sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: A POLÍTICA E A BELÉM-MOSQUEIRO NOS ANOS DE 1960

Autor: Augusto Meira Filho

Em outubro de 1960, foi eleito Governador o Dr. Aurélio do Carmo, tomando posse a 31 de janeiro de 1961. Mais tarde, substituindo o Dr. Lopo de Castro, assumiria a Prefeitura Municipal de Belém o Coronel Moura Carvalho, empossado a 13 de novembro desse ano.

Nesse fim de exercício de seu mandato, o Prefeito Lopo de Castro praticamente deixaria aberta a parte da estrada confiada, no Mosqueiro, ao Engº. Efraim Bentes. Sem grande acabamento e por concluir seus 800 metros finais à margem do Furo das Marinhas, contudo, a obra permitia livre tráfego, sobre leito de areia e obras d’arte em madeira.

O destino reservaria a esse Alcaide a felicidade de ter iniciado a rodovia pelo continente, quando de sua primeira gestão à frente da cidade e, agora, como prefeito eleito, a oportunidade, igualmente feliz, de abrir a estrada na Ilha do Mosqueiro. Só muito mais tarde, como iremos ver, essas estradas seriam empiçarradas, alargadas, pavimentadas em condições satisfatórias para o fim a que se destinavam. Mas é inegável que coube a Lopo de Castro as duas principais arrancadas para a consecução dessa obra, efetivamente iniciada pelo Sr. Eurico Romariz, em 1951, sob a proteção política e administrativa do General Zacarias de Assunção, então Governador do Estado.

Nesse ano de 1961, finalmente, ao término do mandato do Prefeito Lopo de Castro, Estado e Cidade ficaram sob o comando de uma só fé partidária: tanto o Governo como a Comuna estavam em mãos pessedistas. À atmosfera, no sentido da nossa rodovia, certamente, todas as coisas iriam para a frente, sobretudo pela amizade que nos unia a esses administradores. A estrada, propriamente dita, avançara bastante. As demarches para os ferry-boats, igualmente, não representavam mais problemas.

Aos poucos conseguiríamos manter turmas de conservação na PA-17 e, depois, até um início de pavimentação em termos de pintura para a conservação do leito da estrada, anualmente sacrificado com as águas do inverno.

Diferente do que julgáramos, esse período manifestou-se mais interessado pelos problemas internos da Ilha. Pela rodovia, mesmo, nada passou daquelas obras de preservação da pista. Uma grande parte da PA-17, após a Serraria Santa Rosa, havia sido destruída pelas correntes de chuvas incessantes que, naquele lugar, parecem regulares, diariamente.

Visitas periódicas, sempre acompanhando amigos e “descrentes”, faríamos vistoriando todo o percurso da estrada, desde Benevides até a casa do Aníbal, no Tauarié. O interesse pela obra crescia independentemente da posição desapontadora do poder público, o maior responsável pelos serviços. Nunca as administrações pessedistas deixariam de olhar aquele empreendimento como fruto da “coligação”, desde a decisão do Governador Assunção em começá-lo em seu governo, com Lopo de Castro na chefia da Prefeitura. Sabia-se que aquela construção se implicava nas malhas da política regional e o regime baratista, do qual fazíamos parte honrosamente, via na “Belém-Mosqueiro” a sombra de gestões adversárias que não deviam ser prestigiadas. Coisa da política provinciana que tantos males causou a este país, do Roraima ao Chuí.

Nessa época, a Nação vivia tumultuada sob o governo federal de João Goulart. Problemas do País se vinculavam aos dos Estados, refletidos nos municípios, contribuindo, dessa forma, para um desajustamento de programas e de ideias. Sentia-se, nos primórdios da década de 60, o começo de um estado de coisas na vida nacional que iria culminar com um movimento armado. No Pará, governava, pacificamente, contentando a gregos e troianos, a figura simpática do Governador Aurélio da Carmo. Jovem, trabalhador, operoso e diligente, comandava o barco estadual com habilidade, merecendo o apreço de seus concidadãos. Na Comuna, o Coronel Moura Carvalho desenvolvia largo programa de obras, e a ele se deveriam as primeiras tentativas para a pavimentação de Belém, em “sand-asphalt”, utilizando como sub-base a existente em paralelepípedos. Quanto à estrada Belém-Mosqueiro, as providências se definiam na conservação das pistas e em pequena atividade de manutenção da obra, garantindo-a antes do inverno. Praticamente, ambas se mantinham em condições de uma grande penetração. Contudo, oitocentos metros antes da beira do Furo das Marinhas, permaneciam intactos os terrenos encharcados, impedindo o acesso de veículos até o litoral. Essa faixa ou faixas, se consideradas dos dois lados, foram o desafio desses dois governos. Era preciso um trabalho caro e corajoso para a complementação da estrada nesses pontos terminais.

E nessas condições, chegamos a 1964. A revolução de 31 de março marcaria a vitória final na conclusão da PA-17, no continente e na BL-19 na Ilha do Mosqueiro.

Motivos de ordem político-revolucionária afastam Aurélio do Carmo do Governo do Estado e, para seu substituto, a Assembleia Legislativa escolhe legalmente o Coronel Jarbas Gonçalves Passarinho. Este, por sua vez, nomeia Prefeito de Belém ao Major Alacid da Silva Nunes, que seria a sucessor de Moura Carvalho, naquelas funções.

A sorte da Rodovia estava firmada.

Para a Direção Geral do DER-PA é nomeado o Engº. Fernando José de Leão Guilhon. Em junho de 1964 a sua posse nessas elevadas funções e, desde logo, recordaríamos ao colega e amigo suas expressões, em 1950, sobre a obra rodoviária para o Mosqueiro que ele tão bem conhecia.

No primeiro instante, respondeu-nos Guilhon:

-- Estou arrumando a casa. Os problemas são enormes e já os recebi. Há um mundo de coisas a fazer e prosseguir da administração anterior. Quando tomar pé falaremos do assunto.

Realmente, nesse primeiro ano de administração revolucionária, o colega se dedicaria, integralmente, aos problemas mais urgentes e importantes de seu Departamento. Contudo, relembraríamos, sempre, seu compromisso e a resposta vinha, segura, convincente, amiga e sincera:

-- O ano de 1965 vai ser o ano da PA-17.

Em vista dessa afirmativa, perguntamos ao nobre diretor se podíamos fixar essa promessa, em nossos comentários n’ ”A Província do Pará’. Concordando, desde janeiro de 1965, concluíamos nossos artigos assinalando:

“Ano da PA-17”, após a data.

Realmente, na administração Guilhon – governo Jarbas Passarinho – a nossa estrada tomaria novas características técnicas de aperfeiçoamento.

A primeira providência da diretoria – que possuía carta branca do Governador – foi a de determinar o levantamento de toda a obra com apresentação de relatório circunstanciado e parecer sobre as suas condições. Esse encargo Guilhon o entregou ao colega Ramiro Nobre da Silva, engenheiro do DER, e dos mais credenciados. O trabalho foi executado com todo o esmero e entregue ao chefe, com as suas conclusões, totalmente favoráveis à rodovia, achando, mesmo, que bem pouco faltava para se considerar a obra como resolvida.

Chamou-nos em seu gabinete, especialmente, para ler o resultado daquela inspeção, confirmando, peremptoriamente, que o ano de 65 seria da PA-17. Isso nos deu uma alegria enorme. Em poucos dias, seria designado para chefiar o serviço o engenheiro Oswaldo Aliverti. Lá estivemos em sua companhia, dando as ordens para o aceleramento do trabalho. Houve verdadeira revolução na obra e Aliverti tanto se apaixonou pelo serviço que, em pouco tempo, já esquecera Salinas, de onde era velho freqüentador.”

(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 219, 220, 221 e 222)

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