e sentir que eles aos 39 anos, ainda conservam o mesmo espírito da época de ouro dos Farahzinhos, até nos modos e com suas calças surradas e camisetas mambembes. Durante um dia inteiro, eles percorreram os locais mais queridos do Mosqueiro, e foram fotografados pelo Wagner Bill em mais uma molecagem: durante cerca de cinco minutos, os veranistas e a população do Mosqueiro ouviram no sábado, dia 10 pela manhã, o alegre bimbalhar do sino da capela do Chapéu Virado, numa vívida e emocionante recordação de uma Era alegre e divertida: a Era dos Farahzinhos.”

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FONTE: Silva Coely. Especial de Férias de O Estado do Pará, de julho de 1978.

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