quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

NA ROTA DA HISTÓRIA: A URBANIZAÇÃO DO FAROL

Texto de Augusto Meira Filho

“O Sr. Fortunato A. de Souza Júnior conseguiu duas sortes de terras no lugar denominado “praia do Maandeua ou Chapéu-Virado”, medindo 460 braças de frente da cabeceira do lago ou igarapé Itaboca e fundos até o igarapé Muruyra. Fazia frente para a baía do Marajó. Acreditamos ser esse vasto terreno na área hoje compreendida pela Praia do Farol, lado sudoeste, mais tarde, interligado à do Chapéu-Virado. Realmente, entre a costa e a atual estrada da Bateria, existiu naquela baixada visível ainda agora, um igarapé que partia de leste para oeste. Além do mais, sabe-se que residiu no local por muitos anos um velho morador chamado Fortunato ou seus herdeiros. Sua casa era... certamente, a mais antiga construção do bairro. Aparece, curiosamente, Anselmo José Dias pedindo a legitimação de posse referente ao terreno chamado “Chapéu-Virado” com 259, 957 m² -- em um perímetro de 2.521 metros. Seu título foi expedido em 1898.”

“Na administração Abelardo Conduru que sucedeu à de Alcindo Cacela à frente da Prefeitura Municipal de Belém, o bairro do Farol, finalmente, teria seu grande padrinho. Toda aquela área da atual Praça do Farol, até quase ao Chapéu-Virado, onde se erguia – o Chalet de Guilherme Augusto de Miranda Filho, depois, Vivenda “Minhota” do banqueiro Sr. Cerqueira Dantas... – limitado pelo caminho da bateria e à praia, representava um dos mais sérios problemas para a Agência. Pantanosa (recordar o igarapé Itaboca, que estudamos), baixa e altamente palúdica, ninguém se atrevia a requerer lotes ali, em face do índice de malária que a região possuía, imprópria, portanto, para construções e residências.

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A PONTA DO FAROL (FOTO: A. M. FILHO, 1978)

Seguindo a obra, realmente importante, que Cacela havia executado na Vila, de proteção dos barrancos contra as marés, ainda agora existente, Conduru chamou a si, o preparo e a salvação de tão preciosa área, anexa, por assim dizer, ao Chapéu-Virado. Chamou e contratou sanitaristas e lhes entregou a recuperação dos terrenos alagados, mediante obras de profundidade.

Coube a Valério Konder e Periassu, assessorados pelo engenheiro Waldir Acatauassu Nunes da 6ª. Diretoria de Obras da Prefeitura de Belém, a solução técnica do problema. Canais de drenagem foram abertos, saneada a baixada de ponta a ponta e colocados os novos lotes, em condições de receber edificação, com frente para a praia. Fez Conduru uma arrumação completa, projetando, praticamente, um bairro totalmente utilitário para os que se interessassem em erguer suas vivendas na orla do Farol. Não foi fácil ao Prefeito convencer a população de que os serviços haviam sido coroados de êxito. Deu entrevistas, publicou exames e divulgou pela imprensa o mais curioso processo de urbanização já ocorrido em Belém e, sobretudo, no Mosqueiro. Provando a insalubridade do lugar, o Prefeito determinou a demarcação da área anteriormente infectada para sua venda. Dispôs em lotes residenciais fronteiros à praia com fundos na direção do antigo caminho denominado de bateria, mais tarde, quando ali se localizaria uma bateria-de-costa militar à época da guerra.

Concluída a fixação do loteamento, novamente, Abelardo Conduru mandou projetar por conta da Comuna prédios ou vivendas de três tipos diferentes: um menos dispendioso, outro em meio-termo e o último, maior e de melhores proporções. Logo – ainda sob a responsabilidade do executivo municipal – deu início à construção planejada, levando-a até a altura do primeiro lance de janelas, com fundações, baldrames e parte de alvenaria executados. Chegada a essa posição, o alcaide, sem qualquer constrangimento, oferecia às pessoas gradas e merecedoras do presente, isto é, que tivessem posses para concluir as obras, incluindo o terreno e mais a parte da construção já executada. Somente com esse modo ardiloso, apareceram pretendentes, acreditando nas palavras da autoridade e na eficiência dos trabalhos de engenharia sanitária que haviam, definitivamente, acabado com as febres da malária ativa que infestava tão belo lugar da Ilha do Mosqueiro.”

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Praia e bairro do Farol (FONTE: GOOGLE EARTH).

“Cedo cresceram, subiram as obras, bateram-se cumeeiras, a notícia espalhou-se venturosamente. Outros proprietários de terrenos nas vizinhanças iniciaram negociações e suas próprias casas-de-praia, muitas das quais ainda existem. Era de se ver a abertura da estrada, a melhoria dos transportes, na orla do rio, aproximando o “Farol” do Chapéu-Virado, a que, em última análise, aquele se incorporava. Deve-se, portanto, à gestão operosa de Abelardo Conduru esse notável melhoramento no Mosqueiro, tal como seu antecessor o havia feito na Vila.”

MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 58, 61

MOSQUEIRANDO: Agradecemos as visitas que você, amigo internauta, fez a este blog em 2010, prestigiando o nosso trabalho de pesquisa e compilação sobre a nossa querida ilha do Mosqueiro (Pará). Difundir conhecimentos sobre a ilha e manifestações artísticas e sócio-culturais do lugar é a nossa meta. Com o seu reconhecimento e incentivo, continuaremos a persegui-la. QUE DEUS NOS AJUDE – A MIM E A VOCÊ – NA BUSCA DE UM FELIZ E NOVO ANO!

O autor:

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Prof. Claudionor Wanzeller

Um comentário:

  1. Muito boa a reprodução de uma parte dessas praias do Mosqueiro. Temos uma casa, no Farol que, segundo consta, foi a moradia do prefeito de Belém, e teria sido construída em 1922. Portanto, essa vivenda, como eram chamadas, está completando 100 anos.

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