quarta-feira, 31 de agosto de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: A ESTRADA VÊ A ILHA

Autor: Augusto Meira Filho

“Voltando a governar o município da capital, eleito pelo povo, o Sr. Lopo de Castro retorna às suas atividades em prol da rodovia Belém-Mosqueiro. Cuida, agora, de realizar a abertura da estrada na ilha do Mosqueiro.

Na área federal, pelo DNER, haviam aberto concorrência para a feitura do levantamento total da rodovia PA-17 conjugada à BL-19 e coube, por decisão legal, ao escritório R. Luiz de Almeida a execução desse trabalho. Finalmente, a velha estrada começada pelo trabalho de Delbim, em 1946, tomava seu caminho certo. Ganhava seu conhecimento global, de Belém à Vila do Mosqueiro.

Cinco cadernetas de campo que ainda possuímos em nosso arquivo constatam, desse serviço, admirável contribuição do engenheiro Rui Luiz de Almeida. Vem dessa oportunidade a marcação da rodovia em três fases: de Benevides à margem do continente (Canal das Marinhas), do Canal à Vila de Carananduba e o Ramal projetado direto à Vila, encurtando o caminho cerca de seis quilômetros, para o centro mais importante da ilha.

Rui Luiz de Almeida, por sua firma especializada, ganharia, à mesma época, a construção (inclusive abertura da estrada) a partir do Paricatuba e a execução desse serviço nos trouxe bastante dor-de-cabeça, apesar de ser feito sob concorrência normal do DNER, quando esse organismo era dirigido pelo colega Engº Gasparino.

É que toda essa região, quase em sua área total, que a rodovia cortaria em dois pedaços, pertencia ao Sr. Alberto Engelhard. Homem difícil, pôs mil dificuldades para que a topografia entrasse em suas propriedades e, sobretudo, a maquinaria destinada à construção da obra.

A solução nos veio em palestra com o saudoso Octávio Franco, amigo do Mosqueiro, em uma de nossas viagens de volta a Belém, pelo Vargas. Resolvemos criar uma “Sociedade dos Amigos do Mosqueiro” e lançá-la contra a teimosia do velho Engelhard. Dito e feito. Em dia memorável e histórico, reunimos um grupo nos salões do “Pará Clube” e constituímos a Sociedade. Elegemos Octávio Meira – Presidente; Octávio Franco – Vice; Lobato de Abreu – Secretário e nós ficamos na segunda secretaria, encarregada de atas e outras providências.

Sabíamos que Engelhard só precisava de gente séria a seu lado, para se obter o permiso, cujo fim único era o de permitir acesso às suas terras no Paricatuba, para a continuação das obras da rodovia Belém-Mosqueiro. Concordou, finalmente, com esse grupo à frente, mas fez exigências, entre as quais a de o executor do serviço cercar de arame, em ambos os lados, o corte necessário ao leito da estrada. E tudo isso foi feito. Mesmo assim, o velho casmurro, mas de excelentes qualidades, mandou seu capataz soltar búfalos brabos no interior da mata.

Com esse ‘“salvo-conduto”, a Firma R. L. de Almeida meteu máquinas e gente que, para surpresa de muitos, logo alcançaria as proximidades do Furo das Marinhas.

Enquanto isso acontecia no Paricatuba, nessa luta para derrubar tranquilamente o velho Alberto Engelhard, sem qualquer interferência oficial no caso, prosseguíamos em busca de uma solução para as “balsas” que atravessariam o furo, levando os veículos de Belém até as praias do Mosqueiro. Em mãos, tínhamos os projetos desse serviço em Guarujá. Tentávamos, então, obter uma unidade já pronta, adquirindo-a desde logo. A presença de uma balsa para seu fim específico seria de uma segurança enorme na conclusão da rodovia. A pergunta generalizou-se: “Para que balsa, sem estrada? Para que estrada, sem balsa?” “

“Finda-se o ano de 1958 e nós tínhamos em mãos enorme acervo técnico sobre construção de balsas. A rodovia caminhava normalmente e o Prefeito Lopo de Castro dava curso às obras da estrada na ilha do Mosqueiro. Fora transformado o SMER em DMER e, dada essa modificação, foi criado o Conselho Rodoviário Municipal. Para presidi-lo, convidou-nos o Prefeito. Havíamos indicado o colega Engº Fernando Guilhon, por todos os títulos merecedor daquela distinção. Ele próprio colaborara na regulamentação do novo órgão do município e conhecedor da política rodoviária do país, apresentou um trabalho admirável aprovado pelo Chefe do Executivo. Foi intérprete de todas essas providências o colega Engº Evandro Bonna, então Diretor do DMER, recentemente fundado, originário do SMER, cujo primeiro diretor foi o colega Engº Alírio Cezar de Oliveira.

Começa o ano de 1959 que teria grande influência e participação na construção da rodovia Belém-Mosqueiro.

O desenvolvimento da obra não era mais segredo a ninguém. Muita gente começava a aderir ao nosso movimento. Uns, acreditando com dúvidas, outros duvidando, sem acreditar muito. Mas o serviço avançava. A Prefeitura contratara por intermédio do DMER os trabalhadores da firma Rodofranc, de propriedade do Eng.º Efraim Bentes para que se ocupasse da abertura e construção da BL-19, no correr do que já existia pelo lado continental.

A proposta desse profissional foi aceita e, assim, deslocou-se com seu equipamento, para a ilha do Mosqueiro. Nós próprios fornecemos a ele a caderneta de campo (levantada pelo Engº Rui Luiz de Almeida), na zona referida entre o Furo das Marinhas e Carananduba. Foi com base nesse levantamento que a obra teve início a partir da igrejinha da Vila de Carananduba, seguindo reto, em demanda da borda do rio. Fiscalizava o serviço o Engº Luiz Baganha e lá estivemos muitas vezes em caravanas de amigos que desejavam conhecer a obra miraculosa. Efraim Bentes desmatou, abriu a rodovia, construiu obras d’arte e colocou-a em situação de receber tráfego normal. Sua proposta não previa o acabamento com empiçarramento, bordaduras, pavimentação, que só mais tarde seriam efetuados. Da mesma forma como a firma R. Luiz de Almeida tinha paralisado no continente a construção da estrada, cerca de 800 metros antes do Furo (local super-pantanoso e de influência das águas de marés grandes), a Rudofranc fez a mesma coisa. Paralisou as obras na mesma distância, no interior da ilha. Foi ao seu término que uma árvore caiu sobre um de seus operários, matando-o cruelmente. Efraim foi desvelado com a família desse servidor da estrada e esse fim funesto nos serviu para escrever um artigo sobre o 1º mártir sacrificado na estrada Belém-Mosqueiro. Era a verdade histórica. Precisava ser assinalada com ênfase!”

(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 184, 185, 190 e 191).

sábado, 27 de agosto de 2011

A IMA GEM E O TEMPO: O QUEBRA-MAR

 

Quem conheceu a ilha antes dos anos 70 se lembra, com certeza, de um bar que ficava às proximidades do Trapiche da Vila, quando ainda não existiam as chamadas barracas de praia. Era o QUEBRA-MAR, um dos points preferidos pelos pescadores, pelos carregadores de bagagens, pela gente humilde da terra e pelos veranistas que buscavam uma integração prazerosa com a comunidade. Quantos amigos viram o nascer ou o pôr-do-sol e a chegada do Presidente Vargas, saboreando ali, no Quebra-Mar, uma cachaça ou uma cervejinha bem gelada e os tira-gostos servidos amavelmente pela Dona Irene!

E para quem não lembra ou nunca viu, trazemos algumas imagens do passado:

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QUEBRA-MAR, um point inesquecível (FOTO CEDIDA POR IRENE SANTOS)

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O Quebra-Mar e ao fundo o Presidente Vargas (FOTO DE IRENE SANTOS)

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O Quebra-Mar visto da praia (FOTO CEDIDA POR IRENE SANTOS).

Esse bar tinha como proprietário o Sr. Raimundo Monteiro. No entanto, o local é público e, em1971, o Prefeito Nélio Lobato determinou a sua desocupação. Assim, o Quebra-Mar e todos os quiosques que existiam na Praça da Matriz foram demolidos. Acredito que o único remanescente, depois de muita polêmica, é o BAR DO PARQUE, na Praça da República, em Belém. E o que tinha esta imagem:

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FOTO CEDIDA PELA SENHORA IRENE SANTOS.

... ficou assim:

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FOTO WANZELLER (2011)

Mas a Dona Irene Santos Ferreira, que desde 1968 gostava de trabalhar naquele local, não se conformou, subiu a ladeira e instalou, ali perto, o NOVO QUEBRA-MAR. Lembro-me das sopas de fim-de-festa, nas madrugadas da ilha, das deliciosas fritadas de camarão e do acordo que alguns amigos e eu fizemos, em março de1979, para um reencontro dez anos depois, naquele mesmo lugar. E não é que voltamos! Claro que houve uma grande comemoração!

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A SEGUNDA FASE DO QUEBRA-MAR (FOTO CEDIDA POR IRENE SANTOS).

Mas existe, nesta história, outra personagem não menos importante que a Dona Irene: o marido dela! Chamavam-no de Parente, talvez porque fosse legal com todo mundo. Era o Sr. Raimundo Nonato Ferreira. Olhem, que ele está bem aí com sua esposa, sob o olhar brincalhão do Carlito Urubu:

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PARENTE E IRENE NOS VELHOS TEMPOS (FOTO CEDIDA POR ELA).

O Parente não era feio: ele tinha um carro!

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FOTO CEDIDA PELA DONA IRENE SANTOS.

E era dono até de um ônibus, que ele trouxe de Belém:

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FOTO CEDIDA PELA DONA IRENE SANTOS.

E esse ônibus foi o primeiro coletivo a fazer linha para a Baía do Sol, já que os CORONADOS, ônibus da Prefeitura, só faziam o transporte até o Carananduba. Aliás, para facilitar o acesso à Baía, o Parente ajudou bastante na construção da primeira ponte de madeira sobre o rio Sucurijuquara, adquirindo material para a mesma. A isso eu chamo de investimento, coisa que muitas empresas privadas poderiam fazer. Parente faleceu no dia 17 de novembro de 1990, mas marcou passagem. Na lembrança, aí está ele, saboreando uma cerveja com o conhecidíssimo CRICRI também já falecido:

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FOTO CEDIDA PELA DONA IRENE SANTOS.

A segunda fase do Quebra-Mar acabou, mas a Dona Irene, sempre determinada e sem medo da vida, continua com o seu negócio, ali bem pertinho, no início da Rua da Pedreira. É gente que faz história!

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DONA IRENE SANTOS FERREIRA (FOTO: WANZELLER, 2011)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

CURIOSIDADES: A ILHA E O PARAGUAI

 

 

É curioso como o nome Paraguai tem uma íntima relação com a ilha do Mosqueiro, desde os tempos do Império. É óbvio que seu uso parece revelar uma espécie de homenagem à bravura dos soldados paraenses que, no século XIX, participaram da Guerra do Paraguai.

Sabe-se que o Sítio Conceição denomina uma região ao norte, antes chamada de Paraguai. Lembro também que, na década de 1960, havia uma escola batizada com o nome de Escola Reunida do Paraguai.

Na tropa do Pará que participou daquela guerra há registro de dois heróis importantíssimos para a história da ilha: o italiano Jacintho Botinelli, voluntário que chegou a general, e o paraense Francisco Xavier da Veiga Cabral, o Cabralzinho, conhecido como o Bravo do Amapá. Para homenagear seus feitos, o Governo Provincial dividiu a ilha do Mosqueiro em duas partes, cujas terras foram doadas a esses heróis. Doação provisória, porque, anos depois, as terras seriam devolvidas à Província e distribuídas legalmente por meio do sistema de léguas de sesmarias. Como lembrança desse fato só ficou a denominação da Sétima Rua da Vila: Francisco Xavier da Veiga Cabral.

Entretanto, a história se repete: gente humilde, lutando pela sobrevivência e por um lugar na ilha, segue pela Veiga Cabral e oitava rua, atravessa o igarapé Tamanduaquara e instala-se à margem desse curso d’água, dentro do Parque Municipal da Ilha do Mosqueiro, área de preservação ambiental de 190 ha, criado pela Lei 1.401/88, englobada pelo Plano Diretor do Município de Belém, Lei 1.601/93 e ratificada pelo Decreto 26.138/93 da Prefeitura Municipal de Belém, de 11 de novembro de 1993, segundo dados obtidos por Kelly Garcia. Tal ocupação é o Novo Paraguai! Essas pessoas, com certeza, não são herdeiras do Cabralzinho – que já tem seu lugar reservado no Cemitério de Santa Izabel – mas são mosqueirenses que precisam de moradia e auxílio do Governo.

É como sempre digo: a ocupação da ilha é irreversível, mas causa apreensão quando desordenada e sem a presença do poder público, pois, assim sendo, gera graves danos ao meio ambiente e uma série de problemas sociais.

Quanto ao Parque Municipal da Ilha do Mosqueiro, a Prefeitura de Belém deve fazer-se mais presente, com seu Serviço Social e seus Técnicos Ambientais.

A assistência social aos moradores do Paraguai e aos ribeirinhos da área é de suma importância, já que pode ajudá-los na solução de vários problemas e – quem sabe? – até transformá-los em fiscais da Natureza. Por outro lado, os especialistas em meio ambiente podem demarcar e isolar a área do parque para evitar novas invasões, cadastrar seus moradores atuais, coordenar projetos de saneamento básico nas áreas habitadas e, sobretudo, exercer uma fiscalização séria e responsável.

É preciso ter cuidado para que os nossos recursos hídricos, que abastecerão a ilha no futuro, não fiquem irremediavelmente comprometidos pela contaminação, levando à morte os nossos rios.

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Ocupação do Paraguai (IMAGEM DE SATÉLITE: GOOGLE EARTH).

terça-feira, 23 de agosto de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: A BELÉM-MOSQUEIRO NO JOGO POLÍTICO DOS ANOS 50.

Autor: Augusto Meira Filho

Esse ano de 1955 seria palco de outra movimentação política. Completava-se o governo Assunção e, a 3 de outubro, o pleito se feriria em todo o Estado.

Magalhães Barata candidata-se a Governador e o destino faria com que ele mesmo fosse o substituto do General Zacarias de Assunção, vencendo as eleições, tomando posse no ano seguinte, de 1956. Celso continuava na Prefeitura e, cedo, ocorreria a escolha de seu sucessor, que recaiu na pessoa do Sr. Lopo Alvarez de Castro, realmente vencedor e empossado em novembro de 1957.

Estava, pois, dividida a área política do Estado e da capital. O grupo oposicionista ao PSD (Barata) chefiava o município da capital e o Estado ficava em mãos de Magalhães Barata.

Poucos acreditam que essa divergência política foi a principal responsável pela demora na conclusão dessa obra da estrada Belém-Mosqueiro. Nós, que nunca a largamos, sabemos, perfeitamente, pois sentimos isso na pele, o prejuízo que nosso plano teve, em face desse lamentável desencontro. E é fácil explicar. Mosqueiro, na qualidade de distrito da capital, estava sujeito ao Prefeito de Belém; por outro lado, a parte da rodovia continental dependia das atividades do governo estadual. Dessa maneira, a PA-17, no Mosqueiro, era designada BL-19 (estrada municipal) e só mantinha sua denominação estadual, no continente. Veja-se a curiosa situação da estrada: partia de Belém para Belém na ilha, passando por um município do Estado (Ananindeua). O problema geográfico em nada influiria. A questão maior dizia respeito à posição político-partidária das duas chefias. Adversárias, cada qual trabalhando para a sua facção, nenhuma dava a outra qualquer oportunidade de “aparecer” perante o eleitorado. O Governo estadual não cooperava francamente, porque não iria ajudar uma obra municipal, de interesse da oposição; a Prefeitura, de sua parte, deixava a coisa rolar, simplesmente, porque “sem a obra no continente” de nada valeria despender-se qualquer soma em uma obra na Ilha, propriamente dita.

Eis a guerra formada e levada a sério por muitos anos.

No entanto, nada disso levávamos em conta e tocávamos para a frente o grande empreendimento. Com a simpatia de um grupo amigo, nos seria possível manter vivo o fogo olímpico que empunháramos em 1946.

Enquanto os políticos se digladiavam, inutilmente, perdendo tempo e dinheiro, nós avançávamos na nossa conquista.

Nesse interregno, visitamos, em Guarujá, o serviço de balsas ali mantido pelo Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo. Tomamos conhecimento de que tais encargos estavam afetos ao colega Oscar Fernandes da Silva, engenheiro paraense, servidor do DER paulista. Irmão do gerente da agência do Banco da Amazônia onde servíamos, nos aproximamos e dele obteríamos todas as informações sobre o funcionamento dos ferry-boats em Santos e demais detalhes técnicos. Serviço congênere Belém iria necessitar no “Furo das Marinhas”, no percurso da rodovia Belém-Mosqueiro.”

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 179 e 180.

sábado, 20 de agosto de 2011

A IMAGEM E O TEMPO: PRAÇA DA MATRIZ

 

 

Ponto de encontro das famílias da ilha e da capital, esse logradouro público é conhecido como Praça da Matriz desde 1868, quando o Cônego Manuel José de Siqueira Mendes, primeiro Vice-Presidente da Província do Grão-Pará, criou a Freguesia do Mosqueiro, sendo a Capela da Irmandade de Nossa Senhora do Ó, transformada na principal igreja da ilha, cuja inauguração ocorreu em 1914.

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CÔNEGO MANUEL JOSÉ DE SIQUEIRA MENDES (FOTO: ALEPA)

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Praça da Matriz em Mosqueiro, nos tempos de Vila (Fonte: Blog Haroldo Baleixe).

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PRAÇA DA MATRIZ NA DÉCADA DE 1970 (FOTO: família Ferreira)

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PRAÇA DA MATRIZ EM 2011 (FOTO: Wanzeller)

Nessa praça, no dia 15 de agosto de 1923, aconteceu a comemoração do Centenário da Adesão do Pará à Independência. Na época, o Intendente Municipal de Belém era o Dr. Cypriano Santos, um grande admirador do Mosqueiro. Na ocasião, foi inaugurado um artístico pedestal no Cruzeiro que ali existia, sendo colocadas placas com inscrições alusivas aos Centenários da Independência e da Adesão do Pará, as quais também citavam como fundadores da Vila do Mosqueiro o Coronel José do Ó e o Padre Manoel Rayol. Atualmente, o lugar, que os nossos avós chamavam de “largo”, é denominado Praça Cypriano Santos, justa homenagem a esse homem, cuja participação na história da ilha é inegável.

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DR. CYPRIANO SANTOS, ADMIRADOR DA ILHA (FOTO: ALEPA)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A IMAGEM E O TEMPO: CAPELA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS.

Mandada construir pelo Sr. Guilherme Augusto de Miranda, por ter recuperado a saúde na ilha do Mosqueiro (“in perpetuam memoriam bratiae recuperatae sanitatis, in insula Mosqueiro, ad litus vulgo Chapeo Virado”), a centenária Capela do Sagrado Coração de Jesus, no Chapéu Virado, foi inaugurada no dia 17 de dezembro de 1909, pelo Arcebispo Efetivo de Belém Dom Santino Maria da Silva Coutinho.

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A Capela na década de 1940 (FOTO: Hermínio).

 

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A Capela na década de 1970 (FOTO: Regina)

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A centenária Capela em 2010 (FOTO: José Carlos de Oliveira)

CANTANDO A ILHA: UMA CAPELINHA SECULAR

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

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Capela do Sagrado Coração de Jesus (FOTO: Hermínio)

O sagrado Coração de Jesus

pulsa gracioso

na paisagem-luz do Chapéu-Virado,

secular coração

arquitetado em pedra

e cimento e fé cristã,

mais de um século e meio

depois de os Cabanos

ali lutarem e morrerem

por seus ideais.

Suas vozes ancestrais, em uníssono,

clamam no vazio do panorama

da madrugada: “Nossa luta,

nossa morte,

hão de não ser atos vãos?”

Só as estrelas respondem

em um pulsar trêmulo,

linguagem secreta

que só ao tempo cabe

a tarefa de decifrar...

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FONTE: http://moskowilha.blogspot.com/2011/07/capelinha-secular.html#links

 

O AUTOR: Nasceu em Belém – Mosqueiro, Norte, Pará, em 1968, filho de Alfredo Alvarez Rodrigues Filho, mecânico e Gerente da Cosanpa de Mosqueiro, já falecido, e Joana Maria de Vasconcelos Rodrigues, professora. Tem Mestrado em Letras-Estudos Literários, pela UFPA, com a Dissertação "Espaço ficcional no romance Ponte do Galo, de Dalcídio Jurandir”, Especialização "lato sensu" em Língua Portuguesa e Análise Literária, pela Unama, com a monografia "Narrativas orais da ilha de Mosqueiro: memória e significado", e graduação em Letras, Língua Portuguesa, pela UFPA, com o TCC "O fantástico em 'A caçada'", de Lygia Fagundes Telles. Artista plástico por hobby, gosta de escrever contos, crônicas, poemas e ensaios de natureza vária, principalmente ligados à literatura... Mora numa ilha chamada Mosqueiro, com muitas praias banhadas por um rio-mar com ondas, ondas de águas doces...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: MATINTAPERERA*

Autor: Prof. Lairson Costa

Quem me contou esta história foi o finado compadre Rufino Guimarães, um homem de 70 anos que morava lá para as bandas da Baía do Sol, uma das mais belas praias de Mosqueiro-PA. Ele jurava que fora testemunha do que passo a narrar-lhes.

Perla era uma bela mulher, morena-clara, mãos e pés perfeitíssimos, os cabelos pretos longos; os dentes é que destoavam, parecendo amarelados. Tinha 23 anos e era órfã de mãe. Só possuía como parente o pai, seu Cardoso, que não mais casara.

Tinha um ar misterioso e seus pretentendes sabiam que ela às vezes os impressionava de modo estranho..

Os pedidos de namoro causavam-lhe revoltas; seu pai despedia os pretendentes pedindo-lhes desculpas pela forma como esses eram tratados por ela.
-- Gosto de estar sozinha.

-- Mas filha, não acha que nenhum homem mereça seu amor?

-- Eu já disse e torno a repetir, papai. Quero viver sozinha!

Perla foi se tornando uma pessoa amarga e até cruel: apedrejava os animais e não suportava mais a presença humana. Somente o pai procurava entendê-la, embora fosse constantemente rechaçado por ela. As pessoas estranharam a mudança de comportamento daquela mulher um dia gentil e de aparência tranqüila.
O pai passou a perceber a ausência da filha às madrugadas. Cedo, escuro ainda, levantava e saía; entrava na mata, sem que ninguém a visse; ali passava horas e horas.

Com a presença de Perla, a natureza parecia ser tomada de nova energia. A folhagem tremia agitada; ouviam-se assobios, uivos e bramidos.
Numa das madrugadas, o pai resolveu ficar acordado e segui-la. Pegou uma espingarda e partiu para o meio da mata. Como estava muito escuro, acabou perdendo-se.
Começou a cair uma chuva fina. De repente começou a ouvir uns assobios finos ao longe. Ficou com o corpo todo arrepiado, o coração começou a bater descompassadamente; percebeu que estava em perigo.

Espantou-se ao encontrar uma casa velha de madeira abandonada, de onde percebeu partirem os estranhos assobios. Parou um momento, sentiu medo e vontade de voltar, mas reuniu as últimas forças para prosseguir. Quando se aproximou, observou que havia vários buracos na parede da casa. Resolveu espiar por um deles.

-- O que ou quem habitava aquele lugar? - pensou ele. Nada pôde ver, estava muito escuro dentro. Mas pôde sentir o cheiro sufocante de tabaco e cachaça que exalava do ambiente.

Olhando mais atentamente, seu Cardoso viu uma rede atada e dentro dela um ser que não parecia humano; com movimentos vagarosos, tremendo muito, e com arma em punho, abriu a porta, que, por estar velha, fez barulho, fazendo com que aquele ser saísse voando em sua direção com uma mistura de grito e assobio. Assustado, ele dispara um tiro, acertando o peito daquele estranho ser que, mesmo ferido, consegue fugir.

Seu Cardoso, depois disto, retoma o longo caminho de volta. Ao se aproximar de sua casa, avista uma multidão. Corre para ver o que acontecera. Quando chega, encontra Perla morta, com um tiro no peito. O pai logo entendera o que havia acontecido.

FONTE: COSTA, Lairson; Fernandes, Joseane. Contando Histórias. Belém: L & A Editora, 2004.

MOSQUEIRANDO: Para conhecer outros contos do autor, visite o BLOG DO PROF. LAIRSON COSTA (http://proflairson.blogspot.com/p/artigos.html).

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A IMAGEM E O TEMPO: PRAIA DO BISPO

 

 

O retrato do abandono polui a visão, agride a história, faz mal ao coração e revela a inconsciência de uns, o descaso de outros e a conivência de tantos. Felizmente, a Prefeitura Municipal de Belém mudou essa imagem.

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Quadra de Esportes Dr. Irawaldir Rocha em 2010 (FOTO: Wanzeller).

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Quadra Dr. Irawaldir Rocha em 2011 (FOTO: Wanzeller).

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Rampa da Rua Juvêncio Silva em 2010 (FOTO: Wanzeller).

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Rampa da Rua Juvêncio Silva em 2011. (FOTO: Wanzeller).

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Muro de arrimo ameaçado em 2010 (FOTO: Wanzeller)

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Muro de arrimo protegido em 2011 (FOTO: Wanzeller)

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Lixo e mato avançando para a praia em 2010 (FOTO: Wanzeller)

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Orla do Bispo recuperada em 2011 (FOTO: Wanzeller)

JANELAS DO TEMPO: PRAIA DO BISPO

 

 

Ainda em criança, na década de 1950, via com fascínio a praia do Bispo, recanto encantado de cuja solidão pareciam brotar reminiscências históricas e lendárias.

Se em noites enluaradas um padre sem cabeça vagava pela praia, castigo de uma paixão proibida, e o rei e a rainha, as pedras encantadas, assombravam pescadores, ainda era possível ouvir a tropelia dos cabanos na guerra de 1836, testemunhada pelo canhão descoberto sob as areias, pelo vaivém das marés, às proximidades do trapiche, e que hoje, apontando silencioso para a baía, parece defender a ilha do ataque de invisíveis navios legalistas.

Como esquecer que os primeiros banhistas ali buscavam o seu lazer de fim- de-semana e que Alcindo Cacela mandara construir, em 1936, para proteger os barrancos, um forte quebra-mar, ladeiras e bonitas escadarias ladeadas de jambeiros e encimadas por um florido caramanchão, janela aberta para o rio-mar? Ou a imponente vivenda Canto do Sabiá, cuja arquitetura alemã parecia denunciar misteriosos túneis submersos ou contatos radiofônicos com submarinos e navios inimigos, na guerra de 45?

A praia tem histórias e estórias. Quem se lembra da imagem de São Pedro no pedestal erigido, em 1962, na ilhota do mesmo nome, pelo Sr. Waldemar Almeida, a qual foi destruída pelas marés? Ou do trampolim em armação de ferro, na década de 30? Ou da construção da Quadra Dr. Irawaldir Rocha, nos anos 60, pelo Bom Jardim, o primeiro time de vôlei da ilha, no qual pontificaram as figuras de Wolckmer e Beto Tabosa, Cheiro, Espanha, Raimundo Paixão, Pedrinho e José Ângelo?

Nessa mesma quadra, os professores Firmino Melo, Carmen Dolores de Freitas Jorge e eu realizamos, em 1972, o primeiro torneio de futsal na ilha, cujo campeão foi o time da Ponte Preta. Outros times ali fizeram jogos memoráveis: o CLUJOSA do Colégio Nossa Senhora do Ó; o ÁGUA VERDE, do Fausto Ribeiro; o SAC, do Caíta; o TIME NEGRA da família Pombo; o JUVENTUS, do Carlos Mathias; o CHAPÉU VIRADO, do Toninho Russo e o BR-3, do João Maracujá, além do 5 ESTRELINHAS e do 5 ESTRELAS R.C., do eterno presidente Tertuliano, clube que se destacou como campeão paraense da primeira divisão. E, ainda na década de 70, nesse mesmo local, nascia o futebol feminino com a participação de várias equipes. Foi uma época de grande movimentação, em que os peladeiros se revezavam em disputas nessa quadra, nas horas de banho, e a moçada, nos fins-de-semana, curtia a MPB no Empata’s Phodas Bar, a seresta do Pamplona no saudoso Tabosão ou os petiscos do Ki-Caranguejo. Festas e torneios atraiam um grande e animado público para a praia do Bispo. Muita coisa mudou com o passar dos anos, mas o barranco, avançando para o rio, com sua exuberante vegetação e rochas negras carcomidas pelas águas, continua sendo um belíssimo cartão-postal, capaz de despertar os instintos e fazer nascerem muitas paixões.

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Praia do Bispo, recanto de histórias e estórias (FOTO: Wanzeller, 2011).

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Quadra de Esportes Dr. Irawaldir Rocha, no Bispo (FOTO: Wanzeller, 2011)

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A ilhota de São Pedro, no Bispo (FOTO: Wanzeller, 2011)

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Orla do Bispo com o Trapiche da Vila ao fundo (FOTO: Wanzeller, 2011).

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A IMAGEM E O TEMPO: O TRAPICHE DA VILA (2)

 

Construído pelos ingleses no início do século XX, o TRAPICHE DA VILA DO MOSQUEIRO foi inaugurado no dia 06 de setembro de 1908 e, sem dúvida, é um marco importantíssimo na história da ilha, pois, durante décadas, foi o único portal para o turismo nas praias mosqueirenses. Reformado pela Prefeitura Municipal de Belém, continua firme em sua vida centenária.

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O TRAPICHE DA VILA NA DÉCADA DE 1970 (Foto cedida pela Srª Irene)

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O TRAPICHE DA VILA EM AGOSTO DE 2011 (FOTO: WANZELLER)

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O TRAPICHE DA VILA em agosto de 2011 (FOTO: WANZELLER)

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O TRAPICHE DA VILA na década de 1940 (Foto cedida p/Família Mathias)

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O TRAPICHE DA VILA em agosto de 2011 (FOTO: WANZELLER)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

JANELAS DO TEMPO: QUEM SE LEMBRA DO BICHO DE SETE CABEÇAS QUE FICAVA NA PRACINHA DE BAÍA DO SOL?

 

Autor: Hernandes Havishe

Na pracinha do bairro do Bacuri, em Baía do Sol, havia uma escultura feita pelo artista RAIMUNDO MONTEIRO, de uma raiz de bacurizeiro. O Sr. Raimundo Monteiro era funcionário da Prefeitura de Belém e trabalhava na Escola Lauro Chaves. Em frente a essa Escola fica a praça. O Senhor Raimundo Monteiro, talentoso que era, fazia também escultura em cimento. Me lembro que havia uns sapos com olho de bola de gude (peteca para os paraenses) e também um boneco colorido feito de cimento com o apelido de "Teu Pai". Naquela época a praça tinha outra cara, pois dado o carinho que o Senhor Raimundo dedicava à jardinagem e ao paisagismo, como se dizia na linguagem da época, a praça do Bacuri era um "brinco". Dava gosto de se ver. Não raro, depois de uma noite à mercê dos vândalos de plantão, aparecia na manhã seguinte, o boné do boneco quebrado, às vezes o braço, um pedaço do pé tirado e os olhos dos sapos quebrados. Ah, havia também cogumelos, garças, uns sapos menores e muitos outros enfeites ao redor das vielas da praça, feitas com pedra brilhosa da praia.

Do bicho de sete cabeças me lembro bem, todos que visitavam a pequena praça queriam tirar foto perto ou montado nele. Para proteger o bicho foi montada uma maloca, uma palhoça sobre a escultura, cercaram com arame farpado. Mas, com o tempo foi tudo depredado. Hoje a praça do Bacuri sofre com a erosão marítima e a cada dia perde seu território. Sem um muro de arrimo, só tem um coreto e uma luminária. Nas férias ainda continua sendo um dos points dos veranistas.

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Raimundo Neves Monteiro e seu dragão (FONTE: A. M. Filho, 1978)

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MANOEL “SINUCA” E O BICHO DE SETE CABEÇAS (Foto by Demetrio

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Praça de Baía do Sol – by Masharupaiva

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FONTE: http://baiadosolsempre.blogspot.com/2011/04/quem-se-lembra-do-bicho-de-sete-cabecas.html

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