domingo, 26 de setembro de 2010

JANELAS DO TEMPO MOLECAGENS DO PASSADO

 

( Trechos extraídos do livro “Mosqueiro Ilhas e Vilas”)

“O velho Farah (Sr. Raymundo Farah) foi casado com D. Maria de Lourdes Cavalcante Farah de família tradicional e ilustre do Pará. Seus dois gêmeos, Joseph Farah e Alexandre Farah Neto, marcaram época nas décadas de quarenta e cinqüenta, no Mosqueiro, mais exatamente no Farol e no Chapéu-Virado. Conhecidos como “os Farahzinhos”, pintaram o sete desde meninos até quando rapazolas culminaram com uma série de molecagens e brincadeiras, quase sempre sem malícia, sem maldade, sem terceiras intenções.” “Fizeram o diabo em vinte anos de permanente freqüência ao Mosqueiro, sobretudo, à época saudosa do navio “Almirante Alexandrino”. Sediados no casarão dos pais, local centralíssimo para suas operações, puseram em prática dezenas de “casos” que todo mundo conhecia e os atribuía, sem que o pai aceitasse as suas reclamações. Interpelado, Raymundo, com seu jeitão meio árabe-brasileiro, respondia:

-- Qual nada! As minhas meninas são inocentes. Isso é política de oposiçon. Querem atingir Barata mas não podem...”

“Os dois comandaram um grupo grande de moleques da mesma têmpera e geração para uma operação delicada e perigosa. A gurizada propôs-se a organizar uma “procissão”, na sexta-feira santa de 1957, à sua maneira e ao gosto de todos os seus participantes. Mais de sessenta meninos formaram a equipe encarregada dessa empresa, no Chapéu-Virado. Na data aprazada, um deles subiu à pequena cobertura da Capela, alcançando o Campanário. Um fio escuro foi preso ao badalo do sino e conduzido para o prédio em frente, antiga propriedade de Cipriano Santos, sobre o qual já nos referimos, local onde está o Edifício Lílian-Lúcia. Tudo feito na surdina ao cair da noite. Mediante combinação prévia, cada garoto levaria um facho de roupa velha, um lençol e uma vara curta, destinados à roupagem da romaria... Antes, os dois Farahzinhos, com alguns companheiros, prepararam tocos de vela de estearina e os aplicaram fortemente no casco de inúmeros caranguejos vivos que haviam adquirido para esse fim. Lá pelas dez horas com o silêncio da noite de sexta-feira santa, alguns veranistas, ainda à entrada do hotel, palestravam tranquilamente. Hóspedes e pessoas despreocupadas tiravam uma prosa na calma doce da noite mosqueirense.

Pois, em pouco tempo, arrumam-se em canoa vizinha, outros a pé, caminhando pela praia como quem subia a conhecida rampa da praça. Todos encapuçados de branco, de cima a baixo, com os fachos acesos, iluminando em penumbra as areias claras da ribeira. Enquanto isso ocorria, um deles acionava o sino, enquanto outro grupo soltava no chão claro próximo às ondas do rio, aquela série imensa de “velas que andavam” amedrontando a quantos tiveram a oportunidade de assistir a esse espetáculo. Batia o vento, os fachos cresciam para o topo da rua, levados pelos vultos brancos, enquanto repicava febrilmente a sineta da tradicional capela. Em uma só mise-em-scéne, conseguiam os meninos aquela visão triste e ameaçadora, subindo, subindo sempre, ao som característico do chamamento ao templo, enquanto luzes corriam pela praia sem sentido, como visagens esparsas que saíssem das águas correntes da baía.

Uma loucura! Uma loucura dominou a todo mundo que abria janelas e apreciava aquilo que poderia ser um “mau agouro” ou sabe lá o quê...

Na noite negra do dia santificado, pelas onze, D. Carolina do Hotel manda que o empregado luso, Antônio, fosse à capelinha ver do que se tratava. Este sobe, no escuro, pelas laterais do prédio e nada encontrando despenca-se lá de cima assombrado, gritando, para todos ouvirem:

-- Não há nada lá em cima... É visagem, é visagem! O sino está a bater só!

O Russo lembrou-se dos lençóis do hotel, mandando vê-los nos quartos. E enquanto a confusão crescia, a festa dos Farahzinhos chegava ao auge! Dona Carolina gritava, com as mãos à cabeça:

-- Isso é coisa do “Uraujo” não pode ser de outra gente! O “Uraujo”!

Queria referir-se ao João Batista Klautau de Araujo, também terrível, e que nesse tempo fizera boas no Mosqueiro. Assim levava a sua culpa quem lá não estava.

Mais tarde, em verdadeira apoteose, a procissão se dissolveria na descida da praia da mesma maneira como começara. A notícia correu mundo. Chegou aos jornais de Belém. Criou-se polêmica a respeito, pelo desrespeito à data e às famílias católicas residentes na Vila e nos balneários. O Vigário da Igreja de Nossa Senhora do Ó tomou partido a favor da integridade da Procissão do Senhor Morto e no sermão culpou meio mundo pela irreverência daquele fato verificado na Capela do Chapéu-Virado. Em Belém, o órgão católico “A Palavra” exprobrava o gesto daquela meninada, sem qualquer decência para com os atos religiosos da Semana Santa. “As Folhas” de João Maranhão tomaram o partido dos jovens, alegando que a brincadeira não tinha maltratado a ninguém e nem dado prejuízo aos veranistas e o seu sentido era compreensível naquela mocidade que aproveitava aqueles dias para respirar melhor nas praias do Mosqueiro.

Vendo seu nome nesse tumulto sem nada ter participado, o João Batista Klautau de Araujo, bastante aborrecido, pois era cumpridor de seus deveres para com a Igreja, exigiu que os dois Farahzinhos fossem em sua companhia pedir desculpas ao Sr. Arcebispo. O caso precisava do perdão de D. Mário de Miranda Villas-Boas, então, prelado do Grão-Pará. A coisa fora demais. Passara dos limites da própria molecagem do grupo, do qual Batista também fazia parte.

Os dois Farahzinhos logo aceitaram a proposta do companheiro. Pediram audiência ao eminente sacerdote, comparecendo à presença de D. Mário.

Na ocasião desse encontro, João Batista ficou extremamente emocionado, sem poder balbuciar uma só palavra. Nessa situação aflitiva, levantou-se o Joseph Farah, dirigindo-se à figura simpática e acessível do querido Arcebispo:

-- Sabe – D. Mário – (tocando com a mão suavemente sobre o seu belo crucifixo) aquilo foi uma parada gostosa. Nada fizemos que nos condene. Houve até quem achasse que estávamos reproduzindo a “festa do Divino” que se faz em Espírito Santo e Goiás. Uma brincadeira nos dias de folga, quando nossos pais se recolhem e nós aproveitamos para essas farras... sem maldade. Creia, eminência, foi só isso...

Ouvindo displicentemente essa narração espontânea do jovem que acompanhava o colega desejoso de um perdão, D. Mário sorriu, carinhosamente, abraçando-os com absoluta cordialidade, gesto generoso que valeria pela clemência desejada.

Contudo, o Vigário de Mosqueiro, no domingo seguinte, fez realizar uma procissão de desagravo à família católica mosqueirense que exigia essa reparação.

Chegou aos ouvidos do padre que um tal “Batista” havia sido o mentor daquele ultraje no Chapéu-Virado em plenas celebrações da semana santa. Alguém disse-lhe que esse moço estava amesendado no Praia-Bar, próximo à igreja, bebendo com amigos. O padre não teve dúvidas: escolheu um grupo forte de fiéis devotos da Sra. Do Ó e determinou fossem buscar o culpado, pois iria pagar seus pecados levando uma pesada cruz na romaria, da Vila ao Chapéu-Virado. Realmente o fato ocorreu. Batista foi encontrado e, a contragosto, cumpriu a determinação do vigário, mais tarde, mostrando aos Farahzinhos os ombros feridos:

-- Está aqui o que vocês me arranjaram. E ainda por cima, estou por fora do assunto. Isso foi uma violência da qual não me foi possível escapar. E agora?

A verdade – entre risos e lamentações – apurou-se no grupo de que o Batista apanhado para aquele sacrifício era o jovem José da Cunha Gonçalves, que nada tinha a ver com o problema, apenas conhecido por Batista porque seus pais possuíam em Belém a famosa “Casa Batista”, local de bilhares e restaurante, à Av. Portugal, à esquina da Rua 13 de maio... Todos os colegas chamavam-no de Batista e na hora de se encontrar outro cidadão com esse nome (certamente o João Batista Klautau de Araujo, também fora do caso), o pobre Cunha Gonçalves teve que pagar pelos pecados dos outros. Tudo isso foi verídico e nos foi relatado pelo próprio Joseph Farah sem deixar de sorrir, cada vez, que pintava o ódio do Batista, carregando a cruz pesada da Vila ao Chapéu-Virado.”

(Meira Filho, Augusto – “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa Ed., 1978, págs. 364, 367, 368, 369, 370).

TRÊS MOMENTOS DOS FARAHZINHOS:

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FONTE: “DIÀRIO DO PARÀ”, 1978.

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FONTE: “DIÁRIO DO PARÁ”, 1978.

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FONTE: “DIÁRIO DO PARÁ”, 1978.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

JANELAS DO TEMPO: O JARDIM DA DISCÓRDIA

 

Era o ano de 1945. A Segunda Grande Guerra acabara e, no Brasil, o Estado Novo sucumbia consciente, com a ditadura de Vargas chegando ao fim. A ilha do Mosqueiro parecia adormecida em sua rotina de intenso bucolismo. Se o conflito mundial bem pouco abalara a calma do povo, o que dizer do início do pós-guerra noticiado pelos raros receptores de rádio ou pelas “folhas” que chegavam no Almirante Alexandrino, novidade que corria de boca a boca, trazendo um certo alívio para a população da Vila. A movimentação de guerra ficara por conta da presença dos soldados da Bateria Antiaérea aquartelados no atual Colégio das Irmãs e nos prédios municipais às proximidades, mas foi a escassez de alguns gêneros alimentícios que mexeu com os moradores do local. Na falta do açúcar, adoçava-se o café com o mel de cana comprado em pequenos e bojudos potes de barro. Para conseguir um quilo de carne de boi, era preciso correr o risco de tropeçar em cães e visagens nas noites escuras da Vila e madrugar em frente ao Mercado Municipal. O interessante é que os menos pacientes marcavam seus lugares na fila com paus e pedras e todos aceitavam: “De quem é essa pedra aí?” “É do Seu João!” “E aquele pau?” “Da Dona Maria!” “Não vá me dizer que aquele galho de mangueira é da Dona Raimunda?!” “Não é que é, seu menino!”. Ainda bem que não havia senhas nem venda de senhas naquela época e a vida seguia cordial e tranquila, parecendo que nada abalaria a paz habitual da ilha-paraiso. Foi aí que tudo aconteceu.

Em nossa paróquia havia dois padres. Se eram irmãos, não sei dizer. Parece que não, pois um era claro e o outro, moreno. O que sei é que eram alemães e tinham o mesmo sobrenome: FRANK. Padre Carlos, o mais acomodado, quase sempre de batina, ficava na igreja ”apascentando as ovelhas” dos arredores, enquanto Padre Eurico, em trajes comuns, metia-se na sua “voadeira” e, varando igarapés e furos de rio a rio, de baía a baía, buscava conquistar as almas simples das comunidades ribeirinhas mais distantes. Ambos desenvolviam um trabalho de catequese meritório e procuravam melhorar o templo dedicado a Nossa Senhora do Ó, antes uma humilde capela. Para angariar fundos, tinham criado o Teatro Paroquial e promoviam todos os anos a encenação do Drama da Paixão de Cristo, na Semana Santa, e as Pastorinhas durante as festas de São João. Também exibiam filmes com seu projetor doméstico. E o Salão, nos fundos da igreja, sempre ficava repleto de espectadores que aplaudiam entusiasmados.

Surgiu, então, a idéia de encenar uma peça inédita, escrita especialmente para aquele momento em que se buscava, no mundo todo, a restauração da PAZ entre os homens, após seis anos de sangrentas batalhas e milhões de mortes. Padre Carlos e a Professora Camila, prendada e incondicional auxiliar da paróquia, decidiram criar um cenário de conto de fadas, associando a beleza das flores à singela delicadeza de pequenos e inofensivos animais alados. Esse cenário de sonho encerraria a representação para sugerir a alegria da vida numa coexistência pacífica. Antes, apareceriam em cena bonecas de porcelana, bonitas e frágeis, para mostrar o desejo de paz das nações. Jovens adolescentes da comunidade viveriam no palco, além das bonecas, a borboleta, o vaga-lume, o besouro, o gafanhoto, cada qual devidamente caracterizado em seu engenhoso e bonito figurino. O padre e a professora não pouparam esforços na montagem da peça e nos ensaios do elenco, para que o público fosse realmente surpreendido pelo espetáculo. E que surpresa!

No dia da estréia, o Salão estava lotado. Os familiares dos jovens atores aguardavam ansiosos. Na frente, em cadeiras especiais, os convidados de honra: o Sub-Prefeito José Pedro e sua esposa Dona Amazonina.

Abrem-se as cortinas e começa o primeiro ato: Dona Benedita (Elza Fernandes Alvarez) e sua Trinca (meninos trajando vermelho e com rabinhos de diabos), todos pintados de carvão para simbolizar – acredito – os horrores da guerra. Foi um sucesso o desempenho dos atores. Vem o segundo ato e entra em cena, com aplausos efusivos do público, a boneca brasileira (Zilda dos Santos), que, sorridente, faz um elegante desfile. É... Mas o espetáculo real, senhores e senhoras, estava por vir! Adentra o palco toda feliz a boneca alemã (Raimunda Monteiro) e posta-se ao lado da boneca brasileira. Ouvem-se murmúrios estranhos da platéia e resmungos de desaprovação do Sub-Prefeito, que não gostou da ideia. Acendera-se o estopim. Na sequência, diante do olhar estupefato de todos, surge uma personagem oriental interpretada pela Maria José dos Anjos, portando desfraldada uma bandeira do Japão. Parecia que o próprio Imperador Hiroito estava devolvendo a Bomba de Hiroxima. Formou-se o quiproquó. O José Pedro, trabuco na mão apontando para o alto, gritava indignado: “Isso é uma afronta! Quem for brasileiro que me siga!”. E ordenava ao Comissário de Polícia: “Mendonça, prenda esses padres nazistas!”. E o Mendonça invadiu a coxia em busca dos padres. Foi um corre-corre geral. Até os “bichinhos alados”, que nos bastidores aguardavam sua vez, bateram em retirada. Minha irmã mais velha, Dolores Agrassar, era a borboleta que não decolou. Algemado, Padre Carlos seguiu para a Delegacia da Praça e Padre Eurico, que não estava lá, só foi preso depois que voltou de suas costumeiras viagens fluviais. Acusados de espionagem, foram conduzidos a Belém para interrogatório. A Casa Paroquial, na 2ª Rua, foi invadida em busca de provas não encontradas e de imaginários transmissores de rádio para contatos com submarinos inimigos que adentrassem a baía do Marajó. Ficava ao lado do FABRIL (hoje Minibox N. Srª de Nazaré), residência da Professora Camila, onde os padres alemães realizavam bailes carnavalescos infantis, nos quais as crianças trajavam fantasias de papel crepom confeccionadas pela mestra. Essas construções ficaram abandonadas durante anos.

Depois de algum tempo, constataram a inocência dos padres. Ah, ia esquecendo! O título da peça era “O Jardim Encantado”, mas o desencanto aconteceu e foi grande. Padre Carlos deixou a batina e mudou-se para o Rio de Janeiro com a bonita morena Celina, filha da Professora Camila. Padre Eurico ganhou novos rumos e o José Pedro se foi com a ditadura de Vargas para nunca mais voltar. Todos voaram para longe como os bichinhos alados do último ato.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

NA ROTA DO TURISMO: CARUARU E A FESTIVIDADE DE SANTA ROSA DE LIMA

É provável que a denominação Caruaru para o singelo povoado, no coração da ilha do Mosqueiro, se tenha originado das reminiscências da famosa cidade do interior nordestino, pois os primeiros a ocuparem aquele aprazível recanto, ainda no século XIX, teriam sido imigrantes pernambucanos. Algum tempo depois é que essas terras foram vendidas pela quantia de quinhentos contos de réis aos Fróes e Araújos, as tradicionais famílias do lugar, bases sócio-culturais e religiosas da atual população.

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Porto do Caruaru (Foto: Wanzeller, 2010).

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Trapiche-bar do Caruaru (Foto: Wanzeller, 2010).

Embora de sentido incerto, parece-nos que a palavra é importada, seja ela referência às pedras esverdeadas do habitat do lagarto jacuraru (iakuruarú) seja alusiva à “terra fértil” ou “terra da fartura”, conforme o dialeto dos índios cariris (caru + aru aru).

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Povoado em festa (Foto: Wanzeller, 2010)

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Povo aguarda a Imagem (Foto: Wanzeller, 2010).

Importada também é a devoção à Santa Rosa de Lima, a padroeira da capital do Peru, que atravessou a Amazônia nas asas da fé e aportou no coração dos caruaruenses nos idos de 1945, vinda com a lancha “voadeira” do Padre alemão Eurico Frank. Esse padre, vez ou outra, visitava as distantes comunidades do Furo da Laura, da ilha de São Pedro e dos rios mosqueirenses. E ele estava ali, trazendo a Palavra de Deus e a bonita história da Santa. Era 24 de agosto daquele ano longínquo, dia dedicado a ela, pois lembra o seu falecimento em 1617, aos 31 anos de idade consagrados a Deus e a uma vida de experiência mística profunda. Santa Rosa de Lima, considerada a Padroeira da América Latina, nasceu na capital peruana no dia 30 de abril de 1586, sendo batizada com o nome de Isabel Flores y Oliva, e a ela, ainda em vida, foram atribuidos vários milagres. Após a sua morte, outros eventos milagrosos se sucediam, levando o Papa Clemente IX a beatificá-la no ano de 1668. Ela, que se dedicara ao cultivo de rosas em sua juventude, foi canonizada pelo Papa Clemente X em 1671, tornando-se a Primeira Santa do continente sul-americano. A Igreja Católica dedica às festas litúrgicas de Santa Rosa de Lima as datas de 20 de agosto, 23 de agosto (Igreja Episcopal) e 30 de agosto (América Latina).

No transcorrer dos anos, muitas graças foram alcançadas pelo povo de Caruaru, particularmente pela família Fróes, fortalecendo sua e a devoção em Santa Rosa de Lima. No dia 30 de agosto de l961, atendendo a um pedido do Sr. João de Araújo (o famoso fotógrafo João Paçoca já falecido), o Padre Samuel Amorim Sá, acompanhado de muitos fiéis, chegava ao Caruaru, às 9h e 30min, para a sua primeira Visita Pastoral. Na casa da Srª Maria Camila Fróes de Araújo, pregava a Palavra de Deus e sugeria à comunidade a construção de uma capela para a Santa. A idéia foi aceita e, após o ato religioso, todos encontraram o lugar ideal, abençoado com grande emoção pelo padre ao recordar o significado daquela data. A pedra fundamental do pequeno templo fora lançada.

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Foto: Programa da Festividade 2009. Capela de Santa Rosa de Lima (Foto: 

                                                            Wanzeller, 2010)

Na paisagem amazônica do Caruaru mosqueirense, crescia, ano após ano, a devoção à Santa, porém, só depois de muito sacrifício, os moradores conseguiram construir a capela, com a valiosa colaboração do Sr. Waldemar Almeida e o trabalho árduo do Mestre-de-Obras José Morais da Silva (conhecido como Cachorro) e do Sr. José Bentes Bahia (o Broa, destaque no Teatro Paroquial durante anos como o Judas no Drama da Paixão de Cristo). Sabe-se que, na época, o povoado ficava praticamente isolado. Difícil era o transporte fluvial dos materiais para construção em alvenaria e até a areia seguia ensacada em batelões. Assim, o templo só vai ganhar as formas e dimensões atuais em 1988, graças ao denodo e persistência do Sr. Antenor Fróes e ao trabalho, nos fins-de-semana, do Sr. Raimundo Bahia, que também, na época, foi o construtor do Barracão de Festas.

Se a devoção começou em 45, a Festividade propriamente dita teve início em 1963, com a chegada do Quadro de Santa Rosa de Lima trazido de Roma pelo Padre Rui Guilherme Coutinho. É também dessa época o Hino de Exaltação à Santa, composição da Srª Osmarina Moraes de Araújo (Dona Zuzu):

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Quadro trazido de Roma (Foto: Programa da Festividade 1999). no Caruaru em 2010 (Foto: Wanzeller, 2010).

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Homenagem das crianças à Santa Rosa de Lima, no Caruaru em 2010 (Foto: Wanzeller, 2010).

 

HINO DE SANTA ROSA DE LIMA

“Santa Rosa, Santa Rosa,

Nossa Mãe medianeira,

Nossa Mãe amorosa

De teus filhos de Caruaru!

Santa Rosa, Mãe querida,

Que tu és a nossa vida,

Nós pedimos proteção

A teus filhos bem amados,

Que é este povo de Caruaru!”(Dona Zuzu)

No início da década de 80, o Sr. Raimundo Maués, em visita ao povoado de Caruaru, entrou em contato com a devoção do lugar. Sensibilizado e movido pela fé, como sua esposa estivesse acometida de grave doença, prometeu que, se ela fosse curada, doaria uma Imagem de Santa Rosa de Lima à comunidade, uma vez que só existia o Quadro como objeto de veneração. O milagre aconteceu e o Sr. Raimundo Maués cumpriu a promessa. Não havendo imagem da Santa no Brasil, teve de trazê-la diretamente do Peru. Em aqui chegando, conduziu-a para a residência da Srª Clarice Cabral, na confluência da Travessa Siqueira Mendes com a Rua Veiga Cabral, de onde, no dia 29 de agosto de 1982, saiu a romaria para o Porto do Pelé, no Tamanduaquara; iniciando-se, assim, a Primeira Procissão Fluvial de Santa Rosa de Lima, acontecimento que se repete há vinte e oito anos.

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Raimundo Maués (Foto: Wanzeller, 2010).

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Clarice Cabral (Foto: Wanzeller, 2010).

Nove anos depois, no dia 30 de agosto de 1991, nós estávamos lá com o objetivo de documentar o evento assim como o Antônio Rodrigues, companheiro da equipe Mosqueirando e o Fernando Augusto Peralta, o primeiro cinegrafista a registrar a procissão em VHS. Estavam também o Padre Altamirando Ribeiro dos Santos, pároco da ilha; o Sr. Raimundo Maués, o doador da Imagem; a Vírcia Alberto Pedrosa, na época presidente da AGRUFEM; o Rosimar Azevedo da Silva (Gigio), o mestre dos tapetes de serragem colorida; a Srª Clarice Cabral, a Srª Nazaré Pombo, Dona Zuzu e a Srª Aurora Ferreira, que torceu o tornozelo na chegada e foi carregada no colo pelo Thiago Bentes; e tantas outras pessoas que fazem a história da ilha. Naquele ano, o manto da Santa foi doado pelo Sr. Manoel de Medeiros Gomes e família e o sucesso da Festividade premiou o trabalho da Diretoria: José Carlos de Araújo Fróes (Presidente), Antenor Fróes (Vice-Presidente), Pedro Paulo (Secretário), Raimundo Jardim (Tesoureiro) e os auxiliares Paula de Araújo, Raimunda Moraes, Joaquim Fróes, Manoel Medeiros, Jacirene Gomes, Paulo Trindade, Francisco, Eurico e famílias locais. O andor da Santa, ornamentado com bonitas flores pelas mãos hábeis de Dílson Néry de Araújo, seguia no barco “Libriano” enfeitado com bandeirinhas coloridas e acompanhado pelo barco “Sumaré” e por várias embarcações de menor porte conduzindo os devotos. A procissão descia o Tamanduaquara e um trecho do Murubira; depois subia o Pratiquara e o rio Caruaru até o povoado. Por onde passava, a Santa era saudada pela população ribeirinha, principalmente na área do Sítio do Divino Espírito Santo com o foguetório promovido pela Dona Caíta, Seu Nenê e Dona Cândida.

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Homenagem lembra Seu Nenê e Dona Cândida (Foto: Wanzeller, 2010)

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Homenagem de Dona Caíta Foto: Wanzeller, 2010).                          

A PROCISSÃO DE SANTA ROSA DE LIMA EM 2010:

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Foto: Wanzeller, 2010.

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Foto: Wanzeller, 2010.                                              

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Foto: Wanzeller, 2010.

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Foto: Wanzeller, 2010. 

 

Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                                           

A PROCISSÃO REPRODUZ O TRAJETO DE 1982:

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                                            

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Foto: Wanzeller, 2010.                                             

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                                              

CHEGANDO AO POVOADO DE CARUARU:

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                                           

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                                            

Com o passar do tempo, além da programação religiosa – orientada atualmente pelo Padre José Maria Ribeiro -- a Festividade passou a englobar eventos sociais como levantamento e derrubada de Mastros, festas dançantes e jogos de futebol, bem ao gosto do povo da região.

A Festividade de Santa Rosa de Lima vem reunindo milhares de pessoas da região das ilhas e de várias localidades do continente ávidas por participarem do evento. É um acontecimento já tradicional, que conquistou o apoio da Marinha do Brasil, da Capitania dos Portos, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar do Estado, da Agência Distrital do Mosqueiro, dos barqueiros e de muitas pessoas que sabem valorizar a cultura local.

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                             

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                                          

E O POVO FESTEJA:

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.                                        

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Foto: Wanzeller, 2010. 

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Foto: Wanzeller, 2010.