terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

JANELAS DO TEMPO: TRIBUTO AO SIBAMBA

Autor: Carlos Augusto Santos

 

Escolhemos esse tema para o enredo desenvolvido, no Carnaval de 2010, pela E. S. Estação Primeira de Maracajá, com o intuito de homenagear um ilustre personagem que o mundo do samba perdeu: ele que muito representou a esse gênero da música brasileira, na noite, nas praias, nas casas de show, nas escolas de samba, enfim, nos palcos da vida.

Seu nome era João Francisco da Silva. Nasceu em Petrolina, Pernambuco. Na condição de andarilho, ainda muito jovem, resolveu sair da sua pequena cidade, em busca de melhores condições de vida em outros centros mais desenvolvidos. Assim, saiu caminhando, conhecendo novos lugares, novas pessoas e, também, novas oportunidades.

No Maranhão, passou por várias cidades e conheceu vários costumes e manifestações religiosas como, por exemplo, a Umbanda. Tornou-se assíduo frequentador dos terreiros e fez muitas amizades com pais-de-santo do lugar.

Sempre com seu espírito aventureiro, um dia João Francisco saiu do Maranhão e caminhou rumo às terras paraenses, escolhendo a ilha do Marajó, mais precisamente a cidade de Soure, para passar um tempo. Foi, nessa cidade do Pará, que ele conheceu o carnavalesco e empresário Mário Couto, hoje senador da República. Ao convite de Mário Couto, Sibamba (como era conhecido) chegou até Belém.

Nessa época, a Escola de Samba Arco-Íris era considerada a revelação do Carnaval paraense, trazendo grandes estrelas do Rio de Janeiro para desfilarem na destacada agremiação do bairro do Guamá: a Nega Piná; Celso, Mestre de Bateria; Laila, Diretor de Harmonia; o carnavalesco Joãozinho Trinta; Carlinhos de Pilares, grande intérprete de samba da Caprichosos de Pilares, na época no grupo de elite.

Destacavam-se também Fernando Gogó de Ouro e Sibamba, que cantava, sambava e fazia acrobacias com o pandeiro. Tudo isso num tempo em que o Carnaval de Belém chegou a ser o terceiro do Brasil.

Em Belém, Sibamba viveu de modo bastante ativo. Ele era muito requisitado para fazer shows de pagode, serestas e concursos de calouros da Rádio Clube do Pará. Cantava para os grandes notívagos de Belém, como Alencar do Lapinha e João Bosco Moisés do Rancho. Na ilha do Mosqueiro, ele vivia sempre acompanhado por boêmios, pagodeiros, músicos e pessoas ligadas à vida noturna mosqueirense.

Sibamba passou a ser considerado um show man. Era repentista, pagodeiro, seresteiro, intérprete de samba-enredo e fazia acrobacias com o seu inseparável pandeiro. Sambava também com uma leveza impressionante. Suas apresentações, sempre, foram um grande sucesso: sua voz e suas interpretações encantavam as pessoas.

Financeiramente, ele nunca recebeu o reconhecimento compatível com o seu talento. Nos últimos tempos, já bastante abatido pelo alcoolismo, ele cantava nas barracas da praia e, ao final de suas apresentações, pedia ajuda aos admiradores e amigos presentes. As pessoas colocavam moedas e às vezes, generosas cédulas dentro do chapéu do artista.

Dos grandes palcos de sucesso por onde passou, aos poucos as portas se foram fechando, até que a última luz que iluminava o seu show se apagou. Sibamba foi vencido pela dependência maléfica do vício e não teve mais forças para se reerguer.

Para nossa tristeza, no dia 26 de dezembro de 2008, ele mergulhou e desapareceu para sempre, nas águas da praia do Areião. O corpo do artista nunca foi encontrado. Aos cinquenta anos, a grande voz emudeceu.

O nosso objetivo é tentar mostrar, para as pessoas ligadas ao samba e à música de um modo geral, o lado brilhante e positivo desse grande artista que foi Sibamba e que, para o nosso orgulho, cantou e alegrou muita gente, quando se apresentava na Estação Primeira de Maracajá, aqui na Ilha. Os nossos sinceros agradecimentos à Srª. Maria do Socorro Lima Santos e aos seus seis filhos, que nos ajudaram, fornecendo dados para a feitura deste relato.

MOSQUEIRANDO: Carlos Augusto Santos também compôs o samba-enredo da E. S. Estação Primeira de Maracajá, naquele Carnaval de 2010, homenageando SIBAMBA, o saudoso sambista pernambucano, que parou no Pará e escolheu a ilha do Mosqueiro como a sua última morada. Carlos Augusto assim escreveu:

“A luz do palco se apagou,

Mas o show não terminou.

Nós, sambistas, não vamos esquecer

E guardamos os aplausos pra você!”

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