domingo, 21 de fevereiro de 2010

A ILHA DOS CABANOS

 

A ILHA DOS CABANOS

Se quiseres percorrer as sendas da História de volta ao passado, verás, no início do século XIX, a ilha dos morobiras ocupada pelos ribeirinhos, população mestiça, indioide, pobre, explorada, vivendo nas matas, às margens de rios e igarapés, em humildes cabanas cobertas de palha.

Se caminhares, no despertar da manhã, pela praia do Areião, talvez ainda possas ouvir, de mistura com o ruído das ondas, o clamor da batalha: sons de artilharia, palavras de ordem, gritos de dor e revolta, a respiração ofegante dos combatentes.

Mas, quem são esses homens entrincheirados nas areias da praia que defendem bravamente aquele pedaço de chão? Quem são esses heróis do povo humilde que combatem sem medo e rechaçam as tropas legalistas vindas da ilha de Tatuoca, no outro lado da baia?

Asseguro-te que esses valentes guerrilheiros são nossos avós cabanos, lutando contra o despotismo português, naquela manhã de 20 de janeiro de 1836. São cabanos os nossos avós, esses homens simples do Grão-Pará, esquecidos da Regência do Império, perseguidos no governo de Lobo de Souza, decepcionados com o presidente Antônio Malcher, descontentes com Francisco Pedro Vinagre, que aceitara ser substituído pelo representante imperial no governo da Província.

São nossos avós esses bravos paraenses que, no ano anterior, revoltados com a perfídia, o autoritarismo, as injustiças e as perseguições do Marechal português Manuel Jorge Rodrigues, expulsaram-no de Belém para a ilha de Tatuoca, na baia de Santo Antônio, e que, nesse momento, lutavam tenazmente para defender o governo cabano de Eduardo Angelim.

Se usares os olhos da imaginação, ainda verás a alegria desses homens pela momentânea vitória. Entretanto, eles sabiam que não poderiam ali permanecer e, costeando a ilha, chegaram ao Chapéu Virado, reunindo-se aos cabanos ali sediados.

No outro dia, 21 de janeiro, aconteceria a invasão da ilha. O 2º. Batalhão de Caçadores, comandado pelo Major Manuel Muniz Tavares, desembarcou na praia do Chapéu Virado, sob a proteção de dois navios de guerra, “Independência” e “Brasília”, além de outras embarcações de pequeno calado.

Durante horas, os rebeldes combateram bravamente, porém não puderam resistir ao poder de fogo e à perícia bélica dos legalistas. Abandonaram, então, as trincheiras e fugiram para as matas, onde foram perseguidos por vários dias.

Ocorreram algumas escaramuças no interior da ilha e muitos cabanos morreram. Outros, entretanto, conseguiram chegar à cidade de Vigia, no continente, atravessando a baia do Sol, embora as embarcações inimigas, e pelo Furo das Marinhas, tentassem impedir-lhes a fuga.

Caro leitor, que o sangue dos bravos cabanos, nossos avós, derramado no solo mosqueirense, seja a inspiração nossa para inúmeras lutas que precisamos travar em nossa ilha: lutas contra a miséria, a fome, o desemprego, o preconceito, a exclusão, a proliferação das drogas, a violência e tantos outros problemas sociais! E que as nossas armas sejam a educação, o bom exemplo, o proceder honesto, a vontade política de nossos governantes e autoridades e, sobretudo, ações coletivas com o engajamento de todos nós.

Um comentário:

  1. Texto maravilhoso, Claudionor! Isso sem contar o rigor dos dados...
    Mosqueiro precisa de quem lhe possa (re)escrever sua história, nossa história, de nossos ancestrais, o que vem sendo feito, com seriedade, por ti. Continue...

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