sábado, 31 de dezembro de 2011

CANTANDO A ILHA: MOSQUEIRO E COPACABANA

Autor: Cândido Marinho da Rocha

Todos os dias no Mosqueiro são feriados. Vive-se num eterno domingo. Quem assim decidiu foi o próprio Anacibe, o moço das infelicidades buriladas. Há um estado permanente de êxtase naquela gente. Acredita-se, agora, tantos anos depois dos acontecimentos aqui expostos, que só em Copacabana são encontradas pessoas tão desocupadas e tão felizes. Aquele ir e vir carioca, aquelas piadas, aqueles olhares sorridentes, que só não são encontrados nos motoristas de ônibus, tudo existia na Ilha paraense. A mesma predileção para a conversa fútil, confiada e humorística; a mesma facilidade com que se encontram e se comunicam homens e mulheres; o mesmo sentido de superior indiferença pelo Futuro; a mesma despreocupação; a mesma galanteria – tudo foi copiado por Copacabana daquela bela Ilha chamada Mosqueiro.

Veja-se que estamos em 1933 e ainda hoje, quarenta anos depois, Mosqueiro e Copacabana se assemelham em relações humanas de toda a espécie. Além disso, no Mosqueiro existem praias que são belas enseadas, tal como Botafogo, Flamengo, Copacabana, pois assim são Farol, Morubira, Ariramba e São Francisco.

A Ilha é cercada de amor por todos os lados. Copacabana por todos os lados é amor. A Ilha acolhe e reverdece as mulheres. Copacabana é a princesinha que a todos reanima. Na Ilha, mulheres belas se despem desinibidas. Em Copacabana, elas descem despidas de inibições. As noites de Copacabana são luminosas e protetoras. As do Mosqueiro são acolhedoras e discretas. As manhãs, lá e cá, são uivos de animais no cio. As tardes, lá e cá, amparam projetos de novos programas.

Aceita-se a palavra de Anacibe. Mosqueiro é um eterno domingo.

Domingo festivo, colorido, ventilado, saudável, afrodisíaco.

Quem fala em morrer em Copacabana? Quem vai ao Mosqueiro para morrer? Morte é palavra morta entre mosqueirenses e copacabanenses. Uma tem água fria nas praias, outra tem água morna. Ambas, sugestões acariciantes ao pecado. Portanto, sugestivas e pecadoras são ambas, com suas antenas a captarem olhares lúbricos, gestos eróticos, palavras embriagadoras. Ambas enfeitam-se com os reinos animal, mineral e vegetal. Com o panorama combinado de mulheres, do mar e das flores. Ambas protegem, escondem, aconselham sonhos de felicidade. Ambas são deixadas por Deus para uso de um povo despreocupado, que não se contenta mais com a admiração que lhe provoca a minissaia. Ambas as praias que querem mais, muito mais, se Deus quiser.”

(FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALANGOLA EDITORA. Belém-Pa, 1973- pp. 129 e 130)

MOSQUEIRANDO: Eis que mais um ano se vai! As tristezas, os problemas que a custo resolvemos, os projetos não concluídos vão que vão ficando no passado. Só restarão a saudade dos momentos felizes que vivemos intensamente e a certeza alegre de um novo recomeço. Sim, se Deus quiser, nós continuaremos a fazer a História! Queremos agradecer a vocês, internautas da cultura, a visita frequente a este blog e desejar a todos um FELIZ 2012!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

JANELAS DO TEMPO: UM NATAL EM MOSQUEIRO

Autor: Gabriel Pereira

“Quando o assunto é travessura, não dá para esquecer de dois irmãos: os gêmeos Alexandre e Joseph Farah. Filhos de Raymundo e Maria de Lourdes, os Farahzinhos, como eram conhecidos por todos que frequentavam a ilha nos anos 50 e 60, eram dois que pareciam um, mas valiam por dez, segundo Leonam Cruz, amigo da família.

A história aconteceu na véspera de Natal, no bairro do Farol. Naquela época, era comum algumas famílias abastadas de Belém, proprietárias de belas residências, passarem as férias escolares de fim de ano em Mosqueiro. Isso incluía o Natal.

As festas natalinas promovidas por essas famílias eram tão animadas, que se transformavam em atrações na Ilha. Depois dos festejos, as crianças se recolhiam em seus quartos. Elas ficavam ansiosas pela chegada do Papai Noel, que traria os presentes delas. Entre as crianças estavam os irmãos Farah. Fingindo que iam dormir sossegados, ficavam à espreita observando, por entre as frestas da porta, a chegada do bom velhinho. O que não demorava para acontecer.

Certo dia, Yêda, irmã dos Farahzinhos, os procurou para fazer uma confissão: “Eu descobri que aquela história de Papai Noel é uma fraude, uma grande mentira. E eu tenho como provar”. Depois do desabafo, ela levou os dois à casa do caseiro Manoel Cearense, onde encontraram as roupas de Papai Noel e três sacos de cetim vermelho, com os nomes das famílias de Raymundo Farah, Pedro de Castro Álvares e Marcos Athias.

Embora entristecidos com a descoberta, não perderiam a viagem. Foi então que resolveram aprontar uma... Eles trocaram as etiquetas com os nomes dos destinatários.

O que, no primeiro momento, foi uma decepção, logo se transformou em uma grande diversão para os gêmeos travessos. A exemplo de anos anteriores, foram se recolher cedo para esperar o desenrolar dos fatos. Por meio das frestas das portas e janelas, os Farahzinhos puderam, em meio a gargalhadas, observar três “Papais Noéis” atrapalhados. Eles corriam de uma casa para a outra, com os sacos nas costas tentando desfazer o engano. Eles nem imaginavam como aquilo tinha acontecido, afinal haviam conferido tudo com antecedência.”

FONTE: Pereira, Gabriel - “Um Natal em Mosqueiro"\in __ Revista Ilhas Amazônicas: o arquipélago de Mosqueiro – parte 1, Ed. 01, JAN 2006. P. 40.

MOSQUEIRANDO: A figura simpática e bondosa do PAPAI NOEL sempre existirá de verdade no coração daqueles que conseguem SENTIR e VIVER o verdadeiro ESPÍRITO NATALINO. Fazer a alegria de uma criança, cujo mundo é sempre repleto de projetos fantasiosos e de esperanças, é perpetuar a figura do BOM VELHINHO. Comemorar o NATAL do MENINO JESUS, levando ao próximo o AMOR, o PERDÃO, a SOLIDARIEDADE e um ABRAÇO FRATERNO é ter consciência de que se vive o momento de RENASCER PARA UMA NOVA VIDA. FELIZ NATAL!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A ARTE NA ILHA: ARTES PLÁSTICAS NA BAÍA DO SOL

 

Dentre inúmeros artistas e artesãos do Mosqueiro, três nomes sobressaem nas artes plásticas cultivadas na Baía do Sol.

No início da década de 70, ali, na região leste da Ilha, despontava a figura simpática do escultor Raimundo Neves Monteiro, cuja principal obra O BICHO DE SETE CABEÇAS, peça artisticamente talhada em uma raiz de bacurizeiro, por longo tempo, enfeitou a pracinha da praia do Bacuri, lembrança perdida nas sendas do passado. O talentoso artista, que era funcionário da Escola Lauro Chaves, também fazia esculturas em cimento.

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Raimundo Neves Monteiro e seu dragão (FONTE: A. MEIRA FILHO, 1978)

Na pintura, ressaltamos o nome do artista Lilás Valente, cuja obra intitulada A LOBA VAI TER FILHO foi contemplada com o “Prêmio Aquisição”, no Concurso Arte Pará 1991.

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A loba vai ter filho” – 1991 – Técnica mista – dim. 46 x 58

Outro pintor mosqueirense tem produzido belíssimas telas. Falamos do artista Hernandes Havishe, também natural da Baía do Sol, cujas obras vêm merecendo comentários elogiosos. Eis algumas:

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FONTES:

http://www.baiadosolsempre.blogspot.com/search/label/BICHO%20DE%20SETE%20CABE%C3%87AS

http://www.baiadosolsempre.blogspot.com/search/label/a%20loba%20vai%20ter%20filho

http://www.baiadosolsempre.blogspot.com/search/label/Hernandes%20Havishe

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

JANELAS DO TEMPO: O CANHÃO DO CHAPÉU VIRADO

 

Sabe-se que, lá pelos idos de 1943, quando estava em curso a Segunda Guerra Mundial, uma tropa de infantaria ficou aquartelada na conhecida Rua da Bateria. O antigo prédio do Colégio Nossa Senhora do Ó funcionava como quartel-general, enquanto os prédios da Escola Municipal Donatila Santana Lopes e da FUNPAPA serviam de alojamentos para os soldados.

Na praia do Chapéu Virado, que, no século anterior, fora palco da sangrenta batalha da Cabanagem, instalou-se um canhão, uma espécie de avançado defensor da Capital, pronto a enfrentar embarcações inimigas que adentrassem a baía.

Essa peça de artilharia, a princípio, despertara estranheza e temor na população simples da ilha. Depois, certa indiferença, acabando por servir de motivo a situações jocosas, bem ao gosto do autêntico mosqueirense.

Para conhecer melhor os detalhes dessa história, vamos recorrer ao grande escritor da literatura paraense Cândido Marinho da Rocha:

“Certo dia, um capitão de artilharia e um tenente de infantaria dirigiam o desembarque de uma peça de artilharia na praia do Chapéu Virado. Os brasileirinhos tímidos daquelas orlas espantaram-se com a novidade. Perguntavam-se:

-- Mas então que é isso já?

-- A guerra é nossa também?

-- A guerra não é do povo de lá de lá?

-- Como então eles vão poder atacar a gente?

-- Já viram que coisa pesada e triste como esse um aí?

-- E agora, se eles vierem?

Respostas esquivas, miúdas, assim:

-- Melhor prevenir que remediar.

-- Que sabemos nós de guerra?

-- Esse um tenente Carlindo não fala pra gente?

-- Só porque está fardado, não é? Esqueceu da gente? Das festas da Babá e das serenatas com o finado Estrela? Axi...

-- Ele até que faz que ri por cima do galão, mas falar mesmo, necas.

-- Deve ser respeito a ess’ outrão capitão “disque” Luiz Felipe.

-- Deve ser, deve ser – cantavam os brasileirinhos.

A peça, ali, pescoço estirado, com a venta na direção da baía, muito vigilante, soldadinhos elegantes ao lado, em faceirices, difíceis.

Moreninhas brasileirinhas encabuladinhas chegando, de tardinha, mansinhas, apalpandozinhas o bichão, em tremuras delicadas. Risos delas. Sisudez dos soldados, defensores do litoral brasileiro.

Até que o canhão era bonito, mas não dava tiros. Era aquilo ali parado como jacaré dorminhoco, jaburu pensativo, coruja rasga-mortalha, gavião do dia, espiando longe. Alguns meses depois da instalação, vencidos os primeiros temores, provado que a peça era mesmo mansa, parecença de maracajá com pinta de onça, como onça mas sem onça ser, os brasileirinhos das beiradas já se divertiam com a imobilidade do bicho.

-- Tu já viste como ele nem pisca?

-- Tu já viste como se parece com ponte de buriti em cama de lama?

-- Nem vento nem tempo faz ele bulir.

-- Nem sobe nem desce, nem vai nem vem.

Eram assim, ingênuos, brincalhões, humoristas, ausentes dos fatos das longas profundas verdades das guerras. Às vezes, quando o sol parecia muito vermelho, muito grande, ao descer do outro lado e mergulhar como que na baía, os brasileirinhos comentavam:

-- Chiiii, cunhado, hoje a guerra foi feia. Vê como o sol está melado de sangue. Aquilo é sinal de matança por lotes.

Mas, já na seguinte úmida madrugada, na rede pobre, longe iam dos brasileirinhos os tristes pensamentos da guerra.”

“Não se sabe como foi que começou a brincadeira. Quando os chocalhantes ônibus passavam em frente ao canhão, gritavam todos:

-- Olha o bicho!

Como que a comando, a turma se curvava nos assentos para que, diziam, não fossem atingidos por disparos.

Acabou incorporado à paisagem. Crianças brincavam perto, sem medo algum. Reuniam-se mocinhas à noite ali sob a proteção da arma amiga, e cantavam, namoravam e eram felizes.

Paradoxalmente, foi um dia de tristeza quando chegaram barcaças à praia para conduzir a Belém aquele pedaço da História da Humanidade. Retirava-se decentemente da mais pacata e amorosa ilha do mundo, sem um tiro sequer.

Os oficiais diretores da operação, obsequiados pelos moradores, não eram mais considerados invasores, haviam cumprido com o dever para com a ilha, que parecia sorrir, contente. Todos queriam ajudar a empurrar a peça, todos queriam falar a Carlindo, velho amigo, e com orgulho, viam-no assim, porque fora habitual freqüentador de festas e serenatas e praias. Bem bonito, farda verde-oliva, perneiras, talabarte, duas estrelas azuis em cada ombro, quepe aprumado, postura correta, a colaborar, na qualidade de Encarregado dos Serviços de Embarque da Região.”

(FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALANGOLA EDITORA. Belém-Pa, 1973- pp. 178, 179 e 180)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A IMAGEM E O TEMPO: A CAPELA DE SANTA CATARINA DE SENA

 

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No dia 19 de agosto de 1963, foi lançada a pedra fundamental da Capela Santa Catarina, no Colégio Nossa Senhora do Ó, Chapéu Virado (antiga Estrada da Bateria), segundo Pergaminho existente no Arquivo do Arcebispado, no qual consta a Ata da Bênção, cuja cópia autêntica, cedida ao historiador Augusto Meira Filho pelo então Arcebispo Metropolitano D. Alberto Gaudêncio Ramos, tem o seguinte teor:

“Aos 19 dias do mês de Agosto de 1963, perante o Exmº. Sr. Arcebispo D. Alberto Gaudêncio Ramos, o Revmº. Vigário, Padre Nazareno Menezes Moreira, o Exmº. Sr. Aguinaldo Santos, Sub-Prefeito Municipal, Sr. Delegado de Polícia, Marcolino Aguiar, Dr. Lameira, Monsr. José Maria do Lago, Irmã Maria Josefina Stortini, D. Joana Gaspar (digo) Grassar, Diretora do Grupo Escolar “Inglês de Souza”,, Profas. E demais autoridades presentes ou representadas, pessoas gradas da cidade e Vila. Benzeu com as orações litúrgicas a 1ª. pedra (urna canônica), depositando dentro desta a Ata, os jornais do dia, algumas moedas correntes do país, tendo assinado ante as pessoas acima mencionadas e demais fiéis presentes. Nada mais havendo a tratar, encerra-se esta com as formalidades do costume.

(as) + Alberto Ramos, Arcebispo; Pe. Nazareno Menezes Moreira, Vigário; Monsr. José Maria do Lago; Aguinaldo Santos; Luiz Lima Bentes; Irmã Ma. Josefina Stortini; Irmã Rosa Miranda; Irmã Clarisse Gomes da Costa; Irmã Maria Petronila Arcene; Irmã Aurea de Oliveira Lima”.

FONTE: (Meira Filho, Augusto – “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa Ed., 1978, pp. 97 e 98).

MOSQUEIRANDO: Passados quarenta e oito anos, vamos desfazer um pequeno equívoco ocorrido no citado documento histórico: o nome registrado como D. Joana Gaspar e, de imediato, corrigido pelo escriba para Grassar não corresponde ao verdadeiro nome da antiga Diretora do Grupo Escolar “Inglês de Souza”: Joana Lisboa Agrassar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: OS PASSOS DA DEVOÇÃO À SENHORA DO Ó



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   N. Srª do Ó- Catedral de Évora, Portugal.              Imagem antiga na ilha do Mosqueiro.

01. Ano 656 d. C. (Toledo, Espanha): A festa da Anunciação, transferida para o dia 18 de dezembro, celebra Nossa Senhora da Expectação.
02. Ano 1148 (Torres Novas, Portugal): Devoção a Nossa Senhora de Almonda.
03. Ano 1187 (Portugal): Devoção a Nossa Senhora de Alcáçova.
04. Ano 1212 (Portugal): A imagem passa a ser chamada de Nossa Senhora do Ó.
05. Ano 1545 (ilha do Mosqueiro, Pará): Francisco de Orellana chega à Baía do Sol, em 18 de dezembro, dia consagrado à Santa.
06. Ano 1653: Os jesuítas instalam a Missão Myribira na ilha do Mosqueiro e trazem a devoção à Nossa Senhora do Ó.
07. Ano 1709 (Olinda, Brasil): Tem início o culto na Capitania de Pernambuco, com o donatário Duarte Coelho.
08. Ano 1719 (Olinda, Brasil): Em 28 de julho, os olhos da imagem vertem lágrimas.
09. Ano 1795: Cópias da imagem são levadas para a ilha de Itamaracá e São Paulo.
10. Século XVIII (Sabará, Minas Gerais): Os bandeirantes introduzem a devoção à Santa e é construída, em estilo indo-europeu, a Capela de Nossa Senhora do Ó.
11. Século XIX: A Irmandade de Nossa Senhora do Ó inicia o culto na ilha do Mosqueiro, venerando a Santa em pequena capela, na praça do povoado.
10. Ano 1868 (ilha do Mosqueiro, Pará): Em 10 de outubro, o Cônego Manuel José de Siqueira Mendes cria a Freguesia do Mosqueiro, sob a égide de Nossa Senhora do Ó, desapropriando a capela da Irmandade para transformá-la em Igreja Matriz.
11. Ano 1869: Em 02 de abril, o Bispo da Província do Grão-Pará Dom Macedo Costa designa como primeiro pároco da Freguesia do Mosqueiro o Padre Manuel Antônio Raiol
12. Ano 1869: O Padre Manuel Raiol assume a nova paróquia e transfere o cemitério que existia na praça, área contígua à capela, para o local onde se encontra atualmente, na Travessa Pratiquara.
13. Ano 1914: É inaugurada a Igreja Matriz da ilha do Mosqueiro.
14. Década de 1920: Tem início a Procissão do Círio na ilha, com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré saindo da Casa-sítio dos Irmãos Maristas, na antiga estrada da Praia Grande.
15. Ano 1929: O Círio passa a ocorrer no 2º domingo de novembro, por determinação de D. João Irineu Joffily.
16. Década de 1950: A imagem de Nossa Senhora do Ó substitui a de Nossa Senhora de Nazaré e o Círio é realizado no 2º domingo de dezembro, com seu trajeto ampliado para a Capela do Sagrado Coração de Jesus, no Chapéu Virado.
17. Ano 1965: Em 12 de dezembro, dia do Círio do Mosqueiro, chega à ilha, pela primeira vez, a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré e participa da Procissão.
18. Ano 2008: Em 05 de outubro, em comemoração aos 140 anos da Paróquia, foi apresentada pelo pároco Pe. José Maria da Silva Ribeiro e abençoada pelo Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Orani João Tempesta, a nova imagem de Nossa Senhora do Ó, criada exclusivamente para a Ilha
19. Ano 2011: No dia 11 de dezembro, próximo domingo, realizar-se-á o Círio de Nossa Senhora do Ó, a maior festa da cristandade mosqueirense.
PARTICIPE DO CÍRIO DE NOSSA SENHORA DO Ó, NO PRÓXIMO DOMINGO, NO MESMO DIA EM QUE OS PARAENSES DE NASCIMENTO E DE CORAÇÃO, VOTANDO EM UM PLEBISCITO HISTÓRICO, DECIDIRÃO O FUTURO DO NOSSO ESTADO: DIVIDIR OU NÃO? EIS A QUESTÃO! QUE A SENHORA DO Ó ILUMINE A TODOS! FELIZ CÍRIO!

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APRENDIZES NO MARAVILHOSO CAMINHO DA MÚSICA HOMENAGEIAM A SENHORA DO Ó COM O HINO À PADROEIRA:


sábado, 3 de dezembro de 2011

JANELAS DO TEMPO: UMA VOZ QUE VEM DO PASSADO

Autor: Augusto Meira Filho

A rodovia sonhada e desejada por tantos e por tão poucos acreditada surgia da floresta como um milagre. Milagre vintenário, é certo, mas que se efetivaria mesmo a contragosto de muita reza cantada e torcida nas madrugadas, para que ela jamais tivesse o fim que teve. A santa padroeira, ao colo igualmente puro de um sacerdote modelo, marcaria, em sua passagem, abençoando a nova rodovia, a fixação de uma obra que se formou de ideal, de tenacidade, de permanente atenção, de acendrado amor e, principalmente, de espírito público, únicos tentáculos que a alimentaram em vinte anos de trabalhos constantes e de incentivos a quantos tiveram a feliz chance de tributar-lhe um pouco de seu prestígio e autoridade. A sua realidade objetiva foi somente desse processo histórico, desse modus faciendi, desse élan em que se formam os grandes espíritos, aqueles que são capazes de construir sem a obstinação do lucro fácil, de erguer alguma coisa sem a morbidez da vaidade, de semear para que os pássaros colham o alimento necessário aos filhos.

Foram essas as sementes daquele sonho que não pousou na mentalidade estéril de descrentes e nem na inteligência dos que pecam em pensamentos e obras. Frutificou tanto que agora a árvore do bem e da virtude necessita de escadarias de ouro para alcançar suas copas, suas flores e seus frutos. E nem todas as mãos poderão ali pousar, sem que os rebentos da sementeira murchem dolorosamente, como os da lenda antiga que transformava em pedras os pomos tocados pela maldade dos homens maus e impiedosos.

O que ocorre com a rodovia, permitindo acesso fácil entre Belém e o Mosqueiro, é a constatação do bem público efetivado, da obra que presta serviço comunitário, do empreendimento que se justifica por si mesmo, aquele que muitos trogloditas de ontem julgavam inoportuno, inexeqüível, absurdo, antieconômico, loucura inútil e, agora, são eles os primeiros a usufruir suas vantagens, seus benefícios, seus interesses inconfessáveis. Para os que amam aquela ilha, para os que sempre acreditaram na obra rodoviária, para os que colaboraram de uma forma ou de outra, ela foi e é, apenas, o que todos desejavam: a solução técnica para a penetração no balneário, sem os atropelos, os desgastes, as canseiras, as despesas, os infortúnios e dispêndios antes pelo barco do Snapp sucessor da velha “Port of Pará” que introduzira a navegação a vapor de Belém até o Mosqueiro.”

“Pela sua natureza típica, a ilha balneária do Mosqueiro possui todas as características para se tornar um grande centro subsidiário da capital. Não só sob esse aspecto de centro turístico por excelência, mas, também, pela amplitude de suas terras, pela riqueza de suas florestas, pelo seu solo ubérrimo, pela sua extensão territorial, pelo seu clima ameno, pela sua proximidade a Belém, pela sua integração à área metropolitana preconizada pelos mestres da economia regional.

O aproveitamento dessas qualidades, aliado à questão turística e às suas condições privilegiadas para funcionar como centro de abastecimento da capital, centro agropecuário e de indústria da pesca, além de permitir instalações modelos para o desenvolvimento da agricultura e do interesse pela criação, a região do Mosqueiro, parte integrante e de importância na expansão da cidade, como elemento vivo da área metropolitana, poderá ser transformado em uma espécie de módulo experimental no seu sentido econômico, implantando-se, em fases distintas e em terrenos próprios, as fontes de produção e abastecimento da capital paraense, nos moldes utilizados aos cinturões verdes, nos limites perimetrais do centro urbano.

Belém cresce no rumo leste, entre as duas bacias predominantes do Guajará e do Guamá. Estende-se a cidade nesse promontório, nessa península extensa que tem início em Ourém pela costa guamaense e na Tijoca, na orla guajarina. O eixo de expansão se centraliza, desde sua saída em São Braz (centro suburbano), alcançando o centro rodoviário (Entroncamento) e dirigindo-se no curso da velha estrada do Maranhão dos tempos primitivos em direção de Ananindeua, Santa Izabel, Castanhal, etc.

Necessariamente, o eixo de crescimento vai ter suas fronteiras tangenciais, na altura de Ananindeua ou Benevides, fixando a metrópole e determinando sua faixa de expansão urbana, suburbana, periférica com seus atuais arrabaldes. Contrastando com o começo do século (XX), sente-se que o fraturamento do antigo município de Belém, o ainda existente à época progressiva dos governos Montenegro-Lemos, com a delimitação de novas áreas, em nada contribuiu para prosperidade dessas novas áreas municipais; há um regresso e a expansão de Belém, como há muito defendemos, vai receber de volta suas terras antigas, incluindo-se, então, estes dois últimos municípios, para a fixação de uma terceira légua, indispensável à evolução da cidade no rumo oriental de seu crescimento.

Todas essas razões vinculadas ao problema do Mosqueiro se unificam em um só todo, como que a exigir, nessa forma evolutiva, a incorporação de regiões que hoje dependem diretamente da grandeza da capital paraense e sem a qual estariam condenadas a um futuro incerto. E a construção da ponte, objeto desses estudos, sem dúvida, é fator que se impõe, tal como a abertura da rodovia Montenegro para Icoaraci, a Avenida Cabral para o Cais, a do Coqueiro para o contorno geográfico dos seus limites, a perimetral no Guamá ao lado da Universidade e a penetração já projetada para as terras do “Aurá”. Observa-se, à primeira vista, a necessidade de se compor um plano diretor dessa área metropolitana, incluindo-se legislação específica que defina a utilização das terras, os planejamentos horizontais das zonas de expansão e as delimitações das diversas características de que Belém necessita, em função de seu passado grandioso, para garantir o futuro que se aproxima vertiginosamente e carece, do poder público, atenção cuidadosa e especial, para evitar-se, em tempo, os dissabores decorrentes do crescimento desordenado, criando a indisciplina urbana e tornando impraticáveis as soluções dos problemas infraestruturais.

Senhores:

Acreditamos, sem sofismas e confiantes, no crescimento desta cidade em termos amazônicos, isto é, de grandiosidade e de opulência. Não poderíamos excluir dessa nova ordem o que está autêntico neste fim de século, a incorporação à cidade propriamente dita dessas áreas circunvizinhas e que, de uma forma ou de outra, serão atraídas pelo natural desenvolvimento da urbe belemense.

Passou a época em que as vilas do Pinheiro (hoje Icoaraci), a de Ananindeua, a de Benevides e a do Mosqueiro, e esta, principalmente, pareciam distantes do centro urbano. Isso ocorria aí pelos idos do século passado (XIX), quando o governo edificava a cidade para o futuro, erguendo obras duradouras, majestosas e definitivas, como o Teatro da Paz, a Prefeitura Municipal, a ampliação dos bairros na Campina, os primeiros passos para a solução dos problemas de abastecimento d’água, a pavimentação das ruas principais, a instalação da ferrovia bragantina, a delimitação de novas artérias, a abertura dos bairros do Umarizal, do Marco e do Souza. Logo após viria a bélle-époque do fastígio da borracha e o ciclo gigantesco das obras monumentais do Governador Augusto Montenegro e do Intendente Antônio Lemos. Isso daria à capital do Estado prestígio único na comunhão brasileira. Daí partiram novas aventuras nesse processo expansionista da cidade em direção ao sertão, no eixo predominante da primitiva estrada do Maranhão, depois Tito Franco, hoje Almirante Barroso. Dessa maneira, o alargamento urbano, a conquista dos arredores, a aproximação dos vilarejos periféricos à cidade se comportariam, é lógico, como centros de atração para que a velha instalação de Castelo Branco se tornasse iminentemente continental, fugindo às influências dos rios, das orlas marítimas ou fluviais.

Dessas conclusões, é certo o caminhar da evolução urbana de Belém no sentido de sua continentalização, a mesma amplamente defendida pelo professor Eidorfe Moreira em belo trabalho sobre a nossa cidade. Quanto mais ela penetra, diríamos, mais caminha em seu próprio encontro, pois é de leste que virá a sua prosperidade econômica, social, política, geográfica e turística, para não permanecer apenas como qualquer outra cidade brasileira litorânea, mas eixo de comando, pórtico real e indiscutível dessa Região Amazônica imensamente rica, permanente boca-do-sertão desse continente planiciário que, desde seus primeiros dias, dirige, orienta e pensa através de sua gente e da inteligência de seus filhos.

E nesse complexo de sua formação, Belém traz, dentro de si mesma, aquele determinismo histórico estereotipado em seus três séculos e meio de progresso, onde, certamente, a Ilha do Mosqueiro tem papel preponderante e decisivo para a saúde e a felicidade de sua população, que vive, trabalha, luta e sonha por dias melhores, sob o sol inclemente do equinócio e a dureza natural de um clima forte e imutável da Região Amazônica, da qual ela é propulsora dando a vida de sua vida à mais bela cidade plantada pela mão do homem na linha Equatorial.”

(Meira Filho, Augusto – “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa Ed., 1978, pp. 500, 501, 506, 507 e 508).

O autor:

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AUGUSTO EBREMAR DE BASTOS MEIRA, filho de José Augusto Meira Dantas e de Anézia de Bastos Meira, nasceu em Belém do Pará, no dia 5 de agosto de 1915. Cursou o Primário no Colégio Nossa Senhora de Nazareth, o Secundário no Ginásio Paes de Carvalho e o Superior na Escola de Engenharia do Pará. Foi escriturário na antiga Câmara dos Deputados, desenhista e auxiliar de engenheiro e, como engenheiro civil, ocupou vários cargos no Serviço Público do Estado do Pará, sendo agraciado com diversos diplomas e medalhas de Honra ao Mérito. Como parlamentar, foi Vereador, líder da ARENA, de 1971 a 1973, trajetória cuja importância se acha traduzida no fato de o prédio que abriga a Câmara ter recebido o seu nome: Palácio Augusto Meira Filho. Destacou-se também como jornalista em “A Província do Pará”, historiador e escritor. Além de artigos e conferências publicados em sua maioria na Revista de Cultura do Pará e de diversos discursos e notas de viagem, produziu obras fundamentais para a compreensão da história da capital paraense: “O Bi-Secular Palácio de Landi” (1973) e “Landi, Esse Desconhecido” (1976), ambos dedicados ao arquiteto italiano Antônio Landi; “Contribuição à História de Belém” (1974), “Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará” (1975), “Contribuição à História da Pintura na Província do Grão-Pará no Segundo Reinado” (1975), “Antonio José de Lemos – o Plasmador de Belém” (1978), “Mosqueiro Ilhas e Vilas” (1978). Augusto Meira Filho faleceu em 1980, quatro anos após ver realizado um sonho que perseguiu durante trinta anos de sua vida: a inauguração da rodovia que tem o seu nome e da ponte sobre o Furo das Marinhas que liga a ilha do Mosqueiro ao continente.

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FONTES: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 571, 572, 573, 574, 575 e 576

http://vereadoravanessa.blogspot.com/2011/02/augusto-meira-foi-homenageado-pela.html