quinta-feira, 14 de outubro de 2010

JANELAS DO TEMPO: MOSQUEIRO JÁ TEVE CINEMA

Por Alcir Rodrigues

Pedro Veriano, crítico de cinema, escreveu o livro Cinema no tucupi (1999), cujo capítulo “Cinema em Icoaraci e Mosqueiro” trata do Cine Guajarino, o cinema que Mosqueiro perdeu:

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Cinema em Icoaraci e Mosqueiro

As vilas balneárias do município de Belém, Icoaraci (antes chamada Pinheiro) e Mosqueiro, tiveram os seus cinemas. Icoaraci teve dois: Ipiranga e Guanabara. O primeiro durou mais tempo. Exibiu na sua melhor fase os filmes da empresa Severiano Ribeiro, antes Cinematográfica Paraense Ltda. No fim de carreira, os do empresário Carneiro Pinto, dono do Cinema Argus, no município de Castanhal, considerado o “cabeça de circuito interiorano” (Carneiro fornecia filmes para diversas cidades do Pará e até do Maranhão, como Imperatriz). O Cine Guanabara foi utilizado por outro empresário, Nélio Pinto. Exibiu filmes em 35 mm e 16 mm. Por pouco tempo.

No Mosqueiro existiu o Guajarino, na Praça da Matriz (Vila). Fundado em 1912, ainda na fase da chamada “cena muda”, sobreviveu até 1976, quando regrediu à bitola amadorista (16 mm), exibindo faroeste italiano da firma que pertenceu a Hiran Bechara, dono do cinema do município de Marabá, depois a Manoel Teodoro de Miranda.

O Guajarino foi orientado por muitos anos pelo bancário Paulo Monteiro. Antes dele, pertenceu ao Sr. Bianor Carneiro, que o comprou do fundador, Pires Teixeira. Nos primeiros anos do cinema existia um trem, que o povo apelidava de “Pata Choca”, ligando o centro da ilha à Praia do Chapéu Virado. É interessante observar que a inauguração da linha férrea foi filmada por Ramon de Baños[1].

No dia 13 de dezembro de 1975, eu publiquei em A Província do Pará uma reportagem sobre o cinema de Mosqueiro. Disse, na ocasião, que havia público para uma sessão noturna diária e vesperais aos sábados e domingos durante muitos anos. Filmes como... E o vento levou e Os dez mandamentos produziam enormes filas e tornavam-se motivo de comentários da população. “―Não tinha televisão, a noite era monótona”, dizia Monteiro. “―As coisas foram mudando com as antenas de TV nos telhados. Chegaram as novelas e ninguém perdia um capítulo para ver um filme...”

Mas o Guajarino não foi o único cinema da ilha que disputa com o município de Salinópolis a frequência dos que procuram balneários em Belém. Em 1955 e 1957 eu mesmo montei um cinema para filmes em 16 mm num antigo mercado, no Chapéu Virado, que na época funcionava como escola pública (e voltaria a ser mercado nos anos 70). Como não havia energia elétrica suficiente, puxava um cabo do gerador do Hotel do Russo, próximo do local. As carteiras da escola funcionavam de poltronas. As piadas não falhavam: “―Eu depois de velho voltei à escola...”

A versão 55 foi a mais concorrida. Lembro de uma frequentadora assídua, a então Miss Pará, Gilda Medeiros. Ela se tornaria atriz do cinema nacional, fazendo filme com atores famosos como Alberto Ruschell (de O cangaceiro, versão 1953) e sob a direção de cineastas tarimbados como Fernando de Barros, um dos remanescentes da Cia. Cinematográfica Vera Cruz (SP). Um desses filmes, Riacho de sangue, ganhou distribuição nacional, e muitos anos mais tarde, longe de câmeras e roteiros, Gilda falou-me, com saudades, da produção.

Um episódio curioso que bem ilustra o que representou o cinema alternativo nas férias de julho, no Mosqueiro, aconteceu em 1957. Os filmes eram alugados em Belém de um representante da RKO Rádio, F. Aguiar & Cia. Havia uma programação traçada, mas era possível uma falha. O problema é que a cópia chegava pelo navio (não havia estrada ligando Mosqueiro ao centro de Belém) às 18h30 e a exibição tinha o horário padrão de 20h30. Quando estava anunciado o clássico King Kong, de Ernest B. Schoedsack e Merian C. Cooper, chegou, em cima da hora, O seu tipo de mulher, aventura policial com Robert Mitchum e Jane Russell. Eu tinha passado o dia orientando a colocação de um cartaz gigante, na porta do cinema, com o desenho de um gorila. Com a troca do programa, segui direto do trapiche, onde atracava o navio, para a escola-mercado. Cheguei às 19 horas e já havia fila. Muito depressa, arranquei o cartaz de King Kong e escrevi num pedaço de cartolina o título do novo filme. Quando terminei a operação, estava cercado por espectadores indignados. Pensei que, enfim, a mania de cinema ia me legar uma surra. Procurei explicar, mas a vaia não deixou. Corri para o jipe que me transportava nessas aventuras e fui para casa criar coragem para voltar às 20 horas. Voltei, mas não vi público. Aliás, não vi público daí em diante. A falta do King Kong deixou um saldo de descrédito. No último dia das férias (e o cinema só funcionava nas férias), exibi em duas sessões o desenho Alice no País das Maravilhas. Recepção morna. Foi o fim de um tempo. Nunca mais voltei com o projetor para o Mosqueiro. Dez anos depois, o próprio Guajarino encerrou suas atividades com as máquinas jurássicas de 35 mm vendidas. A fase posterior, que eu vi como pré-agônica, durou pouco. O quadro minúsculo da bitola tentou em vão ressuscitar um hábito. Mas nesse tempo a conversa, na vila, era sobre o filme da TV ou a novela das oito.

clip_image004 Nesta foto de carnaval, é possível ver-se, ao fundo, parte da fachada do saudoso Cine Guajarino!


[1] O filme curta-metragem, perdido, é Da Vila ao Chapéu Virado de trem, de 1912.

Referência: VERIANO, Pedro. Cinema em Icoaraci e Mosqueiro. In.___.Cinema no tucupi.Belém: SECULT, 1999, pp. 40-41.

Postado por PT de Mosqueiro em 08.10.2010.clip_image005

2 comentários:

  1. CINE GUAJARINO DE MOSQUEIRO

    Foi Lição de viver.
    Ali Houve todo Lutar.
    Muitas emoções a oferecer.
    A Cultura e todo o Transformar.
    Uma Infinita experiência.
    Pedro Veriano um Guerreiro.
    Vida em Abundância e Ciência.
    Cine Guajarino De Mosqueiro

    Heroísmo pra gente louvar.
    Ainda distante a Televisão.
    Todo o Fascínio e o encantar.
    Na fila o povo em agitação.
    O Esperto não podia faltar.
    Show de modernidade verdadeiro.
    Uma onda pra gente pegar.
    Cine Guajarino De Mosqueiro.

    Foi um Rio em nossa vida.
    Ali se formava um casal.
    Era uma coisa muito querida.
    O Cinema era fenomenal.
    Dava pra beleza destacar.
    Sempre um apresentar altaneiro.
    Era acordado a gente Sonhar.
    Cine Guajarino De Mosqueiro.

    Azuir, Oceanira e Turma de Amigos de Mosqueiro.

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  2. CINE GUAJARINO DE MOSQUEIRO NOSSO HOLLYWOOD

    Que beleza e que alegria.
    Nosso Cinema foi resgatado.
    Uma Sobre-vida de Magia.
    Pra nosso Mosqueiro Encantado.
    Pra gente fazer Canção.
    E Todos Sonhos de Amor Cantar.
    Pra gente Abrir o Coração.
    E por Mosqueiro se emocionar.

    O Cinema do Passado.
    Volta forte e vivo na gente.
    Com seu poder encantado.
    Despertando nosso amor pungente.
    Conosco em fascinação.
    Despertando Sonho e Simpatia.
    Guajarino o Cinema foi imensidão.
    E Hoje é Luz e Poesia.

    Todo Amor faz reviver.
    E o sonho faz-se realizado.
    Muita Paixão como um dever.
    E o Viver fica encantado.
    Vamos todos tocar tambor.
    E uma viola enluarada.
    O Cinema foi muito amor.
    Que esta de novo reavivado.

    Homenagem ao Pedro Veriano e ao Cine Guajarino que ele criou em Mosqueiro, e que hoje, basta lembrar ou tomar conhecimento, para e que a onda e magia do Cinema, se reaviva eternamente em nossos corações.
    Maior amor e Orgulho por nosso Povo e Terra de Mosqueiro.
    Abração Amigo para todos e em especial para o Professor Claudionor e a Nobre Bené, Amiga já de Muitas Gerações.
    Deus Seja Louvado

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