terça-feira, 5 de abril de 2011

JANELAS DO TEMPO: DONA ANTONICA

Autor: Augusto Meira Filho

“Trata-se, na realidade de Dona Antonia Paes da Silva, filha de Leocádio José da Silva e Maria do Carmo Silva. Seus pais nasceram no lugar de “Santana”, situado na Baía do Sol, depois denominado de “Fazenda”. No período do Império, Leocádio requereu aquela sorte de terras, região cujo nome era, então, “Paraguai”, mais tarde batizado de Conceição. O velho Leocádio era profundamente religioso e devoto da Virgem da Conceição, razão do nome da sua nova propriedade. Naquele lugar, viveu com a sua família, constituída de sete filhos: Leocádio da Silva Junior, Izabel da Silva, Florêncio José da Silva, Mariana Augusta da Silva (Perdigão), Rita do Espírito Santo da Silva (Álvares), Antonia Paes da Silva e Gabriel Arcanjo da Silva. O sítio era agrícola, em frente à praia que tomou seu nome, fronteiriço à ilha das Pombas.”

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SÍTIO CONCEIÇÃO (FONTE: MEIRA FILHO, 1978).

Dona Antonica... nasceu a 10 de janeiro de 1885 – durante uma Festa da Conceição, tendo tomado o nome de Paes de seu padrinho Antonio Paes.

Durante toda a sua vida, o velho Leocádio foi laurista e assim criou seus filhos contrários à política lemista. Em seu tempo, ninguém chefiava a vida partidária na Baía do Sol, sem sua aprovação. Era o legítimo representante do Sr. Lauro Sodré, naquela metade da Ilha do Mosqueiro.

Vindo para Belém, Dona Antonica diplomou-se pela Escola Normal, em 1903. Precisava trabalhar e desejava uma colocação no ensino da capital. Seu pai não permitia que se solicitasse qualquer favor ao velho Antônio Lemos, Chefe Político de maior influência, em seu tempo. Governava, Augusto Montenegro.

Com o falecimento de seu pai, arvorou-se Antonica a pleitear um lugar de professora, nos estabelecimentos oficiais do Estado. Resolveu, então, procurar o senador Lemos, mantendo, com o eminente Intendente de Belém, o seguinte diálogo, que é desconhecido de nossa História:

O Senador: “Por que a senhora professora não me procurou há mais tempo, já que formou-se em 1903?” (Estávamos em 1908).

A Mestra: “Porque, Senador, meu pai era laurista apaixonado e não permitia e nem admitia que uma filha sua pedisse favores ao Sr. Senador Lemos. Fomos proibidas por ele de assim proceder, fosse o que fosse..”

O Senador: “O Lauro é mais feliz do que eu com os seus amigos porque são leais! São sinceros...”

Em seguida, Lemos chamou seu secretário e mandou nomeá-la professora estadual na Vila do Mosqueiro. Lecionou no Grupo Escolar do Mosqueiro, depois denominado de “Monsenhor Mâncio Ribeiro”, que foi Vigário da Sé e era militante político simpatizante da ala laurista.

A querida professora Antonica contou-nos diversos episódios curiosos que se passaram na Casa Grande da Conceição, na Ilha do Mosqueiro.

Um dia, em plena efervescência partidária, à época do carnaval, um lemista entrou, sorrateiramente, na casa do velho Leocádio e, sem ser notado, jogou confete nas panelas da cozinha, inutilizando o almoço, escafedendo-se pela praia. A luta política era assim. Um grupo não perdoava o outro.”

“Na área da política regional, D. Antonica também nos revelou que a sua família sempre foi antibaratista. Intrigas e mais intrigas haviam-na inimizado com o Interventor Barata, sem que houvesse nenhum motivo de sua parte

Em razão desses fatos, Barata mandou fechar o “Externato São Geraldo” e demitiu-a de suas funções no ensino da capital. Tudo fruto da inveja e de fuxicos que levavam aos ouvidos do governante que, até certo ponto, ela estimava e reconhecia como um notável administrador. E para confirmar essa admiração, mesmo a despeito do que sofrera em suas diversas gestões, confidenciou-nos:

-- “Fui a Palácio quando ele morreu. E rezei, com minhas amigas, um terço ao lado do seu caixão, colocado no Palácio do Governo.”

E acrescentou:

-- “Fui ao velório somente para esse fim. Perdoei todo mal que me fez...”

Recordando a juventude ou a infância na Conceição, Dona Antonica nos revelou que, em criança, viu ali um oficial de Marinha que hospedou-se na sua Casa Grande da Conceição, doente, quase inválido e que só caminhava com muletas. Após alguns dias de repouso e de banhos na maré, voltou curado para Belém, deixando suas muletas na Capelinha, como lembrança do milagre que conquistara nas águas e na praia da Ilha do Mosqueiro. Isso vem corroborar a nossa tese de que a Ilha do Mosqueiro possui algo de extraordinário para a saúde da população belenense.”

“Igualmente, a estimada professora recorda as suas Pastorinhas no Natal, os banhos de cheiro no São João e as festas memoráveis em louvor da “Conceição”, anualmente celebradas por seu pai.

E nesse tempo, esclarecia-nos D. Antonica:

-- “Vínhamos de barco, de canoa, partindo do igarapé das Almas, em Belém. Do Reduto, saíamos sempre com a vazante logo alcançando o Mosqueiro e a Conceição. Viajávamos todos juntos, e era uma festa na canoa cheia de gente desejosa de ver logo a “Ilha das Pombas” que fronteava nossa Vivenda. A Conceição estava próxima. A alegria tomava conta de todos.”

(MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, ED. GRAFISA, 1978, PP. 388, 392, 393 e 394).

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SÍTIO CONCEIÇÃO (FONTE: GOOGLE EARTH)

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A ILHA DAS POMBAS EM FRENTE À CONCEIÇÃO FOTO (Wanzeller 2010).

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(FONTE: GOOGLE EARTH

Sitio Conceicao

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