segunda-feira, 4 de abril de 2011

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: O CASAL MATINTA PERERA

 

Texto construído a partir de narrativas dos moradores da Comunidade de Caruaru e transcrito pela Profª. Leila do Socorro A. Cunha.

No Sítio Esperança morava um casal. A mulher era doméstica e o homem era sapateiro. O homem trabalhava o dia todo e chegava cansado em sua casa. Sua esposa dizia:

-- Querido, venha jantar, pois precisa dormir cedo que estás cansado.

Ele obedecia e depois iam deitar junto, mas ela deixava ele dormir e saía para virar Matinta Perera. Numa bela noite ele desconfiou dela e fingiu que estava dormindo e ficou observando a mulher.

Ela levantou e foi até o quintal atrás de uma árvore onde havia uma bacia cheia de bruxaria. Enquanto isso, seu marido estava observando. Ela tirou a roupa e passou o banho e virou uma Matinta Perera.

Ela falou:

-- Por cima de tudo quanto é pau!

E saiu voando.

Seu marido fez o mesmo e disse:

-- Por baixo de tudo quanto é pau!

E saiu se batendo todo.

Ele chegou numa festa onde só tinha Matinta Perera e a música da festa era só “fit, fit, Matinta Perera!”

Uma certa hora acabou o vinho, alguém teria que ir roubar no armazém. Justamente eles dois foram o casal escolhido e saíram no rumo do boteco mais perto.

Só que quem vira Matinta Perera não pode chamar o nome de Deus. O casal entrou no boteco e encheu os garrafões de vinho, mas a tampa do barril arrancou e começou a derramar. Seu marido “desaparecido” disse:

-- E agora, meu Deus?

Ela disse:

-- Chamaste ariú, ficaste nu.

Ela pegou o garrafão de vinho e voou até a festa, mas ele ficou nu dentro do boteco sem poder sair.

Quando amanheceu, o dono do boteco abriu as portas e viu aquele homem nu sair correndo. Ele correu atrás gritando:

-- Pega ladrão, pega ladrão!

O homem pediu:

-- Pelo amor de Deus, pára, pára!

Então o homem parou para escutar o que estava acontecendo. Ele contou sua estória e quando acabou de contar, o dono do boteco deu roupa e comida e o Matintão não sabia voltar para sua casa, pois ele tinha atravessado sete cidades.

Moral da estória:

A gente nunca deve seguir os passos das outras pessoas, mesmo porque podemos cair no desespero.”

FONTE: (Lima Gama, Rosangela C. e Santos Andrade, Simei. “Mosqueiro Conta em Prosa e Verso o Imaginário Amazônico”. PMB, 2004, pp. 97 e 98)

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