quarta-feira, 28 de setembro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: A VIRGEM DE NAZARÉ ABENÇOA A BELÉM-MOSQUEIRO

Autor: Augusto Meira Filho

“No correr desse abençoado mês de dezembro de 1965, logo ao princípio, tivemos um sonho tão perfeito que, ao despertarmos, o contamos a esposa. Mais tarde, chamou-nos em seu Gabinete o Prefeito Oswaldo Mello, quando trataríamos de assunto ligado à restauração do Palacete Antonio Lemos. Ao deixarmos essa autoridade, consultou-nos, ainda:

-- Não há mesmo mais nada de novo? Então?

Respondemos, sorrindo: “Novidade há, mas não penso relatá-la...”

Insistiu o Prefeito, mais amigo do que autoridade, e cedemos à sua curiosidade: “É que há dois dias sonhamos caminhando numa vereda de roça, com gente humilde ajoelhada à sua margem, estendendo as mãos para uma imagem da Santa de Nazareth que levávamos ao colo, seguido de muitas pessoas conhecidas e amigas. O povo rezava e se dirigia à Virgem como quem pedisse benesses, favores, bênçãos. Foi tão comovente, que ao despertarmos, não nos contivemos e o relatamos à patroa. Só ela sabe disso. E, agora, vocês.” Haviam chegado ao Gabinete o Secretário de Obras, Engº. José Maria Barboza e o Secretário de Administração, Professor Clóvis Moraes Rêgo. Oswaldo ouvira atentamente nosso relato. Ficou a meditar e dirigiu-se a todos nós:

-- Vamos tentar levar a Santa de Nazareth, agora, domingo, ao Círio do Mosqueiro? Todos concordaram logo e a cada um foi dada uma responsabilidade. Ficamos de conseguir do DER-PA a balsa (ainda arrendada da Petrobrás) mais tarde denominada de “Almirante Tamandaré”. Outro cuidava de falar à Diretoria da Festa e ao Vigário da Basílica. Tudo em nome do Prefeito de Belém. Também nos coube falar no Arcebispado, o que dali mesmo cuidamos, entrando em contato com Monsenhor Américo Leal, então substituindo o Arcebispo que estava ausente da capital. No dia seguinte, acertamos com Guilhon a barcaça. Encontrava-se esta à altura da cidade de Portel, transportando maquinaria destinada a Santarém, salvo equívoco. Ordens foram dadas pela Radiotransmissão à Lancha “Magalhães Barata” que rebocava a balsa, cheia de equipamento rodoviário.

O Círio do Mosqueiro seria no dia 12 de dezembro. Em menos de uma semana conseguimos tudo e, às seis horas da manhã, desse dia, em “Jeep” especial, o Monsenhor Américo Leal levava ao colo a bela Imagem de Nossa Senhora de Nazareth, do Colégio Gentil Bittencourt para a Igreja de Nossa Senhora do Ó, na Vila do Mosqueiro. A viagem pela rodovia foi admirável. No Furo das Marinhas, embarcações de toda parte chegavam enfeitadas e sob foguetório. Gente muita aparecia às margens do Canal e à beira da rampa. Do lado da Ilha, a festa ainda era maior. Todas as embarcações motorizadas apitavam, saudando a Virgem. Foguetes animavam a romaria, a primeira que se fez na história do Mosqueiro e na história religiosa de Belém.

Alegre e feliz, a travessia foi totalmente acompanhada de pescadores, homens simples, moradores das redondezas. Sirenes tocavam anunciando a passagem da padroeira dos paraenses. O povo reunido na rampa do Mosqueiro se apinhava para ver a romaria que estava levando para a Vila Nossa Senhora de Nazareth, a mesma que se via, anualmente, à procissão do Círio, de Belém.

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Hasteamento de bandeiras à margem da Ilha do Mosqueiro (FONTE: A. MEIRA FILHO)

À margem oposta, já na Ilha, um pavilhão cívico havia sido preparado e, sob os aplausos da multidão que recebia a venerada visitante, foram hasteados os pavilhões do Brasil, do Estado e da Prefeitura. Um acontecimento religioso excepcional deixava emocionados a todos. Nós víamos, na repetição do nosso sonho, o sonho dos mosqueirenses em ter em sua festa de Nossa Senhora do Ó, a imagem querida de Nossa Senhora de Nazareth.

Das mãos de Monsenhor Leal, já na Capelinha do Chapéu Virado, a Santa iria para um andor especial e, aos nossos ombros, levada até a igreja da Vila, percorrendo todo o caminho da pracinha do Chapéu Virado à Vila. Povo e mais povo concentrava-se à margem da rodovia. Reproduzira-se, com legítima autenticidade, o que víramos em sonho. Toda aquela gente simples implorando à Virgem sua benemerência e seu perdão.

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Levando a Imagem da Virgem de Nazareth em seu andor, da Capela do Chapéu Virado até a Igreja Matriz, na Vila, em 1965 (FONTE: A. M. FILHO)

Ao chegarmos ao templo de N. Srª. do Ó – em altar especial – fixaram a imagem da Santa visitante, com a igreja repleta de fiéis de todas as classes.

Na celebração da Missa, Monsenhor Américo Leal pronunciou o seguinte sermão:

“Preparai o caminho do Senhor!

Lembro que estamos no tempo litúrgico do Advento, os quatro domingos antecedentes do Natal, época em que a Igreja nos repete a recomendação de São João Batista, o precursor do Messias: Preparai o caminho do Senhor!

Caminho que foi realmente preparado para o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujos primeiros adeptos foram os discípulos de João Batista. Caminho que todo povo cristão deve preparar e percorrer, ante a realidade de que saímos de Deus para o qual devemos voltar.

Nossa Senhora não esteve alheia à preparação do caminho do Senhor, mas o preparou com fervor. Donde lhe veio a invocação de Nossa Senhora do Ó, no sentido de expectativa ansiosa pela vinda do Senhor ao Mundo e às almas das criaturas.

É com essa invocação de Nossa Senhora do Ó que o povo do Mosqueiro a cultua desde tempos imemoriais. Não é fora de propósito, portanto, numa transposição do terreno espiritual para o material, atribuir à mesma Nossa Senhora a concretização dessa aspiração quase utópica do povo do Mosqueiro: a rodovia Belém-Mosqueiro que, hoje, ao se iniciar a festa da padroeira do Mosqueiro, é percorrida triunfalmente pela imagem do Círio de Nossa Senhora de Nazareth nos braços das principais autoridades eclesiásticas e civis, pelos idealizadores e construtores da estrada. Esta peregrinação excepcional traduz a inspiração e proteção da Virgem. Não cito ninguém. Eles aqui estão presentes. Guardai os seus nomes para vosso eterno reconhecimento.

Nem faltou o sacrifício, maneira pela qual João Batista ensinava a preparar o caminho do Senhor: “fazei penitência”.

Dificuldades e óbices, aparentemente intransponíveis, foram vencidos com o auxílio da Virgem, invocada com a promessa desta peregrinação triunfal. E quando, há pouco, comentei com um deles a penitência da longa caminhada que acabamos de fazer, respondeu-nos com o sorriso no semblante que a fazia com satisfação.

Não foi menor a demonstração de fé em todo o percurso da longa estrada onde o fervor de seus moradores me impelia frequentemente a elevar bem alto a Imagem da Virgem para ser freneticamente ovacionada.

Que a estrada Belém-Mosqueiro seja o caminho do Senhor Deus, preparado para o bem-estar dos mosqueirenses assim como é o caminho percorrido e abençoado pela Senhora que, na confiança dos filhos, costumamos chamar Nossa Senhora a nos preparar o Caminho do Senhor.” (a) – (b)

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Missa do Círio na Igreja Matriz (1965). Pref. Oswaldo Mello (Prefeito), Mário Azevedo (Ag, Municipal)Clóvis Moraes Rêgo, José Maria de Azevedo Barbosa, Raul Rodrigues Pereira e Dr. Rui Coral (DOC. do Autor)

Diante do sucesso dessa viagem maravilhosa em todos os seus sentidos, o engenheiro Fernando Guilhon, que não compareceu à romaria por motivo de doença, ofertou-nos, através de um servidor do DER-PA, em pleno recinto da igreja, por ocasião do sermão de Monsenhor Leal, um belíssimo bouquet de flores, que ofertamos ao altar da Virgem. Também, no dia seguinte, tomando conhecimento da bela festa religiosa realizada no domingo, endereçou ao Prefeito Oswaldo Mello o seguinte telegrama:

“Doutor Oswaldo Mello –

Prefeito Municipal

Palácio Antonio Lemos –

Belém –

Abraço efusivamente ilustre prezado amigo jornada rodoviária ilha Mosqueiro dia 12 passado pt Permita que servidores DER e eu mesmo abracemos vossência e seus abnegados auxiliares DMER que estão tornando realidade obra magnífica de profundo alcance social para a qual nos sentimos honrados contribuir sob direção e estímulo eminente Governador Jarbas Passarinho pt Cordiais saudações – Fernando Guilhon – Diretor-Geral DER-PA.”

Entusiasmado com a visita da Santa ao Mosqueiro, quando estivemos presentes pelos caravaneiros de 1959 acompanhando a Virgem, desde Belém até a Vila do Mosqueiro, cinco de seus participantes telegrafaram ao companheiro Rui Meira, que se encontrava no Rio de Janeiro, com os seguintes dizeres:

“Rui Meira

Euricles de Matos 32

Rio

Momento atravessamos nosso veículo vitoriosamente Belém-Mosqueiro acompanhando Virgem Nazareth procissão Círio et autoridades abraçamos querido irmão pleno sucesso realidade nossos sonhos comum pt

Assinados: Raul – Horácio – Santos – Luiz – Augusto –“

Para o Engº. Diretor-Geral do DER-PA, Fernando Guilhon, endereçamos também estas palavras:

“Engenheiro Fernando Guilhon

Departamento de Estradas de Rodagem – Belém

Satisfação agradecer querido companheiro homenagem DER-PA após vitoriosa Romaria Virgem Nazareth nossa Belém-Mosqueiro para a qual ilustre Diretor contribuiu maior parcela sua conclusão continental inspirada nossos velhos sonhos comuns et apoiado alta visão et arrojo Governador Estado pt Peço transmitir colegas particularmente Alivertti sensibilizado agradecimentos humilde companheiro pt Abraços rodoviários –a) Meira Filho –“

(a) A Imagem da Virgem permaneceu na Igreja de Nossa Senhora do Ó, durante os quinze dias de festa de Nazareth, da Ilha. Foi um deslumbramento popular a quantos apareciam no Mosqueiro para ver a Santa padroeira da Amazônia. No dia seguinte ao término da quinzena, fomos acompanhando D. Alberto Ramos, Arcebispo de Belém, a quem coube trazer de volta ao seu nicho no Colégio Gentil Bittencourt a venerada imagem dos paraenses. Acompanhamos Sua Excelência Reverendíssima em todo o percurso do Mosqueiro a Belém. Estava consumado o sonho.

(b) Na travessia do Canal das Marinhas, o Engº. Oswaldo Alivertti, em nome do DER-PA, nos entregou ainda na “Balsa” um diploma contendo os seguintes dizeres: “A rico não devas, a pobre não prometas – o prometido é devido. Governo Jarbas Passarinho. Entrega ao Povo Paraense: Rodovia Augusto Meira Filho- Trecho continental a cargo do DER-PA. Diretor: Fernando Guilhon.”

(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 233, 234, 237, 238, 239, 240)

MOSQUEIRANDO: Sem dúvida, esta foi a primeira romaria da IMAGEM PEREGRINA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ. A Santa Padroeira dos Paraenses, que só deixava o seu nicho no Colégio Gentil Bittencourt para a TRASLADAÇÃO e o CÍRIO, naquele dia12 de dezembro de 1965, percorreu a Estrada Belém-Mosqueiro, atravessou o Furo das Marinhas, participou do Círio de Nossa Senhora do Ó e, durante quinze dias, ficou em nossa Ilha, emocionando mosqueirenses e aficcionados deste lugar paradisíaco e recebendo suas súplicas e orações.

Nesta sexta-feira, dia 30 de setembro de 2011, mais uma vez a Ilha do Mosqueiro receberá a VIRGEM DE NAZARÉ, que estará na Igreja de Nossa Senhora do Ó, às 18h30. Será um momento emocionante de FÉ e ESPERANÇA. Participe!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: 1965 – O ANO DA PA-17

Autor: Augusto Meira Filho

Inicialmente começamos com poucos elementos. Na coragem, na base da pá, enxada e carro-de-mão, a obra tomava forma. Pontilhões, obras d’arte, aterros, desmatamento, abertura das faixas de domínio e, sobretudo, rigoroso estudo sobre a conclusão da obra, vencendo-se os oitocentos metros de terreno alagado próximos à beira do rio.

Para a execução desse trabalho, como não poderia deixar de ser, houve necessidade de ser empreitado com uma firma especializada, possuidora de equipamento, maquinaria pesada, homens e técnicos especiais, capaz de realizar aquela conquista que vinha sendo um desafio para todos os governos.

O problema não se cingia mais à estrada, propriamente, dita, mas, principalmente, aos trechos finais, no continente e na ilha. O primeiro desafiava o DER-PA e o segundo, o DMER. Internamente, então, qualquer veículo viajava bem no correr das duas rodovias, estacionando, inexoravelmente, antes de sua chegada ao beiço do “furo” como desejávamos.

Como dissemos, pelo DER respondia o engenheiro Aliverti quanto ao andamento da obra, diariamente solicitado pelo diretor Guilhon. Na Ilha, pelo DMER, o engenheiro José Machado era o responsável pelo que ocorria na BL-19.

Permanentemente, sós ou em companhia do diretor-geral, percorríamos os trechos sob a proficiência de Aliverti. Este, na altura da Fábrica Santa Rosa, passou a utilizar um imóvel dessa firma, para instalar o escritório da obra. Dali partiam todas as atividades do grupo por ele chefiado e os serviços cresciam a olhos vistos. A complementação foi, então, contratada com o engenheiro Celestino Rocha, construtor de rodovias e pessoa idônea para resolver definitivamente aquele problema. Também, ao lado desse colega, vistoriávamos, constantemente, o domínio da velha baixada que, aos poucos, se transformava numa bela pista, acompanhando o grade e o perfil da estrada.

Do outro lado, Machado e sua equipe, viravam-se de toda forma.

Em junho de 1965, Alacid Nunes afasta-se da Prefeitura para candidatar-se ao cargo de Governador do Estado. Desincompatibilizava-se de acordo com a lei e, em seguida, assumia a Comuna o Vice-Prefeito Oswaldo Mello.

Exatamente, quando a obra fervia de lado a lado, o novo prefeito nos assegura toda a vontade de ver terminada a estrada Belém-Mosqueiro e que de sua parte iria acionar seu DMER, para aquele fim. Dirigia o Departamento Municipal de Estradas de Rodagem, primeiramente, o Engº. Alírio Cezar de Oliveira e, depois, o Engº. Luiz Baganha. Este, pouco simpatizante do Mosqueiro, mas bravo em seus gestos e atitudes profissionais, confessou-nos:

“-- Se dependesse só de minha decisão, nunca que se faria esta estrada para Mosqueiro, antes que outras rodovias, que reputo mais importantes, tivessem sido concluídas. Contudo, agora, na direção do Órgão cumpro meu dever e farei tudo que for possível e o impossível para servir a quem sirvo: o poder municipal”. Não nos surpreendia o colega com aquelas declarações. Estava correto. E tratou de se esforçar para que a vontade do Prefeito também fosse atendida. Tudo estava favorável ao término da famosa rodovia.

Através da imprensa, escrevendo diariamente nossa “Ronda da Cidade”, o tema da Belém-Mosqueiro era prioritário. Incentivávamos, habilmente, os dois grupos. Conseguíramos o fenômeno interessante de fazer daquela luta técnica e política uma espécie de contenda, de rivalidade entre as duas turmas que a realizavam. Uma vez, cambávamos em destacar a avançada do DMER na Ilha, dizendo, mesmo, que o Engº. Machado preparava-se para colocar sua bandeira do lado de cá; de outra feita, ardilosamente, púnhamos a vitória às mãos do Aliverti, afirmando que antes de qualquer novidade a maior seria a equipe do DER pisar em terras mosqueirenses, em sua barcaça improvisada.

Isso tornava-se público e havia uma torcida surda nesses encontros que tomavam o aspecto de competição esportiva. Daí obtivemos um enorme êxito. Admirávamos o crescimento do serviço, cada semana que passava. Sem atritos e sem deslealdades, as duas formações se entendiam, embora opostas em seus ideais de vencer a tempestade que nós forjávamos pela imprensa de Belém.

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Construção da estrada na área da Ilha. Registro de uma das nossas visitas à obra com a presença do Engº. José Machado (Doc. do autor)

Esse entrechoque passou do campo das obras para o campo dos gabinetes do Governador e do Prefeito. Nossa posição era delicada. Todos nos viam como um líder do empreendimento, mas de caráter todo especial, pois, lutávamos no mesmo partido revolucionário e nada havia a temer em termos de partidarismo.

O de que precisávamos era a estrada pronta para ser entregue ao público.

Guilhon, sabiamente, sentia isso. Sentia e compreendia os nossos sentimentos. Só tínhamos um ideal, desde os albores de 1946! Afinal, no ano seguinte, completariam 20 anos de insistência, de coragem, de pertinácia, para que uma obra tão fácil (mas politicamente embrulhada) tivesse sua conclusão.”

“Corriam, normalmente, os serviços na estrada. A guerra continuava cada vez mais intensa. Nossa posição mediana mantinha o equilíbrio entre as duas forças, respeitada por ambas, servindo a todos desinteressadamente já por duas décadas, sem nunca ter sido construtor de estradas e nada ganho nessa especialidade. As duas turmas deveriam encontrar-se no rio, no Furo das Marinhas, ao mesmo tempo. Balsas somente quando concluídas as duas pontas da rodovia, permitindo a passagem dos primeiros veículos que entrariam no Mosqueiro, via Benevides-Santa Bárbara, Furo das Marinhas, Carananduba, Chapéu Virado, Vila.

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Fase final da rodovia, na área próxima ao Furo das Marinhas. Presença do Dr. Fernando Guilhon (DOC. Do autor, 1965)

Na face do continente, foi a 5 de agosto de 1965 que chegou a caçamba que depositaria, à beira do canal, sua primeira carga; no Mosqueiro, em comemoração a uma viagem do Prefeito Oswaldo Mello à Ilha, no regresso, após o almoço no Russo, propositadamente demorado, ao chegarmos com a comitiva à beira do rio, o Engº. Machado nos surpreendeu com todo o litoral aterrado em condições de nossos veículos alcançarem o local onde nos esperava a lancha. Foi um sucesso essa novidade, previamente articulada.

clip_image006Trabalhadores, engenheiros, mosqueirenses festejando o final dos aterros à margem do Furo das Marinhas, em 1965. Presentes Fernando Guilhon, Osvaldo Aliverti, José Augusto Pombo e o Sr. Salame (FONTE: A. MEIRA FILHO)

Os carros, então, às duas extremidades já se assinalavam com os faróis acesos. Outra grande vitória que muito nos emocionou. Não nos contivemos, mesmo, ao descermos no continente onde o colega Aliverti nos aguardava, igualmente emocionado. Dia feliz! Feliz para quem tinha um ideal e soube sustentá-lo a qualquer preço.

Em novembro de 1965 – achávamo-nos no Mosqueiro e Guilhon, também – no dia 23, vimos passar pela estrada beira-mar, turística, duas basculantes, dois pick-ups e uma camioneta que conhecíamos, em serviço, na PA-17. Estranhamos aqueles veículos, àquela hora, no Mosqueiro, passando na praia do Farol. O Diretor havia vindo pela Lancha “Sérvulo Lima” que apelidávamos de “Branca de Neve”, fato que desconhecíamos. Foram esses os primeiros veículos oficiais em serviço que passaram do Continente para o Mosqueiro.

Nesta altura, devemos fazer referência a uma pequena balsa que pedíramos por empréstimo à SPEVEA e, antes servira no rio Guamá, na rodovia Belém-Brasília, então, sem qualquer uso. Waldir Bouhid, superintendente do órgão, era nosso vizinho e, cedo, pleiteamos “para experiência” sua utilização na travessia na rodovia do Mosqueiro, exatamente no Canal das Marinhas. Fomos providenciar sua vinda, sendo um pouco revista e entregue à Prefeitura. Foi nessa balsa improvisada que Aliverti alcançou o Mosqueiro com sua gente, ali encontrando-se com o Diretor Fernando Guilhon. Houve festa e alegria na Vila. Procuraram o Vigário, registraram o feito na Agência Municipal e fizeram fotos em frente a um monumento que ainda existe na Praça da Matriz, onde aparece um dístico, com estes dizeres: “Somos todos irmãos”.

Esse fato ficou meio reservado, embora Aliverti e Guilhon desconhecessem nossa presença no Farol. Nem assim nos escaparia a significação histórica da primeira travessia, agora, relatada publicamente.

No dia 1º de dezembro de 1965 – no expediente da tarde – Guilhon era procurado insistentemente pelo Governador Jarbas Passarinho. Queria o Chefe do Estado, de qualquer forma, atravessar seu carro para o Mosqueiro. Não escolhera hora, maré, balsa, etc. Queria, e isso era tudo. Uma resolução inopinada de quem tinha por que mandar e sabia fazê-lo. Vez por outra nosso querido Coronel recordava seu posto e agia militarmente: ordem unida, acelerado, pra-frente, marche...

Foi o que houve. Guilhon, encontrado depois do almoço ou sem refeição, e mais outros participantes da esfera administrativa do Estado e da Prefeitura, corajosamente, pela habilidade inconteste de Aliverti, na balsinha do Guamá, atravessariam para o Mosqueiro. Nós não fomos encontrados, na ocasião.

Depois soubemos dos pormenores da viagem ocorrida apressadamente, mas, na realidade, a primeira vez que o carro oficial do Governador do Estado entrava na Ilha do Mosqueiro pelas PA-17 e BL-19, há tanto tempo desejada.

clip_image008  Primeira travessia do carro oficial do Governador do Pará para o Mosqueiro, em balsa improvisada (1.12.65). Gov. Jarbas Passarinho cumprimentando o Prefeito Oswaldo Melo (FONTE: A. MEIRA FILHO)

Tomamos conhecimento da empreitada no dia seguinte, pelos jornais, que noticiavam a aventura do Governador. Estávamos completamente alheios ao fato. À arrancada do ilustre governante, companheiro e amigo e na gestão do DER-PA de Fernando Guilhon, não seria fácil aceitar nossa ausência. Depois, Guilhon nos explicaria detalhes da jornada e nos justificaria a razão por que estivéramos fora da caravana. Não fôramos encontrados à hora em que o Governador, Prefeito e outras personalidades haviam tomado a iniciativa de atravessar do continente para a Ilha, após o expediente matutino de Palácio.”

“No correr dessa semana, publicamos na imprensa trechos de duas cartas de Guilhon, datadas de 1950, que nos foram enviadas tratando das obras da futura estrada Belém-Mosqueiro e que já comentamos anteriormente.

Ele, por seu lado, ficou entristecido pela ocorrência. A decisão do Governador tinha sido legítima e confirmara tudo quanto havíamos planejado juntos, desde 1946, como já vimos.

Ficou, dessa caminhada pioneira, em termos rodoviários, uma Ata redigida pelo próprio Governador do Estado, com o seguinte teor:

É de tarde. Há sol e muita luz por toda esta ilha. Desde o continente que vimos juntos, governador e prefeito, auxiliares de um e outro, percorrendo um itinerário que, até aqui, só figurava como declaração de intenções. Agora, às 15 horas reais deste primeiro de dezembro de 1965, pára o carro oficial do Governo do Estado do Pará, flâmula desfraldada no flanco direito. Do carro descem, diante desta Agência, Governador, Prefeito de Belém, Diretor do DER-PA e mais todas as autoridades que, em outros carros, igualmente vindos de Belém chegaram aqui pela estrada que tantos prometeram.

Assinado: Jarbas Passarinho – Ten. Cel. Governador –

Oswaldo Mello – Prefeito de Belém –

Fernando Guilhon

Luiz Gonzaga Baganha

Nazareno Menezes Moreira – Pároco

Dilermando Menescal

José da Silva Machado

José Maria de Azevedo Barbosa – Sec. De Obras da PMB

Francisco de Lamartine Nogueira

Ronaldo Passarinho P. Souza

Oswaldo Medrado

(Nome ilegível)

Carlos Passarinho

Thompson Tenório (quase ilegível)

Roberto Brandini, Brig. (quase ilegível)

Mário Azevedo – Ag. Municipal – “

Essa, a relação dos visitantes ao Mosqueiro naquela viagem, na qual não tomamos parte. A partir desse fato, realmente histórico, Fernando Guilhon tomou por conta própria e sob a aprovação do Governador do Estado a iniciativa de propor nosso nome à rodovia Belém-Mosqueiro.

Da parte do eminente Governador Jarbas Passarinho, receberíamos a seguinte carta, em papel timbrado do Gabinete do Governador:

“Belém, 3.12.65

Meu caro Augusto:

Recebi teu caloroso telegrama. Sou-te grato por ele. Antes, mesmo, de recebê-lo, dei-me conta de que, conquanto involuntariamente, havíamos praticado uma indesculpável omissão.

No Exército, em certos casos, dizemos: “explica, mas não justifica”. Sei que não nos justificamos, mas faço questão de explicar a injustiça de não estar você entre os que fizemos a viagem ao Mosqueiro.

Em primeiro lugar, a viagem foi conseqüência de decisão inopinada. Não foi previamente planejada. Houve uma decisão de momento, fruto do entusiasmo que nos dominou! Não saímos daqui para lavrar “Ata de 1ª. viagem”. Ela, também, foi uma proposta de nosso prezado amigo Oswaldo Mello, no momento em que, eufóricos, chegávamos à frente da Agência do Mosqueiro.

Tanto foi improvisada a viagem que a balsa do DER não estava no Furo das Marinhas e só por certa insistência minha e do Prefeito Mello, junto aos técnicos, foi possível atravessar os automóveis com maré ainda baixa.

Não se fez, pois, a viagem oficial de inauguração da estrada, construída pelo DER e DMER. Quando isso se der, tenho certeza de que tanto o Governo do Estado do Pará como a Prefeitura de Belém terão em você o convidado de honra número um, pois não se entende estrada Belém-Mosqueiro sem você, sem o Santos e outros abnegados a serviço dessa ideia há dezenas de anos (a).

Nós, da Prefeitura e do Governo, se méritos temos terão sido os de haver tornado possível o sonho dos pioneiros que você representa.

Cordialmente,

Assinado, Jarbas G. Passarinho –

Ilustríssimo Senhor

Doutor Augusto Meira Filho –

clip_image010  Presidente Ernesto Geisel inaugura a Ponte Sebastião Rabelo de Oliveira sobre o Furo das Marinhas em 12.01.76 (FONTE: A. M. FILHO)

(a) Essa inauguração festiva realizou-se a 12 de janeiro de 1976, dia do aniversário da cidade de Belém. Para o ato solene, esteve presente o Presidente Ernesto Geisel. (Inauguração da Ponte sobre o Furo das Marinhas na rodovia Belém-Mosqueiro) – Também estivemos ausentes. Não fomos encontrados.

(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 222, 225, 226, 227, 228,, 231, 232 e 233)

domingo, 25 de setembro de 2011

A IMAGEM E O TEMPO: A TAPIOQUINHA DA VILA

Autor: José Carlos Oliveira

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A ilha de Mosqueiro não se resume aos 17 quilômetros de praias de rio, água doce, banhadas por baías e cujas ondas se assemelham às de praias oceânicas. Também não se limita a um balneário procurado por foliões na época do Carnaval e por centenas de milhares de veranistas no mês de julho. Mosqueiro, “Bucólica” para os “experientes” ou, ainda, “Moscow” para os mais jovens, dista apenas 70 quilômetros, por rodovia, do centro de Belém, mas, apesar de não mais ter a paisagem original de algumas décadas atrás, ainda é o refúgio de quem busca tranquilidade e uma ligação mais estreita com a natureza.

Uma das maiores tradições do Estado é o café da manhã regional, tomado na Praça da Matriz da Vila, em uma das 20 barraquinhas padronizadas, bem em frente ao Mercado Municipal. Às cinco e meia da manhã, junto com os primeiros raios do sol, o cheiro do café com leite, da tapioca, do cuscuz, mingaus e sucos convidam os primeiros fregueses ao desjejum. Para os moradores da ilha, um orgulho: não há quem resista às delícias. “Até hoje não encontrei uma única pessoa, em visita a Mosqueiro, que tenha ficado indiferente a esse cardápio”, garante o pescador Júlio Silva.

Quanto mais cedo, mais fácil encontrar a venda dessas iguarias, que carregadas em tabuleiros, são vendidas pelas ruas e sempre envoltas em folhas de bananeira, como determinou a tradição. À parte a tradição, que não pode ser ignorada, um cardápio de sabores exóticos é outro dos atrativos da Tapiocaria da Vila, que as tapiocas são servidas secas ou molhadas, com ou sem recheio, conforme a vontade do freguês. De acordo com as comerciantes, chegam a vender juntas, diariamente, três mil unidades do produto, ou 200 kg de goma por mês.

“Aqui, quando o dia amanhece, já tem gente procurando o desjejum. Entre 5h30 e 22 h, graças a Deus não temos sossego. É claro que no fim de semana faturamos mais, entretanto podemos atender melhor o cliente com mais calma durante a semana”, conta Dora Araújo, proprietária da “Tapiocaria da Dora” e que há 30 anos trabalha no local.

FONTES: Texto e fotos do autor.

http://tapioquinhadavilademosqueiro.blogspot.com/2010/09/tapioquinha-da-vila.html

http://tapioquinhadavilademosqueiro.blogspot.com/2010/09/tapioquinha-de-mosqueiro-com-90-anos-de.html

Para saber mais sobre a Tapioquinha da Vila, acesse o site acima.

O AUTOR:

Mosqueirense, residente na Bucólica e domiciliado em Belém, Bacharel em Administração (CESEP) e Licenciado em Letras (UEMA), concluiu o curso técnico no Colégio Honorato Filgueiras, participou de movimentos comunitários, projetos e seminários direcionados ao futuro da Ilha, entre eles “Belém um novo carnaval”, “Integração Escola-Comunidade”, “Orçamento Participativo”,  entre outros. Tem contribuído com trabalhos e projetos em prol da cultura local e da auto-estima do povo, cabendo citar “Canto de Saudade e de Amor pela Ilha”, concurso de poesias, em homenagem aos 105 anos da Vila; “I e II Expomos”, exposição de fotografias, em nível de foto varal, realizado na Praça da Matriz,e Festival do Moqueio (Jul/2001), que deixou de ser realizado por falta de apoio de apoio da Agência Distrital de Mosqueiro, entre outros registrados no cartório de registro de títulos e documentos. Atualmente, exerce atividades no grupo Yamada, já tendo exercido atividades bancárias, por mais de 12 anos, construção civil e seguradora. Casado, dois filhos, mais de 45 anos de idade. Um profissional competente há mais de 25 anos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: A POLÍTICA E A BELÉM-MOSQUEIRO NOS ANOS DE 1960

Autor: Augusto Meira Filho

Em outubro de 1960, foi eleito Governador o Dr. Aurélio do Carmo, tomando posse a 31 de janeiro de 1961. Mais tarde, substituindo o Dr. Lopo de Castro, assumiria a Prefeitura Municipal de Belém o Coronel Moura Carvalho, empossado a 13 de novembro desse ano.

Nesse fim de exercício de seu mandato, o Prefeito Lopo de Castro praticamente deixaria aberta a parte da estrada confiada, no Mosqueiro, ao Engº. Efraim Bentes. Sem grande acabamento e por concluir seus 800 metros finais à margem do Furo das Marinhas, contudo, a obra permitia livre tráfego, sobre leito de areia e obras d’arte em madeira.

O destino reservaria a esse Alcaide a felicidade de ter iniciado a rodovia pelo continente, quando de sua primeira gestão à frente da cidade e, agora, como prefeito eleito, a oportunidade, igualmente feliz, de abrir a estrada na Ilha do Mosqueiro. Só muito mais tarde, como iremos ver, essas estradas seriam empiçarradas, alargadas, pavimentadas em condições satisfatórias para o fim a que se destinavam. Mas é inegável que coube a Lopo de Castro as duas principais arrancadas para a consecução dessa obra, efetivamente iniciada pelo Sr. Eurico Romariz, em 1951, sob a proteção política e administrativa do General Zacarias de Assunção, então Governador do Estado.

Nesse ano de 1961, finalmente, ao término do mandato do Prefeito Lopo de Castro, Estado e Cidade ficaram sob o comando de uma só fé partidária: tanto o Governo como a Comuna estavam em mãos pessedistas. À atmosfera, no sentido da nossa rodovia, certamente, todas as coisas iriam para a frente, sobretudo pela amizade que nos unia a esses administradores. A estrada, propriamente dita, avançara bastante. As demarches para os ferry-boats, igualmente, não representavam mais problemas.

Aos poucos conseguiríamos manter turmas de conservação na PA-17 e, depois, até um início de pavimentação em termos de pintura para a conservação do leito da estrada, anualmente sacrificado com as águas do inverno.

Diferente do que julgáramos, esse período manifestou-se mais interessado pelos problemas internos da Ilha. Pela rodovia, mesmo, nada passou daquelas obras de preservação da pista. Uma grande parte da PA-17, após a Serraria Santa Rosa, havia sido destruída pelas correntes de chuvas incessantes que, naquele lugar, parecem regulares, diariamente.

Visitas periódicas, sempre acompanhando amigos e “descrentes”, faríamos vistoriando todo o percurso da estrada, desde Benevides até a casa do Aníbal, no Tauarié. O interesse pela obra crescia independentemente da posição desapontadora do poder público, o maior responsável pelos serviços. Nunca as administrações pessedistas deixariam de olhar aquele empreendimento como fruto da “coligação”, desde a decisão do Governador Assunção em começá-lo em seu governo, com Lopo de Castro na chefia da Prefeitura. Sabia-se que aquela construção se implicava nas malhas da política regional e o regime baratista, do qual fazíamos parte honrosamente, via na “Belém-Mosqueiro” a sombra de gestões adversárias que não deviam ser prestigiadas. Coisa da política provinciana que tantos males causou a este país, do Roraima ao Chuí.

Nessa época, a Nação vivia tumultuada sob o governo federal de João Goulart. Problemas do País se vinculavam aos dos Estados, refletidos nos municípios, contribuindo, dessa forma, para um desajustamento de programas e de ideias. Sentia-se, nos primórdios da década de 60, o começo de um estado de coisas na vida nacional que iria culminar com um movimento armado. No Pará, governava, pacificamente, contentando a gregos e troianos, a figura simpática do Governador Aurélio da Carmo. Jovem, trabalhador, operoso e diligente, comandava o barco estadual com habilidade, merecendo o apreço de seus concidadãos. Na Comuna, o Coronel Moura Carvalho desenvolvia largo programa de obras, e a ele se deveriam as primeiras tentativas para a pavimentação de Belém, em “sand-asphalt”, utilizando como sub-base a existente em paralelepípedos. Quanto à estrada Belém-Mosqueiro, as providências se definiam na conservação das pistas e em pequena atividade de manutenção da obra, garantindo-a antes do inverno. Praticamente, ambas se mantinham em condições de uma grande penetração. Contudo, oitocentos metros antes da beira do Furo das Marinhas, permaneciam intactos os terrenos encharcados, impedindo o acesso de veículos até o litoral. Essa faixa ou faixas, se consideradas dos dois lados, foram o desafio desses dois governos. Era preciso um trabalho caro e corajoso para a complementação da estrada nesses pontos terminais.

E nessas condições, chegamos a 1964. A revolução de 31 de março marcaria a vitória final na conclusão da PA-17, no continente e na BL-19 na Ilha do Mosqueiro.

Motivos de ordem político-revolucionária afastam Aurélio do Carmo do Governo do Estado e, para seu substituto, a Assembleia Legislativa escolhe legalmente o Coronel Jarbas Gonçalves Passarinho. Este, por sua vez, nomeia Prefeito de Belém ao Major Alacid da Silva Nunes, que seria a sucessor de Moura Carvalho, naquelas funções.

A sorte da Rodovia estava firmada.

Para a Direção Geral do DER-PA é nomeado o Engº. Fernando José de Leão Guilhon. Em junho de 1964 a sua posse nessas elevadas funções e, desde logo, recordaríamos ao colega e amigo suas expressões, em 1950, sobre a obra rodoviária para o Mosqueiro que ele tão bem conhecia.

No primeiro instante, respondeu-nos Guilhon:

-- Estou arrumando a casa. Os problemas são enormes e já os recebi. Há um mundo de coisas a fazer e prosseguir da administração anterior. Quando tomar pé falaremos do assunto.

Realmente, nesse primeiro ano de administração revolucionária, o colega se dedicaria, integralmente, aos problemas mais urgentes e importantes de seu Departamento. Contudo, relembraríamos, sempre, seu compromisso e a resposta vinha, segura, convincente, amiga e sincera:

-- O ano de 1965 vai ser o ano da PA-17.

Em vista dessa afirmativa, perguntamos ao nobre diretor se podíamos fixar essa promessa, em nossos comentários n’ ”A Província do Pará’. Concordando, desde janeiro de 1965, concluíamos nossos artigos assinalando:

“Ano da PA-17”, após a data.

Realmente, na administração Guilhon – governo Jarbas Passarinho – a nossa estrada tomaria novas características técnicas de aperfeiçoamento.

A primeira providência da diretoria – que possuía carta branca do Governador – foi a de determinar o levantamento de toda a obra com apresentação de relatório circunstanciado e parecer sobre as suas condições. Esse encargo Guilhon o entregou ao colega Ramiro Nobre da Silva, engenheiro do DER, e dos mais credenciados. O trabalho foi executado com todo o esmero e entregue ao chefe, com as suas conclusões, totalmente favoráveis à rodovia, achando, mesmo, que bem pouco faltava para se considerar a obra como resolvida.

Chamou-nos em seu gabinete, especialmente, para ler o resultado daquela inspeção, confirmando, peremptoriamente, que o ano de 65 seria da PA-17. Isso nos deu uma alegria enorme. Em poucos dias, seria designado para chefiar o serviço o engenheiro Oswaldo Aliverti. Lá estivemos em sua companhia, dando as ordens para o aceleramento do trabalho. Houve verdadeira revolução na obra e Aliverti tanto se apaixonou pelo serviço que, em pouco tempo, já esquecera Salinas, de onde era velho freqüentador.”

(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 219, 220, 221 e 222)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A PESCA NA ILHA: PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA PESCA.

Autor: Pedro Leão

 

“Muita pesquisa vem ampliando e superando o olhar estreito de considerar apenas atividades pesqueiras realizadas por mulheres aquelas onde se reproduz sua relação por meios e técnicas de pescas dominadas pelos homens e não reconhecer como tal os processos também inerentes à pesca como o da comercialização do produto, da salga, da secagem, da evisceração dos pescados, etc., onde é relevante a participação das mulheres.

O que demonstraram alguns estudos sobre essa questão, realizados em várias comunidades do estado do Pará, é que a própria estrutura moldada e reproduzida na atividade pesqueira e na sociedade torna invisíveis os trabalhos desenvolvidos pelas mulheres e suas diversas dimensões, sejam na pescaria direta, na mariscagem ou em atividades familiares, onde se releva o papel feminino dentro da divisão sexual do trabalho (LIMA, 1999; ÁLVARES, 2001).

O estudo de Maneschy (2001), realizado em Vigia e o de Luzia Álvares (2001) e Lima (1998), na comunidade da Baia do Sol em Mosqueiro, são representações dessas mudanças de enfoque sobre a pesca artesanal e a diversidade dos papéis das mulheres na mesma, superando aquele que reafirma a pesca como uma atividade exclusiva dos homens.

A pesquisa do SETEPS (2003) revelou a participação de homens e mulheres na atividade pesqueira no estado, onde os homens representam 89,4% e as mulheres 10,6% do total entrevistado.

Ao focar sua pesquisa quanto à participação por sexo na pesca de Mosqueiro, Teshima (2006) observou que quase 10% dos pescadores em atividades eram mulheres. Os dados apresentado pela pesquisadora assemelha-se aos verificados na pesquisa das oitos áreas da ilha, onde 81% são homens e 11%, mulheres, sendo que essas se apresentam com maior participação no Carananduba, Cajueiro, Furo das Marinhas e Baía do Sol. Além do trabalho voltado a pescarias e mariscagem, as mulheres também participam da comercialização do pescado e da feitura e conserto de apetrechos de pesca como redes e matapis.

Do ponto de vista sócio-político, considera-se positivo essas atividades para a atividade sustentável em Mosqueiro, pois além da pesca, mariscagem e outras atividades, a participação feminina amplia-se no horizonte de apoderamento militante e dirigente da mulher em algumas comunidades tradicionais.”

IMAGENS DOS AMBIENTES E TIPOS DE EMBARCAÇÕES DA PESCA EM MOSQUEIRO

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Rio Cajueiro, Praia do Carananduba, Praia do Areião e Ponta do Ariramba (Fotos: Pedro Leão)

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Montaria no Cajueiro, canoa à vela na Baía do Sol, barco de pequeno porte no Areião e barco de médio porte no Cajueiro (Fotos: Pedro Leão)

IMAGENS DOS TIPOS DE ARTES DE PESCA (APETRECHOS) E ÁREAS DE DESEMBARQUE DO PESCADO EM MOSQUEIRO

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Rede malhadeira, espinhel, matapi e tarrafa (Fotos: Pedro Leão)

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Entreposto do Cajueiro, Porto do Pelé, Camboinha (Baía do Sol) e Trapiche do Mosqueiro (Praia do Areião) (Fotos: Pedro Leão)

DESEMBARQUE DA PRODUÇÃO DO PESCADO E TRABALHADORES DA PESCA

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Entreposto do Cajueiro, Furo da Marinhas, Praia Grande (Baía do Sol) e Vila de pescadores (Carananduba) (Fotos: Pedro Leão)

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Pescadores do Carananduba, marisqueiras do Ariramba, pescadores da Baía do Sol e vendedor de mariscos do Furo das Marinhas (Fotos: Pedro Leão)

FONTE: LEÃO, Pedro da Silva. ILHA DE MOSQUEIRO: Práticas de Pesca Sustentável numa Comunidade Tradicional da Amazônia – Estudo de Caso. 2011.92 p. Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental – Sistema de Ensino Presencial Conectado, Universidade Norte do Paraná, Belém-Pará, 2011.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: FAZENDO A HISTÓRIA DA BELÉM-MOSQUEIRO.

Autor: Augusto Meira Filho

 

“Acertada uma segunda viagem, Aníbal ficaria com a obrigação de nos comunicar o domingo próprio, em função da maré alta.”

“Em face dessa comunicação, amiga e desinteressada, marcamos a segunda investida para o domingo, 14 de junho de 1959. E nesse dia, madrugada ainda, partíamos no mesmo caminhão até onde fosse possível pela estrada, como na vez anterior. Nosso grupo foi acrescido de mais um participante, o amigo Joaquim Bastos. Assim, os excursionistas somariam quinze, incluindo-nos na chefia do movimento. Da mesma forma, alcançamos Aníbal no Tauarié, cedeu-nos o transporte com remadores e penetramos na Ilha, para vencer a guerra.

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Atravessando de barco o Furo das Marinhas (FONTE: A. MEIRA FILHO)

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Já na Ilha, o início da jornada (FONTE: A. MEIRA FILHO)

Em coluna por um, entramos, ardorosamente, na floresta. A mata era escura. A aurora surgia e mal se viam réstias de sol, invadindo a folhagem. O silêncio invadiu o ambiente e pássaros, soltos, começavam a anunciar o nascer da manhã. Passo a passo transpúnhamos tronqueiras envelhecidas, pântanos, igarapés; cipoal intrincado caía das árvores, complicando a marcha.

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Pose para a posteridade, próximo à Fonte Boa (FONTE: A. MEIRA FILHO)

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Vencendo um igarapé na mata fechada (FONTE: A. MEIRA FILHO)

Os menores ganharam a frente e, no fim da linha, lutava Manoel Pereira dos Santos a ajudar seu convidado Joaquim Bastos, que, pelo peso e altura, mal conseguia transpor tantos obstáculos da natureza pródiga da Ilha. Entramos no litoral, cerca de seis horas, e após duas de caminhada, para aguardar os retardatários, permanecemos, mergulhados até o pescoço, em um belo igarapé de águas correntes e escuras como café. O banho, de roupa e tudo, foi um bálsamo. Logo chegaram Santos e Bastos, o primeiro queixando-se de “enxaqueca” e o segundo, fadiga profunda. Mergulharam conosco e, refeitos, partimos para a segunda etapa da viagem pioneira. Por volta de onze horas, alcançamos um pequeno caminho roçado e lenha à margem. Estávamos próximos da serraria do Sr. Elias, local certo, onde havíamos fixado ao Agente Municipal do Mosqueiro nos mandasse apanhar por volta do meio dia. Tudo correu certo. Já na serraria, repousamos um pouco, fizemos fotos e apanhamos uma caçamba da Prefeitura ali posta à nossa disposição.

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Chegada à Serraria do Sr. Benedito Elias (FONTE: A. MEIRA FILHO)

Em quinze minutos soltávamos o Joaquim Bastos, em frente à sua vivenda no Ariramba e nós outros seguíamos para o Hotel do Russo. Sujos, andrajosos, fatigados, com sede e fome, comparecemos ao tradicional Hotel. Jornalistas, curiosos, nos aguardavam. Também o Agente Municipal, Carlos Gomes da Cunha, acompanhado de um vereador e outras pessoas gradas, veranistas que ali passavam o domingo.

O velho Russo, a princípio, não queria acreditar na nossa história. Julgava tudo aquilo uma brincadeira de mau gosto. Só depois que o Vereador e um jornalista dos Diários Associados subiram e discursaram, congratulando-se com o sucesso da caravana, anunciada no dia anterior, é que ele se entusiasmou com a avançada pioneira, abriu bebidas e mandou servir o que desejássemos e à vontade. Um dos companheiros havia levado um “peru cheio de farofa e azeitonas” e lá o devoramos, com boa cerveja, na confraternização recebida por todo mundo. A grande vitória anunciada de boca em boca. De Belém a Mosqueiro pela mata, a pé, a primeira e única vez que se realizou semelhante conquista. Recordamos a palavra fácil do repórter Pompeu, ao dizer em bom som:

-- Onde as pegadas de sacrifício desta caravana passaram dentro da mata mosqueirense, em breve correrá o ouro negro do asfalto. Será a Estrada! Benditos sejam! Agora ninguém dirá da impraticabilidade da rodovia! Bravo!

Tivemos que agradecer, em nome do grupo, não só a manifestação espontânea do repórter, como também, as do Vereador e de quantos se manifestaram com simpatia ao descermos da caçamba, em frente ao Hotel do Russo. Várias fotografias se repetiram para fixar o momento histórico. Também o Agente Municipal nos saudou veementemente e garantiu, na oportunidade, que aquele passo seria o começo de uma grande jornada que culminaria com a definitiva construção da Estrada Belém-Mosqueiro. Que de sua parte, como emissário do poder municipal naquela Ilha, todos poderiam contar com sua ajuda e admiração (a).

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Chegada ao Hotel do Russo. Agente Municipal Carlos Gomes,Secretário de Obras Candido Araujo, jornalistas, vereadores, amigos, caravaneiros: Manoel Santos, Benedito Mello, José Resende, Horácio Coelho, Emílio Coelho, Radir Amaral, Nelson Meira (FONTE: A. MEIRA FILHO)

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Em frente ao Hotel do Russo, da esq. para a dir. Emílio Coelho, Radir Amaral, Meira Filho, Rui Meira, Raimundo Almeida, Antonio Lira Jr., Benedito Mello, José Resende, Manoel Santos. Sentados: Nelson Meira, José Wilson e o jornalista Pompeu (FONTE: A. MEIRA FILHO)

Concluído o repasto-lanche, com base em bons drinques oferecidos pelo dono do Hotel, fomos todos para o banho de praia. Nossos trajes e presença, realmente, causavam espanto. Joaquim Bastos ficara-se no Ariramba, principalmente, porque sua roupa estava em frangalhos e não desejaria assim aparecer no bairro grã-fino do Chapéu Virado.

Uma enorme mesa e bem apresentada nos foi oferecida ao almoço. Homenagem da Agência Municipal. A festa se irradiara e era de se ver quanta gente nos procurava para ver de perto que havíamos partido de Belém pela madrugada e lá estávamos, em plena forma, vindos ao Mosqueiro sem qualquer outro meio de transporte, nem pelo avião, nem pelo barco dos SNAPP. Mas, a pé!

Após uma pequena sesta, voltáramos pelo navio da linha, o Presidente Vargas. Aníbal, sempre conosco, comungando de toda a alegria coletiva de seus amigos. Ao chegarmos a Belém, entrevistas aos jornais confirmando a esplêndida experiência na viagem que programáramos e realizáramos sem qualquer prejuízo. Agora – poderíamos confirmar ao público belenense – que a estrada seria uma realidade. Onde pisáramos, sobre lama, folhas apodrecidas, espinhos e sujeira centenária, dali surgiria, para grandeza de Belém, a futurosa rodovia. Sua destinação histórica estava comprovada (b).

No dia seguinte, o vereador que testemunhara nossa chegada em estado deplorável ao Chapéu Virado, Sr. Olavo de Souza Rocha, discursou na Câmara enaltecendo a conduta daquele pequeno grupo de trabalhadores, pioneiros da penetração terrestre entre a capital e a Ilha do Mosqueiro.

Confiante na caminhada, o deputado Stélio Maroja, na Câmara Federal, apresentava projeto concedendo às obras de abertura da “Estrada Belém-Mosqueiro” a importância de cinco milhões de cruzeiros destinados a colaborar na execução dos serviços.”

“Como é público e notório, nos fins de maio de 1959, faleceu de grave enfermidade o Governador Magalhães Barata. Expirou a 27 de maio e a 29 assumia o Governo do Estado o Coronel Luiz Geolás de Moura Carvalho, para completar o mandato do titular. Eleito Vice-Governador pela Assembleia Legislativa no mesmo dia do desaparecimento de Barata e, a partir dessa data, a administração do Pará estaria em suas mãos, pela segunda vez.”

“Procuramos o Governador em Palácio, especialmente para lhe dar conhecimento de todo aquele trabalho então efetuado para os estudos e a construção de uma ponte, no Furo das Marinhas.”

“Nossa preocupação agora se dirigia ao problema da travessia. As rodovias caminhavam satisfatoriamente. Apenas, o jogo político ainda influía muito nas obras, em ambos os lados. Resolvemos, por conta própria, promover uma divisão de esforços, dando a cada setor preso à estrada, sua parcela decisiva e especial.

Procuramos o Prefeito Lopo de Castro em sua casa, dizendo que o Governador Moura Carvalho vira com interesse proposições nossas de se deixar a critério das administrações rodoviárias do Estado (DER) e do Município (DMER) a conclusão dos serviços em andamento vagaroso, em face das divergências políticas das facções que dirigiam Estado e Município de Belém. Pela nossa sugestão, caberia ao DER a solução continental da obra; por sua vez, ao DMER, o encargo de realizá-la na Ilha do Mosqueiro. Cada um faria seu dever em benefício comum dos habitantes de Belém. Uma solução democrática e ninguém poderia gabar-se, de futuro, de ter feito mais ou menos do que o outro. Lopo aceitou a ideia com simpatia. Dali partimos a Palácio, expondo ao Governador Moura Carvalho a mesma posição defendida em casa do Prefeito. Adiantamos que o governador da cidade havia concordado com essa possibilidade e, dessa maneira, ganharia a população da capital. Fomos sinceros e seguros na exposição.

Moura Carvalho, imediatamente, apoiou-nos, dando instruções ao DER de sua decisão. Foi assim que começou a luta das duas entidades para saber-se quem chegaria em primeiro lugar à beira do canal. Estava aberto o jogo.

Nesse ínterim, cuidávamos da fixação das balsas e de sua operação no Furo das Marinhas. Muitas opções apareceram nesse tempo, para esses serviços. Sempre defendíamos que uma simples rampa calculada e de acesso às barcaças seria ainda o caminho mais prático. Aquilo era uma guerra e como tal deveria ser encarada. Contudo, alguns teóricos pretendiam construir flutuantes nas duas margens, próprios para o acostamento da embarcação em qualquer nível de maré. Apesar de tecnicamente certo, esse plano nos parecia oneroso e difícil. Já nos bastavam os sofrimentos anteriores, os milhares de dificuldades vencidas até aquele ponto da obra, para aceitar, simplesmente, maiores complicações ao primeiro término do serviço. As estradas continuavam longe do litoral, por vencerem cerca de mil metros de dolorosa baixada existente às margens do “furo”.

Urgia, por parte do Governo, uma lei que regulamentasse a exploração da travessia e determinasse as normas para a concessão desses serviços a terceiros. Nenhum organismo oficial, nem os rodoviários (estadual e municipal) pretendiam chamar a si esses encargos. Deveriam ser entregues a empresas privadas que se incumbiriam dos serviços de transporte de veículos do continente para a ilha. Houve quem nos procurasse imaginando que nós ou o nosso grupo teríamos, em princípio, pleiteado o trabalho, para explorá-lo em benefício próprio. Pelo contrário, levávamos, nessa altura, devidamente redigido um projeto de lei para o Executivo encaminhar ao Poder Legislativo, solicitando sua urgente aprovação e referente ao serviço de comunicação fluvial, no Canal das Marinhas.

Pessoalmente, levamos esse projeto ao Governador Moura Carvalho que logo o fez seguir para a Assembleia Legislativa. Ali seriam tantas as emendas absurdas que, quando aprovado e sancionado, ninguém tentaria aceitar qualquer concessão para explorar as balsas na estrada Belém-Mosqueiro.”

“Diante do rigor desse texto, ninguém seria capaz de candidatar-se a concessionário do serviço de balsas no Furo das Marinhas. Ainda nada existia de objetivo nesse sentido e já a lei fixava multas e tarifas, além de outras exigências descabidas. O nosso anteprojeto fora quase totalmente modificado, transformando a concessão numa verdadeira monstruosidade. As dificuldades, pois, continuavam a influir na construção e no futuro uso da estrada. Contudo, para uma coisa serviu a divulgação dessa lei: alertou aos fabricantes navais de Belém, motivando-os e fazendo com que tomassem a frente no fornecimento das barcaças e fabricadas nos nossos estaleiros.”

(a) Além de veranistas que estavam hospedados no Hotel do Chapéu Virado e outras pessoas curiosas com o feito, receberam os caravaneiros, o Secretário Municipal de Obras, engº. Cândido Araujo, o Agente Municipal da Ilha do Mosqueiro, Sr. Carlos Gomes da Cunha, os Vereadores Municipais Olavo Rocha e Antonio Cunha Gonçalves, representantes da imprensa e o jovem universitário Antonio Carlos Simões.

(b) No percurso dentro da mata fechada somente encontramos um jabuti e uma cobra pequena que, mais tarde, tornar-se-iam o emblema de nossa jornada.

(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 202 a 213; 217, 218; 223, 224; 229, 230; 235, 236; 241, 242)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CANTANDO A ILHA: OS CHALÉS (OU TEMPUS EDAX RERUM!).



Autor: Prof. Alcir Rodrigues

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Os chalés, na orla
da Beira-Rio
são os Moais desta Ilha...
vigiam a baía,
em uma atemporal expectativa,
anacrônicos monumentos
silenciosos de uma Era
que os consome a cada
hora ingrata que passa
e lhes acrescenta
uma rachadura
uma goteira
uma parede ruindo
seja pelo tempo
seja pelos cupins
ou pelo olvido...


O luar deixa pingar
seu leite impalpável
em lamentos brancos
sobre seus telhados seculares,
como vaticínios mais agourentos
que o canto do rasga-mortalha...
Tempus edax rerum!

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FOTOS: JCOLIVEIRA (http:// chalesdemosqueiro.blogspot.com)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: TEREZINHA NÃO FOI À FESTA.

Autor: Gabriel Pereira

“Terezinha tinha dezesseis anos e morava com os pais Manoel e Graça e o irmão Pedro numa casa de madeira, com quatro cômodos, construída no fundo do quintal de um casarão parecido com aqueles chalés que vemos em fotografias da França e da Suíça. A casa ficava de frente para a praia do Chapéu Virado, ilha de Mosqueiro.

Os pais de Terezinha eram os responsáveis pela limpeza e manutenção da propriedade. Toda semana, eles abriam o casarão, varriam, passavam o pano no assoalho, tiravam a poeira dos móveis e colocavam os colchões sob o sol. Assim, evitavam que o mofo tomasse conta do ambiente.

Terezinha, quando não estava ajudando a família na limpeza do casarão ou nos afazeres domésticos, passava horas correndo nas areias da praia, sempre em companhia das melhores amigas: Jacira e Jaciara. Gostava de tomar banho de praia, principalmente na enchente, por causa das maiores ondas, e corria na areia em busca de algum ajuruzeiro para subir e saborear os frutos arroxeados.

Em um dia do ano de 1923, Terezinha e as amigas souberam da organização de uma festa perto da rua das Mangueiras, antiga estrada de terra que ligava o Chapéu Virado à Vila. Terezinha queria ir para a tal festa e perturbou bastante os pais. Depois de muita insistência, eles a deixaram ir, mas com duas condições: o irmão Pedro tinha de ir e ambos deveriam estar de volta às 10 horas da noite.

No fim da tarde, os quatro jovens já estavam se arrumando. Após beberem um café preto e tomarem a bênção dos pais, saíram ansiosos de casa. Já havia anoitecido. Mosqueiro não possuía iluminação pública e só podiam contar com a luz do luar refletida sobre as águas.

No caminho da festa, eles começaram a se aproximar do chalé do coronel Lourenço Lucidoro Ferreira da Motta, mais conhecido como coronel Loló. De repente, Jaciara parou e arregalou os olhos. Os outros logo entenderam a razão de tanto espanto. Com as pernas trêmulas, corações acelerados e pêlos arrepiados, os quatro viram na varanda da casa, que estava com portas e janelas fechadas, um caixão todo preto, cercado de vasos com flores brancas. Não havia uma “viva alma”, ou será que havia?!

Neste instante, Pedro usou o último fio de coragem que ainda tinha e disse: “Precisamos nos aproximar para ver se não estamos enganados”. Deram somente alguns passos em direção ao chalé. Com muito medo, mudaram de ideia e saíram correndo de volta para casa. Eles foram chamar os pais de Terezinha.

Sem acreditar na história que ouviram, mas diante de tanta insistência, eles cederam e foram verificar o que estava acontecendo. E, de fato, os jovens não estavam brincando. Estava lá, no mesmo lugar, o caixão. A casa fechada e vazia deixava o ambiente ainda mais assustador.

Os pais de Terezinha agora tinham um argumento incontestável para proibi-los de sair. E ainda fizeram recomendações: “Rezem um Padre Nosso e uma Ave Maria antes de dormir”.

No dia seguinte, o sol mal havia nascido e Terezinha já estava de pé caminhando descalça pela praia, junto com as amigas. Elas queriam ver se o caixão estava lá ou não. Quando chegaram perto do chalé, viram que a varanda estava vazia. Ali, estavam apenas dois bem-te-vis pousados sobre o guarda-corpo.

Os dias foram passando e a história foi ficando para trás. Depois de quatro meses, chegou a notícia: o coronel Loló havia falecido. A data, todos já devem imaginar. Coincidência ou não, foi na noite da festa que Terezinha gostaria que ficasse para sempre na memória, mas por outros motivos.

A residência do coronel, mais tarde, acrescida de um sobrado, foi transformada em “Casa de Hóspedes”. Propriedade já da família Cipriano Santos, foi negociada e demolida, dando lugar ao atual condomínio Lilian-Lúcia.

Terezinha, atualmente Dona Tereza, casou, teve filhos e mora em uma pequena casa de madeira, próximo à rua das Mangueiras.”

FONTE: Pereira, Gabriel - “Terezinha não foi à festa” in __ Revista Ilhas Amazônicas: o arquipélago de Mosqueiro – parte 1, Ed. 01, JAN 2006. pp. 38 e 39.

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Chalé do Coronel Loló em 1907 (FONTE: “Mosqueiro Ilhas e Vilas” – 1978)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: A BELÉM-MOSQUEIRO EM 1959.

Autor: Augusto Meira Filho

“A partir desse tempo, observávamos o comportamento político regional, com Barata no governo, já enfermo, e Lopo de Castro na Prefeitura. No Mosqueiro, Efraim Bentes avançava a obra, de Carananduba para o Furo das Marinhas. No continente, cuidava-se da conservação do trecho aberto pela Firma R. Luiz de Almeida, mediante contrato com o DNER. A ponte sobre o rio Paricatuba fora construída pelo engenheiro alemão Richard Schumandeck, como já referimos, denominada “Dionísio Bentes”. O acesso até aquele rio se fazia normalmente e toda a zona delimitada pelo lugar de “Santa Bárbara” via-se beneficiada com a abertura da PA-17, inclusive a Fábrica de Caixas “Santa Rosa” e o sítio do Sr. Salame que por lá tinha a sua entrada.

A topo-hidrografia do Furo continuava a nos preocupar. Dois colegas, irmanados integralmente ao nosso projeto, Rui Almeida e Raul Rodrigues Pereira, ofereceram-se para uma observação preliminar do fundo do rio, atendendo às futuras necessidades desse conhecimento, para qualquer estudo eventual de uma ponte ou, mesmo, para a travessia do canal, em ferry-boats. Apresentando-os aos amigos da Fábrica “Santa Rosa” e ao próprio Aníbal Brito, no Tauarié, esses dois bravos companheiros em pouco tempo nos entregavam o serviço executado. Somente depois dessa constatação in loco ficamos sabendo da existência de dois canais, a sua profundidade média, a largura total do vão, a velocidade da correnteza (marés vazante e enchente), os bancos centrais de areia fina e a variação das marés. Eram dados indispensáveis para o prosseguimento das demarches em termos de “balsas” e de “ponte”. Ainda agora possuímos esses levantamentos, executados a ecobatímetro, silenciosamente, no canal, em frente ao topo das duas rodovias que deveriam ser interligadas de uma forma ou de outra.

Ficamos a dever a esses estimados colegas, hoje, ambos desaparecidos, essa inestimável contribuição à obra da estrada Belém-Mosqueiro. Tanto maior o seu valor quanto sentimos ter sido feito o trabalho gratuitamente. São os abnegados aos quais sempre nos temos referido no correr desta exposição.

No começo de maio, fomos surpreendidos pela visita de Horácio Coelho, Lauro Ramos e Rui Meira, que, em nossa casa, desejavam informações precisas sobre o pé em que andavam as obras da rodovia Belém-Mosqueiro. Um deles, o Lauro Ramos, descrente como todo mundo, julgava que aquele empreendimento era um mito talvez, uma indagação, fruto de nosso entusiasmo. Mas, de qualquer forma, queriam saber o que realmente havia da desejada obra.

Não diríamos que esse desejo fosse, apenas, uma colheita de dados, destinados a coisa mais importante que nós desconhecíamos.

A suposição que nos passava pela cabeça procedia. Lauro, mais explicitamente, acompanhado dos outros dois companheiros, esclarece-nos:

-- O problema é o seguinte, e isso mais ou menos de fonte segura, que o governo federal vai abrir ou reabrir cassinos nas áreas próprias, em estações e balneários do País. Muito nos interessaria o aproveitamento, no Mosqueiro, de um local para esse fim. Negociações já estão sendo mantidas pelo nosso grupo e nos parece que, desta vez, o jogo virá regulamentado, sem quaisquer proibições. Contudo, na continuidade deste plano, a mola principal será o acesso à Ilha do Mosqueiro, de preferência, claro, pela estrada. O dinheiro, nesse sentido, não faltará para concluí-la, se for o caso, e mais tarde se cogitaria da ponte sobre o canal. Este nosso encontro é reservado. Sabedores do estado atual da obra, iremos ver se interessamos o governo a fim de que tome a frente da construção rodoviária. Sabemos que Barata não é muito mosqueirense. Suas preferências sempre foram para Salinas. Mas, fato consumado, autorizada a abertura de Cassinos naqueles locais, acreditamos que ele verá o progresso que vai ter o Mosqueiro e as vantagens advindas com essa nova fonte de renda para o poder público. Turismo, desenvolvimento econômico, exploração imobiliária da ilha, construção de hotéis, etc., serão motivos de sobra para sacudir o nosso grande governador. Também temos conhecimento de seu prestígio junto a ele e que, partindo de sua iniciativa a conclusão da obra rodoviária para o Mosqueiro, nos será mais fácil convencê-lo da realidade dessa obra.

Escutamos a palavra do intérprete, sentimos aonde queria chegar e, calmamente, informamos:

-- Amanhã é dia santificado. A melhor resposta a vocês é um convite para visitarmos, em conjunto, tudo que existe em termos da estrada. Assim estarão credenciados a levar o que viram ao conhecimento das esferas oficiais. Não se fez esperar a confirmação dos três, concordando com a ideia.

No dia seguinte, bem cedo, partimos para a estrada. Percorremos o primeiro trecho, passamos o Paricatuba, entramos no segundo e, pouco a pouco, íamos discorrendo, historicamente, a respeito do empreendimento.

Conhecíamos o caminho, a palmo e, próximo à beira do Furo, paramos o veículo. Dali, lamentavelmente, para diante, só mesmo a pé. Foi o que fizemos sobre o chão úmido, mole, encharcado, até alcançarmos um pequeno ramal que nos conduziria à casa do amigo Aníbal Brito, no Tauarié. Felizmente o encontramos e foi uma alegria nosso encontro. Apresentamos os convidados e pedimos ao próprio Aníbal que lhes contasse o que sabia, sem acanhamento. Era gente nossa.

A maré enchia. Observaram a invasão das águas e sua penetração nos terrenos do litoral.

Uns drinques refrescaram os ânimos. Lauro Ramos empolgara-se, olhando, em frente, a Ilha à nossa espera. Vira a rodovia e seu estado de conservação. Aníbal, francamente, relatara nosso esforço comum, até chegarmos àquele ponto. Havia sido uma aventura, confirmava o lusitano, desde que ali chegáramos em 1946.

Depois, um bom banho culminaria o delicioso passeio. Nessa ocasião acertaríamos voltar para atravessar o Furo e tentar, dentro da ilha, um futuro caminho, uma linha de ensaio, que nos levasse ao Chapéu Virado ou a outro ponto da costa do Mosqueiro com frente para o Marajó.

Retornamos à hora do almoço e ainda fizemos uma boa parada, no igarapé do Paricatuba, para outro banho de rio. Os colegas haviam levado uma garrafa de “Gordon-Gim”, quase todo sorvido nesse recanto delicioso. Daí por diante, chamaríamos toda aquela região compreendida entre o Paricatuba e o Tauarié de propriedade de Mister Gordon. E o apelido ficou. Veremos...

Em vista do sucesso da viagem, começamos a convidar, pela imprensa, voluntários para um passeio “a pé” de Belém ao Mosqueiro. Faríamos pela coluna que assinávamos n’ “A Província do Pará” – Ronda da Cidade.

No domingo seguinte, cerca de uma dezena de amigos se propunha a nos acompanhar na jornada pioneira.

Realmente, chegamos ao Tauarié ao amanhecer, tendo deixado Belém pelas quatro horas da manhã. Aníbal, outra vez, recebe a caravana com simpatia e satisfação. Dissemos a que íamos. Forneceu-nos embarcação com remadores de sua propriedade e, ele mesmo, incorporou-se ao grupo. Também, há muito desejava conhecer o Mosqueiro “por dentro”. Partimos alegres, lotando o pequeno barco, em demanda da outra margem, no Mosqueiro. Faziam parte: Horácio Coelho e seu filho menor Emílio, Radir Amaral, Rui Meira, Benedito Mello, Antonio Lira Júnior, Luiz Lima, Raimundo Almeida, Manoel Pereira dos Santos, nosso filho menor Nelson, José Wilson, José Resende e Aníbal Brito. Nós comandávamos essa loucura que, antes, jamais alguém fizera. Lauro Ramos faltou nessa segunda visita ao Tauarié.

Atravessamos bem os mil e quinhentos metros de largura do Furo. Jogamo-nos à margem lodosa, onde nossos corpos penetravam quase até os joelhos. Marchamos em penosa luta, nesse baixio terrível que circunda a ilha e onde as águas grandes também penetram. Finalmente, após cerca de oitocentos metros, chegamos ao terreno sólido. Foi uma festa. Um igarapé próximo, denominado de “São Sebastião”, cedo, com a enchente (atravessamos na vazante), no barco do Aníbal, nos traria o companheiro Luiz Lima, que não conseguira nos seguir na baixada e quase fica preso no tijuco da beira. Dois mateiros e remadores é que o retiraram daquele aperto.

A mata era fechada e escura. Naquele pequeno elevado da costa, procuramos ouvir as opiniões do “colegiado” que se fixara, lembrando que nenhuma instrumentação trazíamos, nem alimentos, nem água. Informamos que a estirada não deveria ser menos de uns dez a doze quilômetros. Havia menores e a avançada deveria ser bem calculada e decidida. Acendemos uma pequena fogueira, bebemos os poucos drinques que levávamos e batizamos o lugar de “Boa Esperança”. Finalmente, depois da chegada alvissareira do Luiz Lima, já de barco, por proposta do Aníbal Brito, acostumado àquelas paragens, ficou ajustado que uma nova tentativa seria realizada, em dia a ser combinado e de conformidade com as marés. Evitar-se-ia o percurso na lama que, então, vencêramos.

Todos se comprometeram a voltar, quando nós anunciássemos a hora aprazada para a travessia do Furo e a penetração na ilha, em busca das praias.

Aprovada essa sugestão, oportuna e meditada, retornamos pela mesma embarcação ao Tauarié, onde Aníbal nos serviria um lauto lanche. Aquela viagem fora de reconhecimento e alguma experiência nos ficaria. Após descanso e banho no rio, a comitiva retornou a Belém, pelo caminhão que havia levado, até o local transitável da estrada PA-17, o grupo de Belém pela madrugada. O motorista, sabiamente, resolvera permanecer, convencido de que poderia ser necessário transportar, novamente, a mesma gente para a cidade, na hipótese de ser frustrada a pretendida viagem pelo interior da ilha. Esse servidor da firma do Sr. Ramos passaria à história por esse gesto. Chamava-se Peck. Passou a ser o companheiro de “Mister Gordon” como “Mister Peck”.”

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978 – pp. 196, 197, 198, 201 e 202.

domingo, 11 de setembro de 2011

CANTANDO A ILHA: O CANTO DO SABIÁ DO BISPO

Autor: Alcir Rodrigues

 

Beleza germânica, bem que deseja

aliviar a morbidez suástica

e abrandar o grito de 6 milhões

de almas, mas não faz esquecer...

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Testemunha tácita

dos passeios espectrais do bispo

sem cabeça

a encantar (encontrar)

o crepúsculo

e assustar os tralhotos

nas ondinhas que lavam

as areias doces da praia um tanto

pedregosa, cheia dos capinzais

que servem de refúgio

às hostis arraias.

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Postal da Ilha,

arquitetura antiga, dos tempos

de antigamente de uma vila

já centenária, teu ocre combina

com a cor das areias, lembrando

páginas de um livro antigo.

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O conjunto todo combina:

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casaescadariacolunascoqueiros

palmeirasquadrapostesbarrancosbarracas

areiaareiapedrascapins... Pessoas.

Pessoas alegres no bar...

Burburinho de vozes e risos ancestrais

ecoam balbuciantes, dolentes, saudosos...

Dói-me, dói-me bastante o estar-longe-dali.

FOTOS: nº 1- Joannes Fecheter; as demais – C. S. Wanzeller.

sábado, 10 de setembro de 2011

CANTANDO A ILHA: MOSQUEIRO, GOSTO DE TI.

O AUTOR:

LAIRSON COSTA
BELÉM, PARÁ, BRASIL
 

Professor de Língua Portuguesa do Instituto Federal do Pará e Revisor de Textos da Universidade Federal do Pará. Especialista em Teoria Literária e aluno do Mestrado em Linguística/UFPA. Recebeu o prêmio Jabuti em 2001 como editor do livro "A Família Canuto e a Luta Camponesa na Amazônia", de Carlos Cartaxo. Autor dos livros Insanidades, Mosqueiro em Versos, Mosqueiro – Pura Poesia, CEFET – História que inspira poesia, Contando Histórias, Tênis de Mesa no Pará (coautoria com Mauro Macedo), Orientações para a produção textual... (coautoria com José dos Anjos Oliveira), Igreja do Evangelho Quadrangular..., Um Encanto de Ilha e Instituto Federal do Pará: 100 anos de educação profissional. Lançou os CDs Tributo a Mosqueiro e Um Encanto de Ilha.