terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O HOMEM, O MOMENTO E O RIO

Corre, momento,
Na correnteza do rio.
Corre, momento,
Que a vida é um fio.

Corre, momento,
Me chama, me alcança,
Me leva contigo,
Me faz renascer.

Corre, momento,
Me enlaça, me abraça,
Não deixes que eu deixe
De sobreviver.

Corre, momento,
Teu rumo é o meu.
Tua história é a minha.
Tua luta eu venço.
Tua força sou eu.

Teu destino é meu barco.
Teu guia, meu remo.
Teu presente eu faço,
Tua esperança é a linha,
Que lanço às águas,
Teu instante é um segundo.
Teu futuro, o espaço.

Cantando a Ilha

Hino de Exaltação ao Mosqueiro

Belo és sempre Mosqueiro
Terra de amor e de luz
Tens um sorriso faceiro
Que nos encanta e seduz

Quero agora cantar
O pendão verde e amarelo
Poie és Mosqueiro ser par (bis)
Glorioso e sutil
Orgulho do Brasil

Mosqueiro terra de sol
Mosqueiro terra de mar
Não posso deixar de te amar
As tuas praias sem fim pra mim

Teu clima que o vento ameniza
Produz uma brisa sem par
Mosqueiro o cém reflete tuas águas
De noite à luz do luar

(autoria desconhecida)

A ILHA: UM VOTO PELO PARAÍSO

Mosqueirando

Por: Claudionor Wanzeller

 

A ilha de Mosqueiro – ilha do Moqueio, processo de conservação do peixe usado pelos tupinambás – tem 220 km² de área e está localizada a 60 km em linha reta de Belém, na costa oriental do rio Pará (mar, abundancia d’água), braço sul do rio Amazonas, em frente a ilha do Marajó (oeste), tendo ao norte a ilha do sol (Colares) e ao sul a ilha de Caratateua (Outeiro).

Banhada de sul a norte pelas baías de Santo Antonio, do Marajó e do Sol, a ilha possui 18 km de praias de água doce com ondas, floresta tropical densa, mata de capoeira e manguezais, rios e igarapés piscosos, um saudável clima quente e úmido e uma beleza paisagística surpreendente que revelam grande potencial turístico a ser preservado e, economicamente, melhor explorado.

Na hidrografia mosqueirense, que, pela proximidade do Atlântico, segue o regime das marés, destacam-se os rios Pratiquara, Murubira, Mari-Mari, os quais deságuam na baía de Santo Antonio. São águas ainda impolutas, que servirão ao abastecimento da ilha no futuro bem próximo, quando a água do sub-solo acabar.

Entretanto, esse recurso hídrico se encontra ameaçado. Com a explosão demográfica das ultimas décadas – a população fixa já é estimada em 40 mil habitantes- a ocupação desordenada das terras da ilha tornou-se inevitável, ameaçando a mata ciliar e as nascentes. Por outro lado, o projeto da alça viária municipal ligando Mosqueiro à ilha de Caratateua- idéia concebida no século passado pelo arquiteto Sebastião R. de Oliveira – poderá causar um impacto ambiental desastroso com a favelização dos manguezais na foz dos principais rios e no Furo das Marinhas e, consequentemente, com poluição das águas ampliada pelo fluxo e refluxo das marés.

Se os representantes do povo na Câmara – infelizmente Mosqueiro continua sem nenhum – deixassem de lado, por um breve momento, os interesses partidários ou pessoais e legislassem em prol do bem comum, poderiam aprovar projetos de conservação ambiental para a ilha, criando áreas de preservação permanente com o necessário mecanismo para tal e delimitando os espaços a serem ocupados ou explorados de forma racional. Errare humanum est, mas permanecer no erro é burrice.

Janelas do Tempo: A Ilha dos Morobiras





                                                                      


JANELAS DO TEMPO: A ILHA DOA MOROBIRAS   

Nossa ilha apresenta resquícios do passado, da época em que pertencia aos morobiras, nossos ancestrais e berço de nossa cultura. Basta deixar fluir a imaginação, para sentir o espírito latente de nossos nativos em cada pedaço de chão e na beleza paisagística que nos envolve.
Esse espírito, entretanto, não está somente na terra e na paisagem. Está, sobretudo, em cada um de nós, adormecido muitas vezes pela insensibilidade e inconsciência, acabrunhado outras tantas por influências externas, que pretendem mudar a nossa identidade.
Por que esquecer as nossas origens? Por que não ouvir o clamor do espírito altivo e guerreiro que vem do passado?
Falamos tupi quando pronunciamos nomes de rios, igarapés, localidades, frutas, vegetais, animais, objetos, instrumentos. Reproduzimos a marca registrada de nossa ilha – o moqueio- com o “avoado” nosso de todos os tempos, aquele assado simples, de forma rústica, do peixe gostoso, à beira do rio e do igarapé, acompanhado quase sempre da folclórica cachaça.
Nas águas doces da ilha do moqueio, navegamos em montarias, embarcações primitivas, escavadas a fogo em troncos de árvores, ou viajamos na imaginação, conhecendo o reino encantado e misterioso da Iara, do Boto, da Cobra Grande, do Curupira, da Matinta Perera e de tantos outros seres sobrenaturais .
Se o açaí e a farinha de mandioca alimentam o nosso corpo, os chás de ervas e as pajelanças curam as doenças.
A dança de pássaros, na quadra junina, e o artesanato usando argila, tala de guarumã, miriti e outros materiais oriundos da mata revelam a singeleza de nossa alegria, a criatividade e a força de nossos costumes.
Tantas evidências da presença do espírito morobira em nosso meio mostram a necessidade de preservação da herança cultural que recebemos de nossos avós. Devemos conhecer e valorizar o que temos, resguardando os aspectos mais significativos de nossa ilha-paraíso, da vida e do espírito do povo mosqueirense.
Se formos frutos, seremos também árvore e como árvore, a exemplo do mangueiro vermelho, necessitamos do fortalecimento de nossas raízes, para garantir a sustentação de nossa existência.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A Ilha do Mosqueiro: Na Rota da História

NA ROTA DA HISTÓRIA: BAÍA-DO-SOL

A Baia-do-Sol é a povoação mais antiga da ilha do Mosqueiro, uma vez que ali chegaram os primeiros colonizadores portugueses vindos de São Luís do Maranhão. Banhada pela baia do mesmo nome, localiza-se ao norte, em frente a Colares, a antiga ilha do Sol, onde viviam aldeados os tupinambaranas. Habitada no longínquo passado pelos morobiras, também exímios pescadores da mesma nação, possui praias largas, favoráveis aos ventos e às correntezas das enchentes, as quais eram utilizadas pelos índios, no retorno da pescaria, como local apropriado ao processo de conservação do pescado, no preparo do moqueio, que consiste em assar o peixe no moquém (grelha de madeira fresca), ao calor brando da fogueira. Essa atividade indígena, também desenvolvida nas praias do sudoeste banhadas pela baia de Santo Antônio, fixou a denominação de ilha do Moqueio (atualmente Mosqueiro), substituindo o registro cartográfico de ilha de Santo Antônio existente em 1.666, no mapa de João Teixeira Albernaz.
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Baia-do-Sol: povoação mais antiga da ilha do Mosqueiro, localizada ao norte.
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Praia Grande: uma das praias do moqueio, técnica indígena de conservação do pescado
Nessa região denominada Província dos Tupinambás, viviam os índios há 12.000 anos, até que foram impiedosamente dizimados pelos conquistadores europeus como os capitães Jerônimo Fragoso e Bento Maciel Parente, embora a construção e o progresso de Belém, em mais de dois séculos, tenham dependido da imprescindível participação nativa, tanto nas edificações quanto no abastecimento da cidade com o comércio de suas colheitas, frutas, drogas-do-sertão, mandioca, farinhas, a caça e o peixe tão abundante nas águas do rio-mar.
O nome da povoação, hoje um bairro do Distrito do Mosqueiro, reafirma a denominação da baia formada pelo rio Pará, tão sugestiva a ponto de dizer-se que o Sol nasce e morre ali, na visão de quem observa à sua frente, sobre as águas, a trajetória eterna do astro-rei, desde o seu berço na ilha do Sol até seus derradeiros raios para as bandas do Paraíso. Fascinados, os índios cultuavam o deus Sol, presença constante a iluminar sua faina diária, proporcionando-lhes o peixe, a caça e os frutos da terra.
Primeiro aventureiro europeu a descortinar tão paradisíaco cenário, o espanhol Vicente Yánes Pinzón ali aportou em janeiro de 1.500 e, na praia, onde pôde deleitar-se com o clima tropical atenuado pelo vento norte, observou maravilhado a imensidão de águas doces e esbranquiçadas pelos sedimentos a que chamou “mar dulce’, em sua perene e titânica luta contra o avanço do oceano sobre as terras verdejantes. Estava ele na costa oriental do rio Pará, braço sul do Amazonas.
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Vista aberta para o “mar dulce” de Vicente Pinzón.
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Local onde se tem uma visão panorâmica da baia do Sol.
Outro explorador espanhol, Francisco de Orellana, de volta ao delta amazônico em 1.545, fundeara, com certeza, sua nau na baia do Sol, entre as ilhas de Colares e do Mosqueiro. É provável ter desembarcado na praia mosqueirense, já que existe relato de sua surpresa ao constatar a abundância de peixes e frutas.
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Local entre as ilhas de Colares e do Mosqueiro onde Francisco de Orellana fundeara sua nau.
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É provável que Francisco de Orellana tenha desembarcado às proximidades da Fazendinha

Até o fundador da cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, Francisco Caldeira Castelo Branco, ao deparar-se, em 1.616, com a orla praiana da enseada que se abre para a baia do Sol, pensara ali instalar o primeiro núcleo de colonização portuguesa, não o fazendo pela dificuldade de desembarque das naus causada pelas enormes maresias da tarde, tão comuns naquela costa da ilha.
As terras da Baia-do-Sol foram doadas como sesmarias ao Padre Antônio Nunes da Silva, em 6 de dezembro de 1.746. Seus herdeiros, utilizando a mão-de-obra de escravos africanos, libertados somente no dia 6 de abril de 1.888, construíram e fizeram florescer sítios agrícolas tão importantes que tornaram a família Silva a mais tradicional daquela parte da ilha.
Como herança, o sítio “Paraiso,” antes denominado “Santana”, coube a Fernando Silva e, depois, à família Travassos, pelo casamento de sua filha Ana Silva com o português José Travassos. O sítio “Paissandu” foi herdado por Jorge Silva, propriedade que passaria à família Pamplona pelo casamento do dono com Adelina Pamplona. As terras em frente à ilha das Pombas, chamadas, naquela época, de Paraguai—talvez uma referência à participação paraense naquela guerra—foram requeridas por Leocádio José da Silva, que, motivado por sua grande devoção à Virgem Imaculada, mudou o nome do Sítio para Conceição. A Casa Grande foi erguida em 1.864 e, anexa a ela, Leocádio Silva mandou construir uma Capela para a Santa, cuja licença foi concedida pelo Bispado de Belém e cuja bênção foi dada pelo Padre Castilho, Vigário de Benevides, no dia 10 de janeiro de 1.855.
Partidário ferrenho de Lauro Sodré, Leocádio Silva foi o chefe político da mais alta expressão na Baia-do-Sol, na segunda metade do século XIX. Casado com Maria do Carmo Silva gerou sete filhos, os quais mantiveram a propriedade na família: Leocádio da Silva Júnior, Izabel da Silva, Florêncio José da Silva, Mariana Augusta da Silva, Rita do Espírito Santo Silva, Antônia Paes e Silva (que, formada na Escola Normal, foi professora no primeiro Grupo Escolar do Mosqueiro) e Gabriel Arcanjo da Silva.
No extremo oriental da ilha, Tomaz Silva instalou-se nas terras que ficaram conhecidas como Fazendinha da Baia-do-Sol. Seu filho Rufino Antônio da Silva, cuja prole era numerosa, iniciou a povoação do lugar e foram seus herdeiros, Raimundo Nonato da Silva, Jorge Florêncio da Silva, Etelvina Camila da Silva e Maria Veneranda Trindade que, no dia 20 de setembro de 1.958, doaram à Irmandade de São Sebastião o terreno para a construção da nova Capela do Santo Padroeiro da localidade, substituindo a antiga erigida pela família e preservando a tradição religiosa que ali se instalara desde os primeiros tempos da ocupação. Aliás, as tradições católicas, entre as quais citamos a Festividade do Divino Espírito Santo na praia do Bacuri, chegaram com os jesuítas da Missão Myribira, responsável pela catequização dos indígenas da ilha do Mosqueiro.
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Capela de São Sebastião, na Fazendinha, em terreno doado pela família Silva no ano de 1.958.
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Capela do Divino Espírito Santo, na praia do Bacuri.
Antes da rodovia e da ponte ligando o Mosqueiro ao continente, a Baia-do-Sol ficava isolada do restante da ilha, levando sua vida própria e independente da Vila, situada no extremo sul, e seu desenvolvimento restringia-se, sobretudo, às atividades sócio-econômicas e políticas promovidas pelo clã com características feudais que ali se fixara desde os meados do século XIX, o que concorreu, de certa forma, para a preservação dos recursos naturais de grandes áreas daquela região.
Claudionor dos Santos Wanzeller